sábado, março 28, 2009

Nova Brasil FM

Depois de quase 1 ano de São Paulo descobri a Nova Brasil FM. Está tocando agora no rádio, e já tocou o dia todo enquanto estive em casa. Que sensação estranha, meio nostálgica da vida campineira. Essa rádio não combina com São Paulo, combina com Campinas, seja a Campinas no climinha Unicamp, seja a Campinas do Cambuí. Aquela coisa meio apartamento de solteiro ou recém-casado, nível universitário, na labuta do dia-a-dia, classe média, ordinary people!

Acho estranho falar de vida campineira. Na verdade são alguns precipitados de fatos, acontecimentos, sentimentos, emoções e omissões boas, combinadas numa cidade sui generis que dá uma sensação boa de ter vivido lá. Conheci tanta coisa nessa fase! Fase transformadora, assim é a vida campineira que me refiro: uma mistura de Panetteria di Capri com a Luísa, lagoa da Unicamp, trevos super-rápidos, parati do Alfredo, biblioteca do IEL e Cine Paradiso. Discussões acaloradas sobre política, educação e música. Li o Quarup, o Crepúsculo do Macho, conheci F.Scott Fitzgerald, aprendi a ouvir Beatles e Legião Urbana.

Mas Nova Brasil FM é um acontecimento, merece um post! E o mais incrível: enquanto escrevi este post, já tocou “O dia em que a Terra parou” e a Ana Carolina já cantou duas vezes!

É isso aí, moderna e brasileira!

quarta-feira, março 25, 2009

Cordilheira - Daniel Galera

Pode parecer um motivo bem absurdo o porquê de que peguei este livro na biblioteca. Na verdade foram dois motivos. O primeiro é que o autor tem minha idade e não costumo ler gente viva. O segundo é mais banal ainda, o romance se passa em Buenos Aires, o que me fez lembrar muito um gallego muito engraçado que conheci no albergue e me fez percorrer um circuito Borges e terminei num show de tango fantástico no Café Tortoni.

Na verdade a graça do livro está em mostrar a facilidade com que incorporamos personagens. Sempre lembro de uma frase que diz que o homem em sua história percorre por si só todos os caminhos de sua civilização. Numa civilização que criou e cultivou o individualismo (sim, somos ocidentais, periféricos, mas ocidentais) e principalmente após o Romantismo, temos uma gama enorme de personagens para nos guiar, nos fazer refletir, para absorver e absolver.

Podemos trocar de personagens ao sabor dos acontecimentos e num mundo de pacotes CVC, Azul e Bed and Breakfast até podemos trocar de cenários possíveis.

E assim o universal se dissolve em personagens, alguns bens construídos e outros clichês, alguns trágicos e outros dramáticos; arquétipos de inúmeras teorias. Tão diversos e tão difusos que até podem se reduzir ao indivíduo. Nosso próprio personagem que construímos.

Há momentos que o charme do livro está na previsibilidade. O personagem mais autêntico é aquele que a gente pode encontrar no trabalho, no metrô e que por não se envolver em nenhuma trama sinistra ou intelectualóide, se apresenta sem máscaras, ou somente com a máscara da modernidade.

Sou um péssimo crítico. Analiso sem estrutura, sem prestar atenção nas frases. O livro vale ser lido e o título é fantástico já que Buenos Aires não tem Cordilheira e a Cordilheira é também um personagem a ser incorporado.

segunda-feira, março 23, 2009

Subúrbios

É mais ou menos o que me acontece quando vou a Jundiaí de trem!

Revelação do subúrbio
Carlos Drummond de Andrade

Quando vou pra Minas, gosto de ficar de pé, contra a vidraça do carro,
vendo o subúrbio passar.
O subúrbio todo se condensa pra ser visto depressa,
com medo de não repararmos suficientemente
em suas luzes que mal têm tempo de brilhar.
A noite come o subúrbio e logo o devolve,
ele reage, luta, se esforça,
até que vem o campo onde pela manhã repontam laranjais
e à noite só existe a tristeza do Brasil

Bem, não chego lá de manhã nem vejo laranjais, e ai de quem falar que Jundiaí é subúrbio! É urbe, com seus próprios subúrbios!

domingo, março 22, 2009

Feliz Dia Internacional das Mulheres (atrasado)

"O terceiro me chegou
Como quem chega do nada
Ele não me trouxe nada
Também nada perguntou
Mal sei como ele se chama
Mas eu sei o que ele quer
Se deitou na minha cama
Me chamava de mulher
Foi chegando sorrateiro
E antes que eu dissesse não
Se instalou feito um posseiro
Dentro do meu coração"


Numa das das conversas de bar mais interessante que já tive, afirmei com tanta convicção que esta parte de Terezinha era a maior expressão de feminilidade, e que isso reforçaria ainda mais o papel a Maria Bethânia como um símbolo do feminismo (eu sei, a letra é de Chico Buarque, mas ela cantar é simbólico). A terceira parte é a mulher plena, superada o pai e o irmão (agora fiz uma ligação com a cantiga). A terceira parte é a mulher real, realizada.


Adoro esses conceitos dicotômicos, e como o feminino e o masculino são pólos que se completam e complementam, mostrar a mulher dentro da relação com um homem é de um feminismo fantástico porque não passa pela masculinização da mulher que muitas feministas querem.


A mulher tem que ser mulher, e recriar seu espaço no trabalho, no amor, no sexo, no mundo moderno, na diferneça entre outras mulheres, na igualdade entre elas, em toda sua difusão e todo o seu coletivo.


Então no dia internacional das mulheres eu desejo a todas elas que sejam mulheres com toda sua plenitude, buscando todos seus direitos mas sem deixar de serem mulheres. Quero vê-las ganhando igual aos homens, trabalhando em casa o mesmo que eles, modificando jornadas e regras para que exerçam a maternidade como mulheres modernas.

Feliz Dia Internacional das Mulheres!

Como transformar Franco da Rocha em Puerto Madero

A proposta é simples. Como para tudo, basta um bom projeto e uma boa intenção. É necessário focar nas semelhanças, adaptar as diferenças e consegue-se uma reprodução de um projeto sucesso.

Franco da Rocha foi fundada ao redor de uma estação centenária. A estação precisa ser reconstruída para atender a demanda e adaptar-se a lei de acessibilidade; enquanto a estação centenária precisa ser preservada, uma vez que é patrimônio histórico do período áureo do café.

A relação entre ambas é evidente: o porto abandonado que trouxe o boom imobiliário a uma cidade tida como decadente também era do período áureo da Argentina exportadora de carne e, assim como Franco da Rocha, também estava próximo do centro da capital argentina.

A boa intenção se uniria com o bom projeto numa passarela Calatrava atravessando a faixa ferroviária com harmonia, no lado norte da estação, num prédio restaurado poríamos um Outback, no lado sul, um ateliê de xilografias. Num segundo momento o mercado imobiliário de Franco da Rocha iria inflar. As casas seriam substituídas por lofts e apartamentos com varandas gigantescas. Seria cool morar em Franco da Rocha. Em frente a estação uma escultura da Tomie Othaka.

Estaria aberto o círculo virtuoso, em menos de 10 anos Franco da Rocha seria um Tatuapé mais sofisticado, com um shopping ainda mais bonito que o Anália Franco.

Como é bom saber que a modificação do espaço urbano, requalifica as pessoas, suas atividades, seus deslocamentos. Uns chamam isso de progresso, outros de fascismo, muita gente chama de planejamento.

Onde vamos adaptar o transmilênio?

terça-feira, março 10, 2009

Frost/Nixon e como a política pode ser interessante

As discussões são racionais num ambiente de escolhas irracionais. As leis regulam a vida de cidadãos que cada dia mais interferem, por suas ações e omissões, na vida dos outros. Inúmeros interesses difusos em pessoas cada vez mais diferenciadas e a resolução destas inúmeras variáveis se dá em eleições onde uma música, uma gota de suor ou uma frase decidem tudo.

Não tem como não achar política uma das coisas mais interessantes de nossa sociedade. Num discurso choroso, Alceni Guerra aprovou a licença-paternidade, mudando o voto de um congresso todo que achava ridícula a idéia, indo contra economistas que previam perdas astronômicas com a medida que achavam populista. Ganhou a batalha parlamentar e as ruas. Transformou a licença-paternidade em cláusula pétrea que nunca mais sairá da lei.

Nem tanta sorte teve Fernando Henrique que em sua despedida do Senado fez uma profunda reflexão sobre o país, seus desafios, os vícios autoritários e sebastianistas que tínhamos e que deveríamos enfrentar para alcançar o desenvolvimento pleno e acabou eclipsado por seu sucessor sebastianista, autoritário, herdeiro por opção da Era Vargas que Fernando Henrique pretendia encerrar no país.

Embora a corrupção e os desmandos deixem a sensação de um desprezo geral pela política. As diferenciações entre as classes, as novas demandas que surgem todo dia vindas de uma nova forma de sociedade que se reconstrói sobre antigos tabus e novas tecnologias, não deixam outra arena possível para a equalização destas demandas se não a política representativa e partidária.

Gabeira já alertava isso há algum tempo, desde “O que é isso companheiro?”, sobre como estas demandas surgem e têm que ser conduzidas dentro de uma vida política cada vez mais participativa e igualitária.

Sou muito otimista em ver como a sociedade reage. Abortos, divórcios, diversidade sexual, machismo, feminismo e a crise influenciam a vida de todos e tornam parte dos discursos dos políticos que nos representam. Com mais transparência e mais movimentos sociais voluntários conseguiremos construir cada vez mais uma democracia plena, que entre idas e vindas, mostra-se cada dia mais forte desde a redemocratização.

Não há espaços para maniqueísmos. Neste ponto entra Frost/Nixon. Ali está representado um duelo de emoções sobre razões. Se Nixon se envolveu até a alma em Watergate e transgrediu a lei em busca de seus objetivos, foi punido, pois levou sua razão além dos limites das razões alheias. Mas cabe lembrar que dois anos antes fora eleito em votação incontestável e seis anos depois da renúncia, Reagan, com outra carga de emoção (emoção que Nixon não tinha) e somando outros interesses (religiosos), trouxe de volta, revisitadas, as razões que levou Nixon ao poder em 72 e que o tirou dele em 74.

Isso quer dizer que os americanos são estúpidos? Somente os autoritários e os que se consideram vanguarda podem afirmar isso. As demandas são móveis e reais, se unem e se separam ao sabor dos acontecimentos da vida real. Ao bom político cabe canalizá-las, conduzi-las, convencendo seus eleitores que estas demandas móveis estarão ali bem representadas. Para fazer isso, muitas vezes será utilizada a emoção, mas quem participa da emoção a vive, tem demandas e a aceita. Não existe o povo estúpido que não sabe escolher. (idéia esta que alguns têm que me deixa receoso)

Adorei o filme!

Qual é a próxima rua?

O menino adorava mapas. Ficava fascinado quando via um, era capaz de identificar qualquer lugar num mapa certo. Quando não podia, mentia. Mentia com critério, como depois aprendeu a justificar. O vínculo com o pai passou a ser geográfico. Um estimulava o outro sobre o nome das cidades, dos rios, das ruas. Enquanto as ausências sempre foram próximas, as proximidades eram bem distantes. Conheciam-se mais por saberem como chegar a qualquer lugar do que sobre o que acontecia na vida de cada um.

Eram os únicos que se mantinham acordados em todas as viagens. Enquanto um dirigia, o outro se orientava; em qualquer estrada, em qualquer cidade. A cumplicidade só poderia acontecer quando os outros adormeciam. Neste momento adormeciam também todos os fatores de estranhamento.

Qual o nome da próxima rua? Um provocava o outro e se sentiam felizes ao saber que o outro saberia a resposta. Além do sono dos outros, naquele momento não havia superação edipiana ou qualquer forma de conflito de gerações. Eram cúmplices.
As viagens diminuíram, assim como o sono dos outros. Os papéis no carro mudaram e os meios de transporte também. O menino cresceu e mesmo em cidades onde o pai jamais esteve, quando acerta o nome de uma rua ou estrada, reforça a lembrança. Vínculo que talvez não seja mais geográfico, não freqüentam mais a mesma geografia. Os nomes das ruas agora são o confronto das gerações.