sexta-feira, outubro 30, 2009

O que é felicidade?

Péssima pergunta a ser feita no último dia útil antes de voltar ao trabalho. Boa pergunta pós-filme Na Natureza Selvagem.

Hoje para mim, é poder ler e ouvir boas coisas (e algumas más também); observar cidades, esquadrinhando-las, tentando entendê-las. Ter boas companhias para falar alguma besteira, piadas bobas e discutir algum assunto sério (e polêmico por que não?). Ter uma ótima companhia para fazer essas mesmas coisas com mais intimidade e carinho, permitindo um ponto de fuga Romântico ou uma ilusão e tentar não levar um estilo de vida Romântico. Ter algum contato com o divino também é importante, não importando a natureza deste contato.

Considerando que vivo, trabalho e tiro férias pensando e observando cidades e tenho as boas e a ótima companhia, apesar de me acharem triste, eu acho que tenho um potencial latente de felicidade, ou melhor acho que muitas vezes a alcanço.

O que me falta é constância!

Na Natureza Selvagem

Talvez a tenacidade e a capacidade de reorganização deste imenso clichê chamado capitalismo trouxe consigo não a revolução que seria sua superação, mas uma força com igual tenacidade e capacidade de reorganização que é o Romantismo e seus mitos antigos e reformados.

Não há como não pensar em Romantismo ao ver uma história de um jovem que foge de sua vida a procura da “verdade” e da “felicidade” na natureza selvagem. Mesmo que coloquemos neste jovem uma crítica social mais bem construída, problemas familiares e psicológicos, comunidades hippies, camisas xadrez e Pearl Jam, podemos ver nada mais que uma atualização do ideal Romântico, não à toa que o filme se inicia com uma citação de Byron.

Como filme, não se pode negar a beleza dos cenários selvagens e dos personagens em suas buscas, que mesmo fluídas são bem construídas. Mas a valorização extremada do jovem que rompeu com o mundo da um ar cansativo ao filme. Achei ótima a cena em que o jovem volta a uma cidade grande e já não consegue se adaptar a ela.

Agora como tema, não dá pra não ligar ao filme essa epopéia de ONGs e protestos anti-globalização e anti-capitalismo que para mim nada mais é que Romantismo revisitado, revisado e atualizado. Assim como a vida do jovem do filme, estes protestos podem causar uma mudança radical na vida dos que dele fazem parte, mas em nada muda a natureza da fuga. O protesto e as ONGs pelo menos tem a vantagem de permitir uma consciência coletiva (difusa) enquanto a vida de ermitão só pode levar a uma epifania que é um sentimento religioso que deve ser combatido pelos anti-tudo.

O engraçado desta história toda é que mesmo com sua ineficácia ao atacar a vontade da fuga, ela é irresistível e acredito que não há uma alma viva que não a procurou, seja na natureza, no passado, na infância, no amor, na morte ou também na futilidade, que carrega em si também um grande espírito Romântico.

Poderia haver uma Conferência do Cassino Lisboeta mundial que rompesse com esta brisa do Romantismo encanado, que talvez seja o mal da minha geração?

quarta-feira, outubro 28, 2009

Golpe de Ar

Golpe de ar
Fabrício Corsaletti

Se havia uma coisa que me encucava era o fato de não ler nenhum autor da minha idade. Não conhecia nenhum, e esse fato gerava em mim a sensação de que minha geração fiara imune ao choque geracional que outros escritores de outras gerações conseguiram mostrar em seus livros como o Quarup ou Gracias por el fuego.

No entanto, graça à Revista Bravo, que eu achava insuportavelmente chata, tenho descoberto escritores, até mais jovens do que eu que já não sou tão jovem assim, que talvez sintetizem um pouco minha geração; que não é mais a da luta de classes como em Gracias por el fuego, mas que pertence a era dos interesses difusos e coletivos como em Cordilheira e Golpe de Ar.

O bom de Golpe de Ar é que em nenhum momento você precisa imaginar situações já que o que está escrito lá, todo mundo com vinte e muitos anos já passou. Como a narrativa é cortada, as frases curtas, o texto se fragmenta como nosso tempo, sem perder a coerência. Achei fantástico o fato do livro deixar alguns segredos em aberto e esses segredos não atrapalharem a narrativa e sim tornarem-se símbolo da individualidade que não nega o coletivo (frase meio clichê, mas se pode encontrar algumas verdades nos clichês também).

Nosso mal estar geracional não está exposto ali, mas você o sente a medida que lê. Terminei o livro pensando que talvez a futilidade que todos reclamam é realmente futilidade, mas o incômodo com ela pode ser a porta para o entendimento e a resolução deste mal tão pouco explícito, tão difuso, tão coletivo.

O livro se passa em Buenos Aires que com vinte e poucos anos também foi minha fuga, talvez por isso a identificação seja maior (ou não). Gostei do livro!

segunda-feira, outubro 26, 2009

Subsídio para iniciantes

Não existe debate mais gostoso e acalorado que a questão dos subsídios. Além da técnica, da economia, os subsídios são ideológicos e políticos o que deixa sempre esta discussão tensa. Não se trata de negar o caráter social do transporte público, mas sim, de como se encara a imensa massa de dinheiro que é consumida em custeio e investimento e de como olhar o sistema de transporte pela luz de sua eficiência como estruturador do espaço urbano, como causa do aumento da mobilidade, como promotor da equidade de acessos e pela qualidade do serviço prestado.

No congresso da ANTP encontrei minha musa nesta discussão: Ângela Amim; encontrei também a batalha pela qual combateria o bom combate: Política Nacional de Mobilidade Urbana. Somente com simplicidade tarifária, eficiência na prestação do serviço, preocupação com custos, ressarcimento das gratuidades e envolvimento dos municípios e da sociedade na tarefa de organizar o transporte público urbano, metropolitano ou não, pode-se justificar a quantidade quase faraônica de subsídios para custeio e os investimentos a fundo perdido no setor. Fora isso, política tarifária é caixa-preta e caixas-pretas não são democráticas nem justas.

Ao apresentar a questão do subsídio (de uma maneira até um pouco amadora para justificar o iniciantes do título, já que me considero iniciante também) utilizando os dados do balanço da CPTM, ilustrando como o crescimento desordenado da metrópole pode levar a um aumento do custo e uma necessidade intrínseca de subsídio, detalhando a tarifa e discutindo algumas formas de lançar custos para medir a real eficiência dos diferentes serviços, para uma platéia de jovens que estão sendo treinados para assistentes administrativos, que em sua maioria vivem no subúrbio e que estão ávidos de mobilidade, principalmente a social, percebi que eles, assim como eu, se assustaram com o subsídio. Concluí que eles também acharam absurda a quantidade de dinheiro consumida no transporte e como há injustiça na forma de transferência de dinheiro do Estado para o custeio.

Ainda há espaço para a “desesquerdização” da política tarifária a partir de um discurso de eficiência, sem negar seu caráter social, mas restaurando o espírito de choque capitalista vencedor em 1994. Não se deve temer este espírito, por mais irracional que anda o quadro político atual, sempre haverá espaço para a razão. Podemos ser latinos, mas não deixamos de ser ocidentais.

terça-feira, outubro 20, 2009

Maringá, Maringá...

Eu sabia que conhecia a música....rs, e a ouvi ao vivo num show da Inezita Barroso!

Maringá
(Inezita Barroso - comp. Joubert de Carvalho)

Foi numa leva que a cabocla Maringá
Ficou sendo a retirante que mais dava o que falar
E junto dela veio alguém que suplicou
Pra que nunca se esquecesse de um caboclo que ficou

Maringá, Maringá
Depois que tu partiste
Tudo aqui ficou tão triste
Que eu garrei a imaginar

Maringá, Maringá
Para haver felicidade
É preciso que a saudade
Vá bater noutro lugar

Maringá, Maringá
Volta aqui pro meu sertão
Pra de novo o coração
De um caboclo assossegar

Antigamente uma alegria sem igual
Dominava aquela gente da cidade de Pombal
Mas veio a seca, toda água foi embora
Só restando então a mágoa
Do caboclo quando chora


segunda-feira, outubro 19, 2009

Curitiba e Maringá

"Suave é a noite, a noite que eu saio
Pra conhecer cidades e me perder por aí"


Não sei se os lugares influenciam as pessoas que nele habitam ou as pessoas que transformam seus habitats. É um pouco a discussão do ovo e da galinha. Acho que ambos interagem, transformando cada lugar numa coisa única, já que nele se desenvolvem todas as aspirações das pessoas que nele habitam, ainda mais se considerarmos cidades que são o máximo da nossa civilização. (ainda influência do Rouanet falando sobre a civilização ocidental...)

Pensando nesta relação lugar-pessoa, fiquei impressionado com o contraste entre Curitiba e Maringá. Se tivesse ido à Curitiba e numa outra viagem ido à Maringá, talvez a diferença não ficaria tão evidente. Como em menos de duas horas fui de uma a outra, qualquer pequena diferença se agigantou. Senti-me mudando de país.

Curitiba é cinza, organizada, funcional. Praticamente tudo que quero ser. Cidade racional. Lá você é bem tratado em todos os lugares, um lugar ótimo para sentir frio, ser você sem precisar ser simpático. Ninguém espera que você seja simpático e é ótimo não precisar ser simpático. A cidade clama para que você siga o regulamento, um regulamento não escrito e bem seguido e a vontade de segui-lo é imensa. Pessoas que não se comportam bem, que não sabem conviver em sociedade deveriam ser condenadas a viver em Curitiba. Se o que falei até agora pareceu uma crítica, na verdade foi um elogio. A cidade funciona, é viva e é organizada, é criativa sem sufoco nem choro, não existem imprevistos em Curitiba!

Maringá é amarela, quente. Cidade planejada com burburinho, trânsito; planejada sem desenhos mirabolantes nem segregação radical. Planejada para ser cidade, com gente, com gente real, com carrinho de cachorro quente na calçada; um lugar onde você pode atravessar fora da faixa de pedestre como em qualquer outro lugar do mundo (exceto Curitiba). O calor move a cidade, todo mundo parece estar na rua o que deixa a cidade com um aspecto feliz. Ás vezes o calor irrita, irrita saber que todos os filmes em cartaz são dublados, que os restaurantes fecham cedo e que se você não estiver de bom humor com certeza será mal atendido. O imprevisto nasce da entropia gerada pelo calor, calor continental. As características das pessoas se agigantam no calor, e o bonito se torna mais bonito, o feio mais feio e o calor acaba deixando a cidade sexy. Acho que “Corpos Ardentes” poderia ter sido filmado em Maringá. Quando amanheci na cidade lembrei do filme.

Voltei para São Paulo achando que esses dois Paranás não poderiam coexistir, mas talvez a diferença seja a graça de tudo, são diferenças complementares. É um pouco esquizofrênico mas encontrei-me em ambas!