sábado, janeiro 31, 2009

Como fazer amigos e influenciar pessoas

O bom das férias são os cursos de férias. É a possibilidade perfeita de se romper toda uma série de impedimentos que limitam a pessoa da sua ascensão. O sucesso não ocorre por acaso, a gente precisa construir nosso network, um bom círculo de amizades, mentalizar o sucesso, esse é o segredo.

Pensando em sua vida, Lucas deixou sua casa às 6 da manhã vestindo sua melhor roupa. Estagiava na área de controle orçamentário de uma empresa de autopeças. E pensar que o governo lhe tirou duas horas de trabalho, e de salário. Estaria acordando mais cedo se ainda fizesse as 8 horas, mas ganharia mais, muito mais. O trem estava cheio como sempre, se posicionou ao lado da porta, onde ficava escondido do fluxo e tinha uma visão geral do carro. Olhava para as pessoas com ar de superioridade.

Era um rapaz bonito, a musculação tinha lhe dado um porte mais altivo. Como era alto, chamava a atenção dentro do trem. Suas roupas também se destacavam pela forma de dobrar as mangas da camisa, a calça ajustada, os sapatos. Embora nunca tivesse morado em outro local, não se sentia parte dali. Talvez o contato diário com a cidade cosmopolita lhe fazia refletir sobre o tipo de vida que queria e comparar com a que levava.

A ascensão era uma questão de tempo. Tinha porte, era bonito, inteligente. Fazia faculdade, conseguia economizar para ter roupas melhores, cortes de cabelo modernos, era uma questão de oportunidade e ele estava pronto para quando ela surgisse. Empenhou-se e seu inglês estava melhorando. Se fosse efetivado na fábrica, ganharia uma bolsa para fazer inglês numa escola melhor. Triste era pensar que poucos estagiários foram efetivados. Sentia-se pressionado pelas estatísticas das efetivações e por isso tentava ser o melhor dentro do seu departamento. Controle Orçamentário. Triste pensar que o sucesso passasse por lugar tão desanimador. Contadores aposentando lhe mostravam as planilhas do orçamento, e Lucas lera que a gestão de custos era a chave do sucesso das empresas. Sabia que estava no lugar certo!

Saía as 4 e meia. Maldita Lei de Estágios que o fazia enrolar pela cidade por quase duas horas e meia para ir a faculdade ou ao curso de férias. Sua faculdade ficava perto da estação de trem, o caminho do trabalho para a faculdade era feio, mas em compensação sua volta era facilitada. Estava adorando o curso de férias porque fazia com que freqüentasse um lado da cidade que jamais freqüentou. Curso de férias em escola de bacana. Era exatamente isso que precisava para achar as oportunidades. Até o caminho inspirava sucesso. Uma seqüência de prédios maravilhosos, bares, restaurantes. Lera que nesta subprefeitura existia a maior taxa de solteiros da cidade. Eram pessoas como ele, era o lar dos bem-sucedidos.

Entrou na faculdade para o curso “O pensamento estratégico”. Que ótimo estar aqui, pensou. Sentou-se, riu-se do lanche patrocinado. Ninguém ali estava pra brincadeira. Puxou papo, e uma a uma as pessoas foram falando suas origens e suas aspirações. Estava radiante. Pena ter esquecido seus cartões de apresentação. Podia se orgulhar, como alguns ali, morava em um bairro distante, estudava numa escola que não era como aquela, mas também não era das piores e ainda trabalhava numa grande empresa, com possibilidades de efetivação. Olhou para o lado e viu Arnaldo, que como ele também se preparava para o sucesso. Nesta semana de curso de férias tornou-se amigo de Arnaldo, e de maneira bem cúmplice combinaram a baladinha de sexta que seria o encerramento de uma semana de glória. Que bom que o trem funciona a partir das 4, pensou.

Comentando notícias

A escolha do PSDB

Sabe quando você lê uma notícia e fica feliz? Aconteceu comigo nesta sexta-feira quando li que o PSDB desembarcara da campanha de Sarney para presidente do Senado. A opção Sarney seria mais uma decepção que não gostaria de passar. Por sorte, o bom senso dos 13 senadores do PSDB (embora tenha alguns senadores neste grupo onde não consigo ver bom senso e que por mim deveriam estar fora do partido, como Álvaro Dias e Papaléo Paes) prevaleceu.

Votar em Tião Viana, embora seja do PT, não é nenhum descalabro. O PT de Tião Viana, não é o PT de Ideli Salvatti. Perde-se mais ao ficar ao lado de Sarney. Sem contar que é uma opção pragmática fantástica. No momento que o governo Lula tentava esconder a candidatura Tião Viana para apoiar Sarney. Mostra-se o lado incoerente do governo Lula que simplesmente deixou a candidatura Tião Viana a míngua.

Considerando o histórico desta legislatura, duvido que Sarney não ganhe. Agora veja um outro ponto. O PSDB decide apoiar a candidatura do PT para presidência da casa, acredito que somente haverá uma traição, no máximo duas, entregará 11 votos na pior das hipóteses, e o PT? Haverá uma disputa interessante na comissão de relações exteriores. Fernando Collor (PTB-AL) versus Eduardo Azeredo (PSDB-MG). Em quem o PT votará? O voto da Ideli Salvatti eu arrisco!

Aos amigos tudo, ao inimigo, a Lei!

Não entro no mérito da discussão do asilo de Cesare Battisti. Mas veja bem, o governo se negou a dar ao asilo no CONARE (sim, o governo Lula votou a favor da extradição). Tivesse feito isso na época, Battisti estaria livre. Não fez, o caso foi parar no Supremo. Numa canetada, o ministro Tarso Genro deu-lhe o asilo. Muito bem, o ministro está em Belém, ganhou honras de herói no Fórum Social Mundial, mas Battisti está preso sob o risco do Supremo extraditá-lo. Que dificuldade em ser coerente!

Quando pus ao inimigo, a lei, pus para lembrar a extradição dos cubanos. Que foi um caso muito mal contado, tal qual a volta atrás no caso Cesare Battisti. Mas aqueles não tiveram um Luiz Eduardo Greenhalgh para que o caso chegasse ao Supremo.

segunda-feira, janeiro 12, 2009

Um argumento pró-Israel

Não é fácil, dentro de tudo que se é noticiado, principalmente pelas imagens da guerra, defender a ofensiva ampla de Israel na faixa de Gaza. No entanto, quando todos os interessados tentam manipular a história para se justificar em suas posições, somente uma dose de pragmatismo e de percepção da realidade, pode construir uma estratégia eficiente para pacificar a região.

Esse pragmatismo necessário não passa de maneira nenhuma pela acusação de um holocausto palestino, nem em culpar a criação do Estado de Israel pela instabilidade do Oriente Médio. Israel é um Estado consolidado e isso é fato, lá moram quase 8 milhões de pessoas, árabes e judeus, e pensar numa nova diáspora não é factível, embora o Hamas, o presidente do Irã e da Venezuela pensem que isso seja possível. Da mesma forma, a construção de um Estado Palestino e existência dos palestinos não pode ser ignorada.

Desta forma, considerando a existência dos dois povos, a paz só pode vir por reconhecimento mútuo. Aí entra o Mapa da Paz proposto pelos Estados Unidos, onde a paz seria alcançada por vários pontos como a retirada dos assentamentos judeus nos territórios ocupados, reforma do Estado Palestino, criando um ambiente de confiança mútua para que se avance sobre os temas mais espinhosos como o status de Jerusalém, os refugiados, entre outros assuntos.

Não existe essa paz sebastianista que Lula deseja, existe sim uma série de compromissos que podem vir a terminar com as hostilidades, nada mais. Para que seja alcançado, deve ser referendado pelos dois povos.

Considerando que a paz no Oriente Médio passa pelo reconhecimento mútuo e por avanços em alguns pontos que possa trazer o entendimento, a estratégia do Hamas é contra o Mapa da Paz. Ao não reconhecer o Estado de Israel, rompe com o pragmatismo necessário; ao atacar o Estado de Israel com foguetes e suicidas, impede a construção das pontes necessárias para se avançar no plano. Sobre esta ótica, a ação de Israel, enfraquecendo o Hamas pode trazer novamente as condições necessárias para que se siga um cronograma necessário de ações para o fim da violência.

Parece contraditório que uma ação tão violenta possa abrir o caminho novamente das negociações, no entanto, o impasse gerado pelo Hamas significava o abandono total deste caminho. A estratégia é arriscada, mas se executada com outras aberturas frente aos palestinos da Cisjordânia e um fortalecimento do ANP, podemos voltar ao caminho.

Deve-se lembrar sempre que Israel é uma democracia, assim como os Estados Unidos, e que o contraditório ali é aceito, inclusive com deputados árabes no Knesset (infelizmente, acabei de ler a notícia que os partidos árabes estão fora das eleições legislativas de fevereiro, mas os árabes nos partidos tradicionais podem concorrer). O que se deve evitar a todo custo, é que a radicalização dos palestinos provoque a saída de Israel do caminho da paz.

Nenhuma outra nação aceitaria ser bombardeada tal qual Israel se submeteu frente aos palestinos de Gaza e do Líbano, se não estivesse no caminho da paz. No entanto, a hora de agir aconteceu, e aconteceu para evitar o pior que seria a radicalização do Knesset, fazendo retroceder os acordos numa etapa pré-Oslo.

E a esquerda latina??

Veja bem, é vergonhosa a expulsão do embaixador de Israel de Caracas. Chavez cada dia mais fica longe da realidade, joga para a platéia, num antiamericanismo irresponsável, causando a alegria de outros alienados no continente todo, incluindo aí o PT. Talvez, esta neoesquerda latina veja com bons olhos os fundamentalistas, afinal, assim como o Irã e o Hamas não aceitam o contraditório. O PT gosta tanto da Era Vargas, que talvez queira seguir pelo antissemitismo do mesmo.