domingo, março 07, 2010

Lugar de mulher é na Revolução!

Odeio estes clichês políticos, mas o do título é um que me agrada muito. Eu realmente acho que a atuação da mulher na busca dos seus direitos e de igualdade é muito mais revolucionário que a atuação dos revolucionários.

Ao contestar uma ordem estabelecida de valores culturais a mulher é pode ser capaz de ser modificadora de grandes forças da sociedade. O combate ao machismo ou sexismo na verdade é um combate à própria estrutura econômica e social que conhecemos, sem forçar a barra na imagem de que tudo é fruto do "econômico"; mas reconhecendo que atualmente o combate de classes (que é econômico) se dá em frentes como o machismo, a homofobia e a luta por uma economia solidária e ambientalmente correta. Quero dizer que como a própria estratificação social camuflou o conceito de classe antagônica, diluindo no imaginário e na força; o machismo é transversal, atravessa burgueses, proletários e todos os seus estratos e ao se combater o machismo se põe em xeque todo o sistema de valores e na consequência o econômico.

Quando a mulher exige que seus direitos como mulher seja respeitado no trabalho, além de evidenciar que o mundo do trabalho está baseado no trabalho masculino, ela liberta também impressões consolidadas sobre o próprio trabalho. Quando busca seu papel na política, idem. O mesmo quando busca a liberdade de ação sobre seu corpo. Desta forma, hoje, a luta pelo aborto, ou pelo divórcio rápido (que foi aprovado pelo Senado e ninguém nem comentou nada) acaba tendo uma energia maior do que uma greve, já que ela envolve toda a sociedade.

O caminho para uma sociedade mais justa, mais democrática e mais tolerante está umbilicalmente ligado à maior participação das mulheres na sociedade, tomando consciência dos seus direitos. Que as mulheres não se deixem cair na armadilha da conformação com os poucos direitos adquiridos, ou numa visão romântica dos tempos anteriores à sua emancipação. Existe muita coisa ainda a ser buscada como a igualdade de salários, uma jornada de trabalho compatível com sua condição de mãe, a melhor divisão dos trabalhos domésticos, o fim da violência contra a mulher que ainda persiste e principalmente pelo respeito ao direito de ser mulher, seja o ser mulher do jeito que ela quiser (ainda defendo a Geyse, tanto o ato que a deixou famosa, como o que ela fez com a fama são exemplos claro de machismo que ainda grassa na nossa sociedade).

Desejo então à todas as mulheres muita consciência de seus direitos e coragem para lutar por eles. Feliz dia internacional das mulheres!

sábado, março 06, 2010

Cada coisa em seu lugar e a seu tempo

Conversando com Guilherme sobre como gosto de escutar um disco na sequencia em que as músicas foram postas no álbum, lembrei-me de uma entrevista do Truffaut sobre Domicílio Conjugal, onde ele diz:


"Quando Jean-Pierre Léaud vive uma aventura com uma japonesa, sua mulher toma conhecimento, e quando ele volta à casa, abre a porta e sua mulher está no fundo do apartamento vestida de japonesa. Eu sabia que as pessoas ririam, então faço-o avançar no cômodo, faço um travelling sobre ela e, quando passo a um close sobre ela, o público percebe que há uma lágrima no seu rosto, então o riso é bloqueado e as pessoas sentem vergonha de ter rido (...)"


Pois bem, guardei a ideia porque achei tão fantástico que um diretor pensasse nisso, que comecei a respeitar mais as sequências. Talvez a maioria das vezes não tenham tanto significado, mas lembrar-me do quanto me senti mal com a cena e saber que o diretor do filme pensou microscopicamente nesse sentimento que eu teria, me deixou mais fissurado pelo Truffaut.

Aliás, sabendo que a cena é sobre adultério e lendo que ele quis que as pessoas que riram se sentissem mal, pode parecer uma posição muito conservadora para quem foi personagem no maio de 68, no entanto, na mesma entrevista, ele fala sobre o adultério.


"... quando falamos de adultério, não conseguimos ser engraçados, a não ser que mintamos, como em certas comédias americanas. Tratado com um certo realismo, o adultério é forçosamente triste"


Lembrando do baque que é assistir "Um só pecado", esta questão talvez não seja conservadorismo, e sim um ato extremamente revolucionário ao recuperar um valor não pela sua tradição, mas pelo seu humanismo.

Fiquei com estas duas coisas na cabeça, a importância da sequencia e a tristeza do adultério. Enfim, acho que com a meia-idade chegando, considero muito ambas.