quinta-feira, fevereiro 25, 2010

Discussões no Congresso

É emocionante acompanhar como a difusa oposição argentina está se empenhando em acabar com a maioria automática que Cristina Kirchner estava acostumada. Mesmo dividida em um amplo leque ideológico; socialistas, radicais, partidários de Macri, de Carrió, de Cobos, liberais, peronistas dissidentes, leais à Menem, à Reutemann ou à Duhalde; mais diferentes entre si que entre cada um e o peronismo-K, aproveitaram a derrota eleitoral dos Kirchner e selaram um acordo entre si, impedindo que os K tivessem maioria em nenhuma comissão em nenhuma das duas casas do Congresso.

Não é obstrução. A presidência das comissões de gestão, como constituição ou orçamento, serão dos K; as de fiscalização, serão da oposição, como convém a todo regime democrático. O que se está impedindo não é o governo Cristina Kirchner e sim que matérias cheguem ao plenário sem discussão nas comissões.

Numa situação normal, qualquer matéria que chega em plenário já teria alcançado o consenso possível. No entanto, o estilo K de governar não é o da busca de consensos e sim o do confronto e da intimidação. Foi exatamente esta forma de governar que conseguiu unir a oposição.

A oposição não marchará junta em 2011 na sucessão de Cristina, já afirmaram isso e já se sabe quem serão os candidatos. No entanto, para garantir o espaço democrático se uniram e agora o governo terá que negociar com o Congresso.
Acho interessante quando o Parlamento ocupa o noticiário de política. Obama é um presidente carismático e personalista e mesmo assim as discussões no Congresso pautam a agenda política norte-americana. Acredito que a Argentina seguirá o mesmo caminho.

Oxalá a renovação do Congresso brasileiro em outubro traga a discussão para cá. Você já reparou que das bandeiras que Lula mais gosta de ostentar, nenhuma é lei do Congresso? São todos atos do executivo ou decretos.

terça-feira, fevereiro 23, 2010

O tempo de Maringá não é o tempo de São Paulo

Com certeza o tempo de Maringá não é o tempo de São Paulo, sempre fico com a impressão que a ação lá demora mais para acontecer. Até o imprevisto e o temporal tem sua formação mais demorada e quando ocorrem, ocorrem numa intensidade maior que aqui em São Paulo.

Lá em Maringá não existe a urgência daqui, o que permite que tudo se encaixe no seu devido tempo. A chuva aqui tem que cair e cairá com o arranjo que estiver disponível, com o que for possível, enquanto lá, ela acontece, quando todos seus elementos se encaixarem naturalmente.

Quando chego em Maringá minhas urgências não encontram circunstâncias e quando surgem as circunstâncias não há mais urgência e me sinto acelerado, um pouco angustiado por não interferir nas circunstâncias, já que estas simplesmente acontecem e me levam. Existe uma inércia do tempo que se sobrepõe ao banco que fecha, à loja que abre ou ao dia que rende.

O primeiro dia depois de Maringá é a afirmação do ser paulista. Volto a pelejar com o dia, a tentar extrair o máximo dele, a otimizar caminhos e intenções, a me admirar do quanto fiz render o dia; é uma mudança frenética das circunstâncias forçando seu encaixe. Vendo a chuva acontecer.

Chegando em casa, telefono para Maringá e o tempo da chamada se sobrepõe às duas realidades, tudo se encaixa naturalmente e com urgência, abarcando os dois mundos. É hora de dormir.

sexta-feira, fevereiro 05, 2010

Bons Costumes

Pelo que eu entendi do título original, o filme poderia se chamar “Virtudes Fáceis” e aí ele faria bem mais sentido. Há virtudes que não são fáceis de se ter, que levam você a situações difíceis, que em determinadas situações são até condenáveis pelos outros, mas não são vícios, são virtudes. No entanto, há virtudes fáceis, que provocam tanto orgulho que acabam sendo utilizadas como vício.

Acho que é isso que eu entendi do filme, achei bem interessante como uma virtude que sempre admirei como o bom convívio social, se utilizado em demasia pode encobrir muita maldade, hipocrisia, tudo envolvido nos Bons Costumes da tradução para o português.

O filme se passa nos anos 20/30, entre guerras, que por si só já é um motivo para me levar ao cinema. Conta a história de um rapaz inglês que conhece uma americana “moderna”, casa-se com ela e a leva para a casa de seus pais numa propriedade rural na Inglaterra. Ali a modernidade da moça (e da sua origem) se contrasta com o conservadorismo da sua sogra e da comunidade. Bem, o fato de uma mulher urbana e moderna se sujeitar, por amor, a uma vida no campo num ambiente totalmente deslocado, já mostra que esse amor que a levou até lá não é uma virtude fácil. No entanto, o desenrolar da história é que num ambiente onde se presa o bom costume, ou a virtude fácil, virtudes maiores não são vistas com muita simpatia e se tornam presa do bom costume agora travestido em vício.

O interessante é o papel do pai da família, que, veterano de guerra, tem um choque radical com o mundo tal qual a moça americana, e interessante ver que talvez o background de bons costumes no qual fora criado, ao se ver em contato com outro mundo, só lhe trouxe a apatia, enquanto à moça, a ousadia.

Nossa, relendo parece que o filme é bem chato, não é. É uma comédia muito interessante, um humor inglês e tem a cena de tango mais bonita que eu já vi (muito melhor que Perfume de Mulher).