segunda-feira, outubro 19, 2009

Curitiba e Maringá

"Suave é a noite, a noite que eu saio
Pra conhecer cidades e me perder por aí"


Não sei se os lugares influenciam as pessoas que nele habitam ou as pessoas que transformam seus habitats. É um pouco a discussão do ovo e da galinha. Acho que ambos interagem, transformando cada lugar numa coisa única, já que nele se desenvolvem todas as aspirações das pessoas que nele habitam, ainda mais se considerarmos cidades que são o máximo da nossa civilização. (ainda influência do Rouanet falando sobre a civilização ocidental...)

Pensando nesta relação lugar-pessoa, fiquei impressionado com o contraste entre Curitiba e Maringá. Se tivesse ido à Curitiba e numa outra viagem ido à Maringá, talvez a diferença não ficaria tão evidente. Como em menos de duas horas fui de uma a outra, qualquer pequena diferença se agigantou. Senti-me mudando de país.

Curitiba é cinza, organizada, funcional. Praticamente tudo que quero ser. Cidade racional. Lá você é bem tratado em todos os lugares, um lugar ótimo para sentir frio, ser você sem precisar ser simpático. Ninguém espera que você seja simpático e é ótimo não precisar ser simpático. A cidade clama para que você siga o regulamento, um regulamento não escrito e bem seguido e a vontade de segui-lo é imensa. Pessoas que não se comportam bem, que não sabem conviver em sociedade deveriam ser condenadas a viver em Curitiba. Se o que falei até agora pareceu uma crítica, na verdade foi um elogio. A cidade funciona, é viva e é organizada, é criativa sem sufoco nem choro, não existem imprevistos em Curitiba!

Maringá é amarela, quente. Cidade planejada com burburinho, trânsito; planejada sem desenhos mirabolantes nem segregação radical. Planejada para ser cidade, com gente, com gente real, com carrinho de cachorro quente na calçada; um lugar onde você pode atravessar fora da faixa de pedestre como em qualquer outro lugar do mundo (exceto Curitiba). O calor move a cidade, todo mundo parece estar na rua o que deixa a cidade com um aspecto feliz. Ás vezes o calor irrita, irrita saber que todos os filmes em cartaz são dublados, que os restaurantes fecham cedo e que se você não estiver de bom humor com certeza será mal atendido. O imprevisto nasce da entropia gerada pelo calor, calor continental. As características das pessoas se agigantam no calor, e o bonito se torna mais bonito, o feio mais feio e o calor acaba deixando a cidade sexy. Acho que “Corpos Ardentes” poderia ter sido filmado em Maringá. Quando amanheci na cidade lembrei do filme.

Voltei para São Paulo achando que esses dois Paranás não poderiam coexistir, mas talvez a diferença seja a graça de tudo, são diferenças complementares. É um pouco esquizofrênico mas encontrei-me em ambas!

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