terça-feira, dezembro 29, 2009

5+ - 2009

Sempre que escrevo isso no fim de ano chego a duas conclusões:

1a. Fazer lista é mais um exercício de memória que de gosto;
2a. Eu sempre vejo as coisas defasadas, sou um atrasado.

5+ - Filmes:

  1. Amantes: Assisti 3 vezes no cinema e adorei as 3. O filme é meio sombrio, o tema é tabu, mas acho tão bem retratado, tão verdadeiro e tão honesto nos seus defeitos que talvez seja o filme que mais marcou este ano para mim.
  2. É proibido fumar: Estava na dúvida da posição, mas como é brasileiro ganhou um ponto (hehe). Na verdade é uma resposta a minha frustração de não me sentir representado em filmes nacionais. Gostei do filme exatamente porque todos os personagens ali podem ser meus conhecidos e seu drama é factível. Glória Pires está ótima e o Paulo Miklos mais ainda, filme que funciona.
  3. Bastardos Inglórios: Não gosto do Tarantino, da "estética da violência" (soou conceitual...hehe), mas o filme é interessante, gostei da liberdade de mexer com a história, meio dessacralizando-a. Até no insulto bobo e caricato ao nazismo ele foi bem humorado. Interessante brincar com a história.
  4. 500 dias com ela: Entrei no cinema achando que veria um filme bobinho e achei um filme bem mais complexo. Talvez ao brincar com o esse mito que nos persegue, esse romantismo que se renova a cada dia, ele nos ponha na defensiva e no fim o restaura de uma maneira não exagerada.
  5. Aconteceu em Woodstock: Filme bonito, interessante, história bem contada e por ter gostado de um filme do Ang Lee, merece ser citado.
  • Simplesmente Alice: Assisti com mais de 10 anos de atraso, mas gostei muito do filme, achei extremamente perspicaz, vou ser categórico: foi o melhor filme do Woody Allen.
5+ Músicas:

Está relacionado com os shows que fui...

  1. Bellisimo così: Foi a música mais ouvida por mim em 2009. Começou como obrigação para me preparar para o show da Laura Pausini, e quando vi, estava escutando mais do que deveria.
  2. Desormais: Está aqui só para constar que fui no show do Charles Aznavour, acho que 2009 foi o ano que menos ouvi Charles Aznavour, mas foi o ano que fui vê-lo, e talvez isso represente um fim de uma época.
  3. Viagem: Comprei um cd da Vanessa da Mata nas Americana e fiquei fã e ele ainda virou trilha sonora! Mas essa música é realmente interessante, desde que comprei, encano em uma música, mas nessa encanei por mais tempo.
  4. Prima che esci: Mais uma da Laura Pausini, pena que não cantou no show.
  5. Poker Face: Momento divertido ao som de Lady Gaga.

5+ Livros.

Eu não tenho memória!

  1. Poemas completos de Alberto Caeiro: comecei a gostar de poesia no ano passado e esse ano foi o livro que mais gostei, que mais carreguei depois de ter lido, e que vez em quando ainda releio. (não sou crítico, não sei comentar).
  2. Golpe de Ar - Romance jovem, achei interessante por ser exatamente jovem, acho que precisava ler coisas mais joviais e achei um escritor que quando lançar mais um livro, vou querer ler. Gostei da forma que escreve e achei a história, embora simples, muito bem contada.
  3. O livro do Riso e do Esquecimento - Como é gostoso ler um bom contador de história, que consegue alinhavar vários pensamentos ao longo de contos e que por meio de metáforas bem construídas consegue universalizar um tempo e um espaço bem definido. No começo do ano entrei numa ondinha Milan Kundera por causa deste livro.
  4. Cordilheira - A mesma coisa do 2o., só que um pouco mais clichê.
  5. Cartas de Caio Fernando Abreu: É meio voyeur ler cartas dos outros, mas as cartas de Caio F. eram tão divertidas, inspiradas, adorei lê-las e comecei até a escrever mais cartas. Daria este livro para o Gabriel Chalita e para o Padre Fábio!

segunda-feira, dezembro 28, 2009

Reforma Política

Sempre considerei a Reforma Política como a “mãe” das reformas, sem ela não poderíamos enfrentar nenhuma outra reforma, e ainda acredito que são necessárias outras reformas como a da Previdência, a Sindical e a Tributária (alguns poriam a Trabalhista, mas essa eu sou contra). Mesmo que a população tenha votado sistematicamente contra essas reformas nas duas últimas eleições nacionais, são temas que devem ser discutidos até para um claro entendimento do porque se é contra.

Entretanto, de uns tempos pra cá, mais precisamente depois da interpretação do STF sobre a fidelidade partidária, meu reformismo arrefeceu. Considerando tudo que se propõe, começo a desconfiar que não temos um problema de representatividade. Suponha que seja aprovada realmente uma proposta de voto distrital, todo o paroquianismo que reclamamos que há no Congresso seria legitimado, aumentando ainda mais o neocorenelismo. Se se aprova uma proposta de lista fechada, entregamos na mão de partidos em que não confiamos o arranjo das listas para as eleições proporcionais e aumentamos o caciquismo dentro dos partidos.

O meio termo, o voto distrital misto, combinaria a escolha de deputados com projeção em seus Estados, com uma metade do congresso que estaria vinculada a um determinado distrito. No entanto, no nosso sistema eleitoral hoje, se um partido não tiver um deputado com expressão no Estado como todo, não elege deputado algum, e sem um puxador de voto local, o deputado de expressão não consegue liderar a lista do seu partido elegendo o puxador local que não atingiu o coeficiente eleitoral. Na verdade, desconfio que já estamos vivendo um voto distrital misto desde 1986. O puxador de voto estadual, geralmente deputado de renome ganha votos em todas as seções, mas sem o voto da liderança local, ele não consegue nem cacifar seu nome, nem dar ao partido todos os votos necessários para a formação da bancada. Além disso, como a colocação dos nomes na lista partidária se dá pelo voto recebido, democratiza-se o partido na urna, já que o partido foi incapaz de se democratizar nas prévias.

Vou ressaltar a importância que dou ao puxador de voto. Este nome de expressão que liderará a lista é o quadro que assumirá papéis importantes dentro do futuro Congresso e principalmente será responsável pela renovação dos quadros políticos no seu Estado e consequentemente no País. A gente tem que estimular puxadores de voto para que haja renovação. Acabar com o puxador de voto torna o Congresso refém de interesses paroquiais enquanto os puxadores de voto são mais sensíveis à pressão da sociedade como um todo e de toda sorte de interesse difuso e coletivo.

Com certeza a vinculação do deputado a um distrito o torna mais “vigiável”, no entanto, as demandas locais chegarão à bancada pelo deputado puxador de voto local, e a bancada não será insensível à estas demandas, já que elas são extremamente valiosas tanto para o arranjo da lista proporcional, como para garantir o tamanho da bancada.

Lógico, que o sistema não é perfeito, é necessário perpetuar a fidelidade partidária da maneira que o STF a interpretou e ainda assim seria necessário voltar a verticalização, que foi entendimento do STF e valeu em 2002 e 2006, mas que os deputados derrubaram em Lei. A verticalização racionaliza o processo, já que chama o partido a coerência, democratizando-o como a lista aberta o faz.

Sobraria por fim dois aspectos da reforma política: financiamento público e formas de financiamento. Mais financiamento público que o horário eleitoral gratuito não existe, já é dinheiro suficientemente grande para um partido se viabilizar, sem contar que ele é distribuído de forma justa e ainda há o fundo partidário. A questão de que é inviável se eleger com as regras de financiamento de campanha atual não é caso de Reforma Política, é caso de polícia, criminal. A lei é essa e cumpra-se. Se não é possível ganhar uma eleição com estas regras e se, como Lula afirmou, todos fazem. Punamos todos e se aprenderá a ganhar eleição com estas regras. Apenas mexeria na possibilidade de doação secreta, mas a sociedade pode cobrar isso sem a força da lei, no momento que um candidato apontar que o outro recebeu doação secreta a sociedade entenderá o recado.

Existe a questão do peso das bancadas dos Estados, mas essa discussão nasce morta, sempre existe a teoria da conspiração que os paulistas querem todos os espaços do congresso, que os estados grandes já tem importância e os pequenos precisam de mais representatividade, mesmo sendo o Congresso a Casa do Povo e que esta questão de representação se dá no Senado, que é a Casa da Federação. Como isso não será resolvido nunca, desisto a priori desta discussão, embora ache totalmente injusto meu voto valer menos que o voto de um cara de Roraima.

Além de tudo isso, talvez seja um reflexo da meia-idade, acho que não existem sistemas rígidos perfeitos e sim aperfeiçoamentos e nossa democracia é muito jovem ainda, há espaço para muitos aperfeiçoamentos. Sem contar que uma Reforma Política ampla, na forma de constituinte como quer o PT permite a abertura de uma caixa de Pandora, onde aparecerão coisas horrorosas. Prefiro confiar nos Pais da Pátria que criaram a Constituição de 88. Com democracia não se brinca, não se testa seus limites, o espírito está pronto mas a carne é fraca. Considerando que temos hoje no poder um presidente personalista que quer eleger ser Medvedev de saias a qualquer custo, uma reforma política hoje abriria espaço para o chavismo e o preço da liberdade é realmente a eterna vigilância, não o eterno reformismo.

quarta-feira, dezembro 23, 2009

Agora é Aécio

Não é um posicionamento ideológico, se assim o fosse estaria aqui falando do quanto acho Serra o melhor candidato à presidência; acredito que seja o mais capaz de trazer uma normalidade democrática e institucional, uma volta ao rumo da modernidade e não esse remendo de varguismo requentado que nos apresenta Lula.

Apesar de achar Serra o melhor candidato, quando olho os noticiários e sigo minha intuição, tenho quase certeza de que quem será o candidato da oposição, com grandes chances de vitória é Aécio Neves, e não José Serra. A desistência de Aécio, para mim, é o ato mais importante de sua campanha, que agora será não-campanha até abril.

A força de Serra é exatamente sua fraqueza. Afinal, a chance de atrair mais votos do que a intenção de voto que ele já possui hoje é pequena, enquanto Aécio é a novidade. Considerando a situação do Estado de São Paulo, onde é um governador popular, tem-se a impressão que mais difícil será ele sair para presidência. Considerando que Alckmin pode vir a ser candidato a governador, caso ele perca a presidencial, perderá também o Estado, já que Alckmin aqui é um fogo amigo muito mais fogo que amigo. É possível derrotar Alckmin dentro do partido, principalmente depois do fiasco na eleição municipal, mas isso seria um desgaste e exigiria do candidato Serra a presidência uma dedicação gigantesca num Estado que ele já tem os votos, impedindo-o de fazer campanha onde ele precisa conseguir votos.

Vamos considerar que a pior votação do PSDB, à do próprio Alckmin em 2006, seja um voto cativo, teríamos o PSDB ganhando em 7 Estados, sendo somente 2 Estados-chave: São Paulo e Rio Grande do Sul. Paraná, Santa Catarina, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Roraima viriam por inércia, pela própria característica destes Estados, lembrando que em Santa Catarina a oposição tem os dois principais candidatos liderando e no Paraná há a oposição, Beta Richa, e uma pseudo-situação, Osmar Dias, também liderando, o que pode vir a trazer mais votos anti-Lula.

Com esta plataforma mínima, a estratégia seria ampliar a diferença nestes Estados, o que pode vir a ser fácil pela liderança absoluta dos partidos de oposição no Paraná e em Santa Catarina, pela grande polarização e rejeição ao PT no Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul, pelo medo do PT no Mato Grosso e em Roraima e pela grande popularidade de Serra em São Paulo, Estado que o mesmo grupo governa desde 1982.

Além de ampliar a vantagem haveria de ganhar espaço, e considerando os 7 Estados azuis, por semelhança, a oposição deveria ganhar o Distrito Federal, Goiás e Minas Gerais e diminuir o massacre nos demais Estados. Aí está o problema: em Goiás, uma campanha de Marconi Perillo pode trazer votos, no Distrito Federal pós-Arruda, existe a ambigüidade de Roriz que não se pode contar e em Minas existe Aécio Neves.

Serra precisa de Aécio, Aécio prescinde de Serra. Considerando que os votos ganhos por Alckmin vão ser repetidos em qualquer um dos dois, Aécio pode trazer Minas e fazer uma fenda no Nordeste, diminuir a rejeição no Rio e no Nordeste e poderá contar com os votos paulistas que Serra lhe dará como por inércia dentro de sua campanha à reeleição. Caso Serra seja o candidato, sem Aécio ele não consegue atrair novos votos, além de ter que administrar a campanha em seu próprio Estado.

Sem contar que sempre há o risco do efeito Carlos Sampaio. Serra pode liderar o primeiro turno inteiro, e no segundo turno todos os votos se voltam contra ele. Aécio tem mais desenvoltura para escapar desta armadilha que o PT tenta criar ao propor o plebiscito entre os partidos, além do que, uma campanha Aécio estimula uma campanha Ciro, que é o grande ladrão de votos de Dilma.

Por tudo isso, eu realmente acho que até março Serra decide ficar em São Paulo, e em 1º de janeiro de 2011 quem assumirá a presidência é Aécio Neves.

terça-feira, dezembro 22, 2009

O Grande Gatsby

Se um dia eu fosse escrever uma novela para TV eu adaptaria O Grande Gatsby. Sem entrar naquela discussão sobre a contemporaneidade dos clássicos, a grande virtude do livro é que os personagens, embora descritos na Era do Jazz, não são datados, então tanto podemos enxergar Gatsbys em muitos lugares, um pouco menos de Nicks e um número crescente de Toms e Dayses.

Lógico que o retrato da Era do Jazz deixa o livro fabuloso, afinal tenho impressão que foi um dos períodos mais fantásticos que nossa civilização já viveu. Entre o Fim da Primeira Guerra e o Crash de 29 a modernidade deve ter atingido seu ápice. O bom do livro é que de uma maneira enviesada ele até zomba um pouco da modernidade.

A primeira vez que o li fiquei tão fissurado nas festas que não percebi a beleza do fim. Pois no fim, mesmo numa sociedade aberta para o sucesso, o berço dá uma segurança extra. Embora queiramos sempre acreditar que isso não existe, haverá sempre a diferenciação da elite e dos emergentes e ela se imporá na hora certa, como no livro.

Gostei de ter relido!

segunda-feira, dezembro 21, 2009

Aconteceu em Woodstock

Interessante quando um diretor famoso se propõe a fazer um filme “sessão da tarde”. Quando isso acontece, afasta-se da ideia de que para ser um filme bom há que subverter a narrativa, fugir de alguns esquemas consagrados de filmagem e de alguns personagens que beiram o estereótipo. E tendo uma saga sem grandes surpresas, num filme normal, se pode ter um bom filme, que diverte e põe algumas questões interessantes à plateia caso ela queira comprá-las ou discuti-las.

O que eu gostei em “Aconteceu em Woodstock” foi a simplicidade do enredo, como os personagens são exagerados e o roteiro simples, alguns aspectos que poderiam passar desapercebidos se mostram mais. Assim a questão do movimento hippie como uma conseqüência do capitalismo e não uma reação a ele surge muito claramente no filme, já que existe a procura pelo lucro, porque sabemos que dez anos depois todos eles votarão Reagan e que é possível combinar a felicidade com tudo isso, sem necessariamente refugiar-se numa fuga nas drogas ou numa comunidade hippie, como é o caso do protagonista. No entanto, mostra como certas experiências místicas podem realmente modificar a trajetória de uma pessoa, e acredito que Woodstoock foi pedra angular da vida de muita gente.

Fico tentando imaginar o que é a sociedade norte-americana na cabeça do Ang Lee, na verdade existe uma dualidade entre a repressão moral e a liberdade individual que não são conceitos orientais. Talvez por isso a questão do desejo sempre apareça nos filmes, e nesse, dentro de uma experiência mística coletiva permite também a discussão do desejo em suas diversas formas, do casamento-tipo à homossexualidade. Também é interessante algumas inversões de valores como a velhinhas progressistas e os jovens racistas. No fim eu sempre acho que existe um elogio da liberdade individual frente a repressão moral, neste filme isso é celebrado mais ainda!

Ah, não se pode esquecer que as imagens são maravilhosas, nunca fui muito de fixar-me nas imagens, mas elas são um elemento fundamental da narrativa. Se o filme tivesse meia-hora menos, seria um filme muito melhor, mas mesmo longo, ainda é uma ótima diversão.

Saí do cinema como quem viu uma sessão da tarde. Ri dos estereótipos, adorei as imagens, gostei dos conflitos e principalmente das suas soluções.

Hippies e Romantismo

Não consigo não pensar no movimento hippie como uma forma moderna de romantismo no contexto da fuga e da contestação dos tais valores burgueses. Assim como o Romantismo nos permitiu tornar heroicas as revoluções liberais, o movimento hippie legitimou o meu grande clichê de todos os textos, os interesses difusos coletivos, dali ganhou força o ambientalismo, permitiu uma radicalização do feminismo e do movimento gay.

Mas e Ronald Reagan?

E agora José? Pois é, todos os caminhos levaram a Ronald Reagan e enquanto este fenômeno não for explicado, mantém-se uma grande interrogação sobre o que foram os anos 70.

terça-feira, dezembro 15, 2009

De volta às cores


Depois de três semanas entre tons pastéis, cinzas e verossimilhança de Woody Allen, foi fantástico assistir a Abraços Partidos de Almodóvar. Voltaram as cores, como se toda a terapia do primeiro viesse desabar no inconsciente do segundo. Como tudo beira ao absurdo, mas um absurdo tão possível em Abraços Partidos, não se perde a humanidade, a gente se sente a ultrapassando.

Acho fantástico como Almodóvar consegue mostrar pessoas em situações limites, até esterotipando-as, sem, no entanto, perder a verossimilhança. É como se num instante pudéssemos sair de nossas situações sob controle e chegarmos à extremos. Uma paixão avassaladora, um ciúme doentio, uma busca frenética, tudo é muito simples de ser alcançado, mesmo para quem vive dentro dos padrões. Nestas situações o vermelho fica bem mais vermelho, o amarelo brilha, o azul se torna anil, a realidade vira surrealidade.

O filme é interessante por ser, como disse a Bravo, o filme masculino do Almodóvar, embora o masculino ali tenha humores que são essenciais ao feminino. Bom filme, um filme que é uma boa diversão, bonito de ver. Além disso, as referências à Mulheres à beira de um ataque de nervos são hilárias.


Castelhano

Eu realmente sou apaixonado pelo castelhano, adoro as s aspiradas, o z diferente, a rapidez, as colocações pronominais, as elípticas, o cuidado com os objetos e os artigos. Que língua trágica! Uma língua onde até um texto científico torna-se um melodrama. Como é gostoso ouvir as pessoas falando castelhano, e de repente, um “dale” ou uma outra expressão qualquer e você se sente a vontade de tutear com o filme, ele já é seu íntimo.

domingo, dezembro 13, 2009

Woody Allen

Nunca me dediquei tanto a um artista como me dediquei neste último mês ao Woody Allen. Tendo como vizinho a mostra “A elegância de Woody Allen” no CCBB, dos 40 longas que ele dirigiu, vi nesta mostra 16, considerando outros 5 que vi em outras ocasiões. Isso é mais da metade dos filmes que ele dirigiu, cobrindo todas as fases a ponto de me sentir a vontade de falar sobre os filmes, sobre alguns pontos em comuns, alguns aspectos que estão presente em seus filmes.

Além do assistir, existiu uma coisa fantástica que só havia me acontecido vendo Truffaut, houve identificação, ora com o Woody Allen em alguns pontos que ele mostrava em seus filmes, ora com a Mia Farrow que talvez possibilitou a ele interpretar sua melhor fase.

Assisti a filmes em que saí do cinema extasiado de tanto que gostei, como Simplesmente Alice, Crimes e Pecados, A outra. Houve sessões que saí como quem sai de uma sessão da tarde. Sessão tarde um pouco mais elegante e instigante. Dois ou três destes filmes foram temas de terapia (principalmente Interiores e Simplesmente Alice). Mas, sendo êxtase, sendo psicanalítico, foi a minha diversão deste último mês.

Provavelmente, assim como aconteceu com Truffaut, vem uma pequena ressaca de Woody Allen, para depois ser incorporado no dia-a-dia, na lembrança, uma fonte de metáforas interessantes para me expressar.

Saí de Zelig com a sensação de que deixei um bom amigo na rodoviária.

sábado, dezembro 05, 2009

O verão dos Democratas

Esta semana realmente não foi uma boa semana para a oposição, foi a alegria para alguns grupos que viram no episódio do “mensalão” no Distrito Federal a prova irrefutável do que o próprio presidente Lula já havia dito: isso acontece com todos! Se acontece com todos, o PT foi perdoado a priori e se seguirmos a lógica de Lula os Democratas também o serão.

No entanto, ao contrário do que as capas das revistas governistas dizem, falando sobre a morte dos Democratas, acredito que isso não será o seu fim pelo simples fato de não haver oposição. A lógica pode parecer ilógica, mas alguém que não “comprou” esta tese do lulismo integrador de todas as tendências, que acalma os ricos liberais, afaga a classe média e dá a boquinha aos pobres, não tem a quem aderir a não ser aos Democratas! Quem se opõe ao governo Lula, mesmo se escandalizando com os atos do governador Arruda não vai passar a votar Dilma, uma vez que ela também está maculada pelo “mensalão” do PT. E existem outras coisas além do que o quem rouba mais que quem, ou quem faz mais que quem, que é a proposta do PT para 2010.

Lógico que a oposição não é só formada pelos Democratas, mas também pelo PSDB; mas o PSDB, em troca de conveniências de ser governo nos Estados, está cada dia mais no muro, não aderiu à tática dos Democratas de hostilizar o governo no Congresso, mas também não consegue dar propostas que consigam romper o plebiscito que está se formando para 2010. A estratégia pode funcionar na geração de uma imagem do pós-Lula (Aécio) ou de uma revisão dos dois projetos (Serra), mas também pode afastar quem quer uma oposição mais combativa ou quem está ressentido da falta de debate na política nacional.

Não acredito realmente que os Democratas vão sumir em 2010, mesmo porque algumas idéias que ele representa ainda têm corpo na sociedade e não há quem se disponha a defendê-las. A clareza oposicionista dos Democratas é sua maior força no cenário que se forma, embora a popularidade do governo seja altíssima, não existe uma unanimidade neste projeto e alguém tem que ser oposição.

Agora começa o verão e com eles os resultados econômicos do ano. Aumento da máquina, da dívida pública, diminuição dos repasses aos municípios e Estados, o sonho idílico da potência sempre acaba nos números. Não que o país não esteja bem, está, mas não tanto quanto a retórica de Lula diz. Assim, da mesma maneira que em um verão o Partido Republicano solapou a popularidade de Obama e se restabeleceu como partido. Começa agora o verão dos Democratas, é a hora do partido virar o jogo aproveitando a própria falta de oposição.

A ver.

A propósito

Tragamos a capital de volta para o Rio e esqueçamos esta ideia de uma capital no meio do nada, ou pelo menos tranformemos o Distrito Federal numa cidade autonôma ou coisa que o valha. É um despropósito dar 3 senadores, deputados federais e distritais e um governador com polícia e orçamento para uma ilha da fantasia que está totalmente alheia ao que se passa no país.

Brasília passa a ter um prefeito, e o que seria papel de Estado passa ser assumido pela União. Ser Distrito Federal é isso, não criar um Estado e chamá-lo de Distrito Federal como se fez. Para deputado federal e senador, os cidadãos de Brasília votam como se fossem de Goiás, como era antigamente.

sexta-feira, dezembro 04, 2009

As mulheres e a crise financeira

A Revista Cláudia é realmente uma revista feminista: neste mês saiu uma matéria mostrando como a solução para a crise financeira mundial pode estar não num lugar geográfico como a China e a Índia, e sim, num gênero em abundância no Ocidente (e em todo lugar), mas que ainda não possui nem igualdade de renda nem de poder. Sim, a solução está na mulher.

A matéria mostra três faces de como a mulher pode comandar uma verdadeira revolução econômica capaz de superar a crise. Na primeira, explora o fato de que elas são decisivas na escolha dos gastos das famílias e chefiam a maioria delas, portanto, uma empresa ou um governo que conta com as mulheres na produção de suas “mercadorias” e políticas sociais atingiria mais facilmente o mercado principal, garantindo uma retomada mais rápida do crescimento. A segunda face está no fato de que uma organização (empresa ou Estado) que conta com uma maior participação da mulher e também com um maior empoderamento (a palavra é empowerment) delas, contaria com um maior capital humano, combinando o melhor dos gêneros e promovendo um ambiente de tolerância fundamental num mundo de interesses difusos e coletivos. O terceiro argumento foi o que mais me intrigou, na verdade ele baseava a crise econômica como a decadência de uma economia baseada no mundo dos homens e que a crise onde a igualdade era maior, foi menos intensa.

Os dois argumentos acabam sempre numa lógica de um direito da mulher por ser uma consumidora como os homens e me desagrada um pouco a idéia de que a igualdade entre os sexos seja uma apenas uma relação de troca econômica, acredito que tenha uma questão moral aí importante a ser discutida. O segundo argumento ainda conta com a diferença entre os gêneros, o que é bem interessante quando a gente vê, principalmente no mercado de trabalho e na política, uma masculinização da mulher, que abandona sua feminilidade para entrar num mundo masculino.

No entanto o terceiro argumento faz pensar. Afinal, não é o mundo realmente um lugar muito masculino. Não foram a jornada de trabalho, as leis trabalhistas, os códigos sociais todos feitos para o homem? Não é a competitividade e a agressividade o elemento mais destacado nas revistas de negócios e não são estas mesmas categorias totalmente associadas à masculinidade? Dá até pra pensar se não tem fundamento mesmo o fato de que o desequilíbrio entre homens e mulheres possa ter causado um desequilíbrio maior.

Abstrações a parte, achei interessante o fato de pôr a questão do gênero num assunto onde a universalidade não permite verificar as diferenças gritantes que esta questão tem no mercado de hoje. Afinal, por que a mulher continua ganhando menos que os homens? Por que a jornada de trabalho não respeita as diferenças entre os gêneros? Por que a maternidade não é mais protegida no mercado de trabalho e é até uma barreira para o sucesso profissional das mulheres?

Acho que é um bom tema para se pensar, afinal, no meio dos outros interesses difusos, parece que o feminismo tem sido eclipsado pelo ambientalismo, pela questão da raça e da diversidade sexual. Esta semana passou no Senado a lei do divórcio imediato e nem foi muito noticiada, e pensar que nos anos 70 esta foi uma bandeira feminista e onde talvez elas tiveram mais sucesso. Ainda há outros temas importantes a serem discutidos como a igualdade no serviço doméstico, a maior representação política e o grande tema do aborto a ser confrontado. Se a economia está em crise, uma sociedade em ebulição geralmente dá boas respostas econômicas.

quinta-feira, dezembro 03, 2009

Mia Farrow

Não achei que fosse ficar fã de uma atriz do jeito que me sinto fã da Mia Farrow. Talvez o Woody Allen tenha ajudado muito nesta história, mas não dá pra negar que somente ela poderia representar as características que suas personagens carregam.

Mesmo que os papéis tenham aspectos contraditórios como Hannah, de Hannah e suas Irmãs, e Cecília, da Rosa Púrpura do Cairo; elas têm entre si um laço interessante, as personagens representadas pela Mia Farrow são um belo retrato da mulher dos anos 80, com suas dúvidas, certezas. Não acredito que outra atriz poderia fazer tão bem esse papel como Mia Farrow. Até no divórcio ela conseguiu se comportar como num filme do Woody Allen.

Nesta onda de Mia Farrow, fico sempre tentando encontrá-la e encontro (e acabo também me encontrando). Não sei bem o que significa ser uma boa atriz, mas tenho certeza que Mia Farrow é ótima.

Provavelmente em Simplesmente Alice ela teve seu ápice, ali estava bonita, inteligente, um pouco dissimulada, com aquela inocência sagaz que ela consegue reproduzir tão bem. A mostra chama-se “A elegância de Woody Allen”, mas a elegância é de Mia Farrow, que conseguiu tirá-lo da comédia rasgada.

quarta-feira, dezembro 02, 2009

O Americano Tranquilo - Graham Greene

Não há grandes pirotecnias lingüísticas, nem uma revolução na narrativa. No entanto a história sustenta o livro numa novela convencional, mas interessante. Talvez ser convencional não seja uma coisa tão problemática quando você consegue construir personagens verdadeiros em situações extremas.

O Americano Tranquilo é um livro fantástico sobre a guerra dos franceses na Indochina que nos deixa até uma pista sobre como será a guerra dos norte-americanos no mesmo lugar. Quando o mundo se volta num antiamericanismo infantil, ele nos mostra uma face diferente do neocolonialismo. Achei fantástico como o americano tranquilo do título se fundamenta numa visão de mundo, que é totalmente diferente da francesa/inglesa do século XIX e talvez é esta visão de mundo que precisa ser analisada e não palavras de ordem.

Embora essa questão do americano possa ser o mote principal, acho que o tema da inevitabilidade do engajamento é o melhor do livro. Estranho pensar de que a neutralidade não é um fato possível, ainda mais quando o mundo se divide cada vez mais (mais uma vez a questão dos interesses difusos coletivos...). E no fim, todo mundo se posiciona de alguma maneira, talvez nos anos 50 em situações extremas como a guerra e hoje em qualquer situação.

O livro dá uma descrição tão fantástica de Saigon que pela primeira vez fiquei com vontade de conhecer um lugar no Oriente. Fiquei morrendo de vontade de ler “Nosso Homem em Havana” do mesmo autor.