sexta-feira, dezembro 04, 2009

As mulheres e a crise financeira

A Revista Cláudia é realmente uma revista feminista: neste mês saiu uma matéria mostrando como a solução para a crise financeira mundial pode estar não num lugar geográfico como a China e a Índia, e sim, num gênero em abundância no Ocidente (e em todo lugar), mas que ainda não possui nem igualdade de renda nem de poder. Sim, a solução está na mulher.

A matéria mostra três faces de como a mulher pode comandar uma verdadeira revolução econômica capaz de superar a crise. Na primeira, explora o fato de que elas são decisivas na escolha dos gastos das famílias e chefiam a maioria delas, portanto, uma empresa ou um governo que conta com as mulheres na produção de suas “mercadorias” e políticas sociais atingiria mais facilmente o mercado principal, garantindo uma retomada mais rápida do crescimento. A segunda face está no fato de que uma organização (empresa ou Estado) que conta com uma maior participação da mulher e também com um maior empoderamento (a palavra é empowerment) delas, contaria com um maior capital humano, combinando o melhor dos gêneros e promovendo um ambiente de tolerância fundamental num mundo de interesses difusos e coletivos. O terceiro argumento foi o que mais me intrigou, na verdade ele baseava a crise econômica como a decadência de uma economia baseada no mundo dos homens e que a crise onde a igualdade era maior, foi menos intensa.

Os dois argumentos acabam sempre numa lógica de um direito da mulher por ser uma consumidora como os homens e me desagrada um pouco a idéia de que a igualdade entre os sexos seja uma apenas uma relação de troca econômica, acredito que tenha uma questão moral aí importante a ser discutida. O segundo argumento ainda conta com a diferença entre os gêneros, o que é bem interessante quando a gente vê, principalmente no mercado de trabalho e na política, uma masculinização da mulher, que abandona sua feminilidade para entrar num mundo masculino.

No entanto o terceiro argumento faz pensar. Afinal, não é o mundo realmente um lugar muito masculino. Não foram a jornada de trabalho, as leis trabalhistas, os códigos sociais todos feitos para o homem? Não é a competitividade e a agressividade o elemento mais destacado nas revistas de negócios e não são estas mesmas categorias totalmente associadas à masculinidade? Dá até pra pensar se não tem fundamento mesmo o fato de que o desequilíbrio entre homens e mulheres possa ter causado um desequilíbrio maior.

Abstrações a parte, achei interessante o fato de pôr a questão do gênero num assunto onde a universalidade não permite verificar as diferenças gritantes que esta questão tem no mercado de hoje. Afinal, por que a mulher continua ganhando menos que os homens? Por que a jornada de trabalho não respeita as diferenças entre os gêneros? Por que a maternidade não é mais protegida no mercado de trabalho e é até uma barreira para o sucesso profissional das mulheres?

Acho que é um bom tema para se pensar, afinal, no meio dos outros interesses difusos, parece que o feminismo tem sido eclipsado pelo ambientalismo, pela questão da raça e da diversidade sexual. Esta semana passou no Senado a lei do divórcio imediato e nem foi muito noticiada, e pensar que nos anos 70 esta foi uma bandeira feminista e onde talvez elas tiveram mais sucesso. Ainda há outros temas importantes a serem discutidos como a igualdade no serviço doméstico, a maior representação política e o grande tema do aborto a ser confrontado. Se a economia está em crise, uma sociedade em ebulição geralmente dá boas respostas econômicas.

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