quarta-feira, maio 27, 2009

A minha Buenos Aires

Quando fui a Buenos Aires a primeira vez, não era moda ir para lá, de tal maneira que quando voltei, tinha feito uma viagem até certo ponto exótica, diferente. Gostei tanto que absorvi a cidade, era minha cidade. Quando virou moda, quis morrer de ciúme, quase enlouqueci!

Sete anos depois eu voltei e vi que continua a minha cidade, mais que uma foto, um lugar, a graça de Buenos Aires é vivê-la e como viver é uma experiência singular, subjetiva, lá encontrei uma Buenos Aires inacessível aos outros, era a minha Buenos Aires restaurada.

Confesso que ela se alargou um pouco e novas percepções foram captadas e ainda serão reveladas.

O ciclo porteño ainda não acabou!

A Insustentável Leveza do Ser - Milan Kundera

Há pelo menos uns dez anos tenho vivido sob um paradigma de que existiam dois pólos: a hipocrisia e o cinismo; onde cada um se graduava entre eles nas suas posturas e ações. Aconteceram muitas coisas nestes dez anos e hoje percebo que o mundo só poderia estar entre estes dois pólos se estivéssemos trabalhando com valores fixos e complicados a ponto de não conseguirmos segui-los e fingirmos (hipocrisia) ou aceitarmos que eram intangíveis e começássemos a apontar que tampouco os outros conseguiam (cinismo). O mundo seria de uma realidade brutal e embora não fosse maniqueísta (já que haveria graduações), partiria de valores e conceitos absolutos.

Quando nos tornamos adultos e conforme vivemos, começamos a ver que os conceitos e valores, por abstratos, não são rígidos e nos amoldamos a eles, definindo-os por superposições de metáforas e experiências, não de uma maneira cínica, mas sim humana. Uma vez que a própria realidade nos traz sensibilidade e tolerância que não combinam com o esquema rígido da hipocrisia-cinismo.

Neste ponto posso dizer que “A Insuportável Leveza do Ser” me achou e não o contrário, já que me alcançou exatamente no processo de relativização dos meus valores.

O livro é de um realismo cru, psicológico, descritivo e que de maneira nenhuma foge ao lirismo; ao invés de querer provar uma tese ou desconstruir o humano, expõe a realidade com o olhar humano, nas poucas certezas e na irracionalidade delas. Talvez pela questão do tempo-espaço, Tchecoslováquia após a Primavera de Praga, onde não havia mais espaço para as nuances, as nuances dos personagens se acentuam ainda mais.

Tirando toda a questão da leveza e do peso que vai permear toda a história, bem menos rígida que minha proposição da hipocrisia-cinismo, as histórias são belas e bem contadas, montadas de maneira a acentuar a realidade, que muitos autores ao tentarem captá-las acabam por deformá-la.

Se tivesse capacidade de fazer um filme, o faria sobre a relação entre Franz e Sabina, que são secundários, mas representam muito mais este aspecto que me encantou do que o casal Tomas e Tereza. Deu-me uma sensação conhecida, familiar, ao ler esta parte, sem contar que as imagens se formavam rapidamente me minha mente.

Além disso, existe Karenin, que talvez seja a Baleia (a cachorrinha de Vidas Secas) eslava.

Adorei o livro, aposto que será relido e ainda assim ficarei encantado por ele.

terça-feira, maio 26, 2009

gabriela + mauricio + francisco = vos

Mauricio Macri pode ser bem o exemplo sobre a questão da direita difusa que escrevi e de como um grupo político pode reunir este espírito de uma maneira moderna e democrática. Para que isso não ocorresse, nem lá na Argentina nem aqui, os ideais de direita não deveriam estar presentes na sociedade. Mas estão. O que talvez exista é uma associação com os políticos de direita com os movimentos antidemocráticos, só que a restauração democrática no continente já é fato consolidado.

Pois bem, faltou explicar o título e os personagens. Mauricio Macri é o chefe de governo da Cidade Autônoma de Buenos Aires (um prefeito com mais poder ou um governador com menos), Gabriela Michetti é a primeira candidata a deputada federal na lista do PRO para as eleições legislativas, Francisco de Narvaez é o primeiro candidato a deputado federal na lista do PRO + peronismo dissidente na Província de Buenos Aires. O PRO é o partido que Macri fundou e que acabou reunindo boa parte da direita difusa, da UCR dissidente, dos apoiadores de Ricardo López Murphy (3º colocado na eleição de Nestor Kirchner) e agora o peronismo dissidente. Peronismo dissidente é a parte do Partido Justicialista que não está alinhada com o casal Kirchner e que na Província de Buenos Aires é representado pelo ex-governador Felipe Solá e pelo ex-presidente Eduardo Duhalde e que tem quase o mesmo número de prefeitos que os prefeitos-K no conurbano. Prefeitos-K são os prefeitos peronistas ou radicais alinhados ao casal Kirchner e conurbano é a região metropolitana da cidade de Buenos Aires que está dentro da Província de Buenos Aires, e é onde estão os distritos eleitorais mais densos.

O título é tema da campanha que aparece na cidade de Buenos Aires e conseqüentemente em toda região metropolitana de Buenos Aires (que está na Província de Buenos Aires). A idéia é que frente a fórmula “ou minha eleição ou o fim da democracia” que o casal Kirchner quer imprimir na campanha, existe uma maneira pragmática e de defesa da democracia em jogo, e esta está no título.

Segundo as pesquisas é quase certo que Michetti ganhe as eleições porteñas e De Narvaez tem chance de ganhar, mas se não ganhar, conseguirá um bom número de deputados para o bloco nas eleições bonaerenses. De qualquer maneira, este novo partido sairá das eleições maior do que entrou e se posicionará como um pólo opositor ao casal Kirchner, num grupo muito mais coeso que a aliança à esquerda (Elisa Carrió, UCR, Socialistas e Partido Obrero), que como esquerda em todo lugar é sempre desunida.

O que quero deixar claro aqui é que existe um sentimento, que talvez seja predominante nas classes médias, que está sendo negligenciado pelos dois pólos de poder no Brasil (PT x PSDB) e deveria ser reunido por alguém. Este alguém na minha opinião seriam os Democratas, numa roupagem nova. No entanto é preciso ter a visão estratégica de Macri para conseguir se firmar como tal. Bem, as eleições de 2010 são legislativas e todo bom partido deve ter uma boa bancada, começa por aí.

Política argentina é emocionante. A questão das listas da uma dimensão partidária tremenda sobre as eleições legislativas, que falta no Brasil. Existem as peculiaridades locais, como não há propaganda gratuita, os únicos comerciais que se vê na tv são dos partidos que tem dinheiro como o PRO e os do governo (que manterá a fama de não ganhar na Capital). No entanto, a cidade já está no clima de eleição, mesmo faltando 34 dias.
A propósito. Até hoje não consegui descobrir o que significa PRO, talvez passe anos sem saber, assim como até hoje não sei ao certo o que é o partido ARI da Elisa Carrió.

quinta-feira, maio 21, 2009

Tempestades e Calmarias

De repente você sente uma calmaria estranha no ar, barômetros caem, a pressão abaixa, quem tem malícia sabe que estamos perto da Tempestade, e ela vem, vem em forma de trabalho, de amores, de amizades mal discutidas, de contas a pagar e a receber não planejadas. Um turbilhão lhe envolve e isso é uma das coisas mais interessantes que existe. Você acaba entrando neste turbilhão e luta com ele, contra ele, usa dele com astúcia, e às vezes é enganado por ele. Se sente o próprio Ulisses na Odisséia.

A Tempestade acaba, seja naturalmente, seja por uma intervenção radical e divina; você se sente num desassossego incrível, como se não pudesse viver sem o turbilhão de coisas acontecendo, e vai desacelerando, olhando para o turbilhão passado e vendo coisas que poderia ter feito diferente, lendo outras coisas, vendo outras paisagens. Quando a calmaria vem, você olha a paisagem, a entende, a interpreta e se prepara para quando os barômetros apitarem novamente você entrar no turbilhão com mais malícia.

Pois bem, do último post até esse, houve a calmaria sinistra, a tempestade e começaram minhas férias e estou olhando a paisagem. Sem pretensões de olhar para frente, nem de reviver nenhum passado. Estou observando e me surpreendendo. As férias são a quaresma do trabalho, não no sentido trágico, mas no sentido da reflexão. Confesso que estou adorando tanto essa reflexão que acabo nem escrevendo muito aqui.

Há muitas coisas que queria falar: de como é fantástico ler Milan Kundera, de como O Leitor é um filme ótimo, como a Adriana Calcanhotto pode fazer um show engraçado e up. Queria falar sobre listas abertas e fechadas, sobre o saco que é fazer mala, sobre o câncer da Dilma, sobre como é gostoso andar na Linha 9 a noite. Infelizmente a paisagem não me permite escrever muito. Acho que nas tempestades encontro mais facilidade de escrever.

Homenagem ao 11o. andar

O mar não é o mar e a cerveja não é cerveja, mas a sensação é igual

Privilégio do Mar
(Carlos Drummond de Andrade)

Neste terraço mediocremente confortável,
bebemos cerveja e olhamos o mar.
Sabemos que nada nos acontecerá.

O edifício é sólido e o mundo também.

Sabemos que cada edifício abriga mil corpos
labutando em mil compartimentos iguais.
Às vezes, alguns se inserem fatigados no elevador
e vêm cá em cima respirar a brisa do oceano,
o que é privilégio dos edifícios.

O mundo é mesmo de cimento armado.

Certamente, se houvesse um cruzador louco,
fundeado na baía em frente da cidade,
a vida seria incerta... improvável...
Mas nas águas tranqüilas só há marinheiros fiéis.
Como a esquadra é cordial!

Podemos beber honradamente nossa cerveja.

sexta-feira, maio 08, 2009

Maio de 68

"Então esses seres jovens, inteligentes e radicais tiveram subitamente a estranha sensação de ter lançado no vasto mundo a ação que começava a viver por conta própria, deixando de se parecer com a idéia que eles haviam concebido, deixando de se importar com os que tinham lhe dado origem. Esses seres jovens e inteligentes puseram-se a gritar por sua ação, a chamá-la, a culpá-la, a persegui-la, a caçá-la. Se eu escrevesse um romance sobre a geração destes seres dotados e radicais, eu lhe daria o título de A caça à ação perdida"
O conto da onde eu extraí o texto acima é "Cartas Perdidas" e está em "O livro do riso e do esquecimento" de Milan Kundera. O conto é uma ótima alegoria do maio de 68, mas achei esse texto muito perfeito!

segunda-feira, maio 04, 2009

Direita Difusa

O preço da liberdade é a eterna vigilância

Hoje no almoço surgiu o comentário de que não existe um partido de direita no Brasil. Na hora lembrei-me dos Democratas, no entanto, se pensarmos bem, o “poder de fogo” dos Democratas não se compara com a Democracia Cristã alemã ou a União por um Movimento Popular francês. (Não vou pôr aqui o Partido Popular espanhol, não ponho por causa de Raroy, se estivéssemos na era Aznar, poria).

A sequência lógica seria tentar definir aqui o que é Direita, o que torna a coisa mais difícil. Uma vez li numa enciclopédia que a direita se apoiava em quatro pontos: autoridade, comunidade, liberdade e hierarquia. Alguns se apoiando mais em um do que nos outros, mas todos se baseando nesses. Então começamos a delimitar o espaço que eu quero atingir. Temos quatro princípios: autoridade, comunidade, liberdade e hierarquia, e temos dois exemplos: a Democracia Cristã e a UMP.

Se pensarmos em tudo que a Esquerda brasileira chama de direita, vamos encontrar os sociaisdemocratas do PSDB, que não compartilham nem de todos os princípios nem pode ser comparado à UMP, acredito que a maior diferença seja na questão de regulação (não confuda público com estatal), na defesa de mecanismos de inclusão e por não ser tão duro com as questões das liberdades individuais. Fora os tucanos, encontramos um amontoado de partidos paroquiais sem expressão nacional, com algumas figuras carismáticas, atuação fisiológica e sem um projeto de poder e de país (PP, PR entre outros).

Aí entra o poder catalisador dos Democratas. Ao liberar-se do carlismo, na renovação dos seus quadros, tais como Rodrigo Maia, Kátia Abreu, Ônix Lorenzoni, Paulo Bornhausen, Ronaldo Caiado, Solange Amaral, Mendonça Filho e principalmente Gilberto Kassab, os democratas podem preencher esse vácuo à direita. Não duvido que, dentro de um programa coerente e nacional, os Democratas não consigam se viabilizar como uma opção tal qual a UMP.

A defesa da democracia (“o preço da liberdade é a eterna vigilância”), a busca da eficiência na administração pública, a redução do Estado e dos cargos comissionados, a busca pelo empreendedorismo, maior abertura econômica, defesa do agronegócio (com todas as ressalvas ambientais), e principalmente um discurso moderno de liberdades individuais (liberados de influências religiosas ou outros lobbies) podem dar aos Democratas um campo que não é explorado pelos partidos no Brasil. Pelo menos não nacionalmente.

Claro que ainda há resquícios do velho PFL, mas a própria renovação trata de depurá-los. Além do mais, essa história de partido da ditadura já se tornou um pouco chavão demais, não acredito que, fora alguns saudosos da Ditadura, alguém se comovam com esse discurso (que a Marta Suplicy quis aplicar aqui em São Paulo). Afinal, das eleições livres para governador de 1982 para cá, já se foram 27 anos. E no final das contas, quem viabilizou a eleição de Tancredo, foi o PFL.

Um pólo a direita, num país onde falar que uma pessoa é de direita é xingamento, pode reequilibrar as forças políticas nacionais. Afinal, o PSDB no governo, rompeu com os clientelismos e permitiu a eleição de Lula, completando a transição democrática. No final, os dois partidos acabaram tão parecidos que é necessário se diferenciar. Para mim, é claro que o PSDB não quer as bandeiras que citei; mas pelo que a gente lê em jornal, ou nestas pesquisas que vez em quando saem, estes temas são temas a serem discutidos e podem aumentar a força deste partido.

Sem contar que com os Democratas fortes, o PSDB voltaria para seu lugar de origem, deslocado que foi pelo vácuo à direita, e teríamos uma grande surpresa ao ver o quanto o PT teria que se reposicionar.

A democracia brasileira ganharia com um partido mais orgânico e organizado neste campo.

domingo, maio 03, 2009

Virada Cultural 2009

Geraldo Azevedo

Fui num show de um cantor que para mim era desconhecido e saí de lá com muita vontade de escutar tudo que ele já fez. O show foi fantástico, uma platéia que aproveitou cada instante, todo mundo escutando, cantando. A letras das músicas muito simples, mas muito precisas. Para mim foi o grande acontecimento

Escoamento em meios porosos

Parece nerd este tópico, mas não parava de pensar nisso. Acho que dá para fazer um modelinho matemático para verificar o comportamento das pessoas na multidão. É incrível como se vê os fluxos preferenciais que vão se formando, o fenômeno da capilaridade. No final dos shows, acontecia quase como a fluidificação da areia, a multidão se tornava uma areia movediça, você afundava nela.

Lógico que existem sempre os sem noção que não seguiam nem os fluxos preferenciais nem toda a lógica humana que acaba sendo afetada pelo excesso de vinho barato do local, mas considerando que ser ou não ser sem noção é uma questão de estatística, esse modelinho pode até ser feito considerando esta variável!

(tópico idiota, mas eu pensei nisso em vários momentos!)

Não poderia ser em outra data?

Dois motivos para se mexer na data da virada: a interrupção do tráfego de trens do metrô sob a República e o Dia do Trabalho.

A interrupção do tráfego causou um caos no sábado que eles reviram no domingo. Sem contar que ao acionar os ônibus da Sptrans para fazer o trajeto Santa Cecília – Anhangabaú, esqueceram de combinar com a CET. Demorei 40 minutos para ir de Santa Cecília ao Anhangabaú no sábado às 6 da tarde.

Quanto ao Dia do Trabalho, acho misturou as duas festas perdendo o simbólico de ambas, parecia que a cidade estava em festa nos três dias, no primeiro, graças às centrais sindicais, nos outros dois pela virada.

Shows Bregas

Interessante porem um palco só para shows bregas, afinal a virada tem que atingir a todos.

No fim, descobre-se verdadeiramente porque são populares: as letras fáceis faziam com que a gente aprendesse a música durante a própria música. E no final, todo mundo sabia pelo menos o refrão. O show do Wando foi engraçadíssimo, principalmente com a questão das calcinhas voando e das baixarias que ele falo, mas infelizmente ele não tem repertório pra tocar uma hora toda não. O do Reginaldo Rossi foi muito chato, ele mais falou do que cantou, acabei saindo no meio.

Zeca Baleiro

Bem, esse é um show que ainda vou pagar pra ver, escutar com mais atenção, curtir mais o show. Foi ótimo, num horário melhor ainda.

sábado, maio 02, 2009

Pré-Campanha (artigo de César Maia)

Vou pôr na íntegra o artigo de César Maia, publicado na Folha de hoje, concordo com ele em tudo e estava na minha cabeça escrever algo sobre isso, mas achei perfeito o que falava que me abstenho deste tema por enquanto.

PAUL LAZARSFELD -fundador das pesquisas de opinião e tendências do eleitorado-, nos anos 30, na Universidade de Columbia, dizia que as campanhas eleitorais eram como a fotografia da época: dividiam-se em duas fases. Na primeira -a pré-campanha-, a foto era tirada e impressa no celuloide. Na segunda -a campanha-, a foto era revelada na câmara escura. Sem a pré-campanha não havia foto a revelar, e a campanha seria uma loteria de impressões, ensinava.
Esta é a lógica das primárias nos EUA. Os pré-candidatos se apresentam nacionalmente. Mostram propostas, criticam os adversários, durante meses, até a convenção. Todas as imagens estão amplamente registradas no "celuloide" dos eleitores. Depois, a campanha exibe os detalhes, os compromissos e críticas, que complementam o básico. Sem pré-campanha, Obama nunca teria tido a chance de ser o candidato democrata.
No Brasil, o complexo eleitoral, composto pelos partidos e pela Justiça, fixou a ideia de que a pré-campanha é ilegal. Desta forma, enquanto os partidos denunciam seus adversários por fazerem pré-campanha, a Justiça Eleitoral os inibe com proibições e punições. Mas esse é um processo torto.
Todos têm espaço partidário igual para a propaganda autorizada, mas quem está no governo tem todo o tempo que entender para contratar publicidade na mídia.
Não pôr o nome na publicidade de quem está na mídia espontânea todos os dias é risível. Nos Estados e grandes capitais, trata-se de gastos anuais, em publicidade político-governamental, de R$ 50 milhões a R$ 200 milhões. No nível federal, os gastos chegam a R$ 2 bilhões, incluindo patrocínios e promoções. O exagero chega a tal ponto que o próprio uso da internet -meio democrático, barato e acessível a todos- passou a ter regras limitativas, antes e até durante as eleições.
Se o que se quer com o processo eleitoral é dar ao eleitor o máximo de informações, para que ele possa decidir politicamente, em vez de apenas reagir a estímulos publicitários, o processo atual aponta para o contrário disso.
Os partidos não têm tempo para amadurecer suas decisões em torno de seus pré-candidatos. As convenções fazem o jogo do "convencimento" dos delegados. As pesquisas de opinião pré-eleitorais só favorecem os mais conhecidos ou expostos, o que torna as oposições mais dependentes da mídia.
A democracia sofre um grave desvio, na medida em que não há condições de igualdade na disputa. Governo e oposição atuam politicamente, visando às próximas eleições, com instrumentos totalmente desproporcionais.
Essa é uma grave distorção que os partidos políticos -que legislam- e o TSE -que regulamenta- precisam rever com a máxima urgência

sexta-feira, maio 01, 2009

Compromisso com o trabalho

Não é o trabalho que dignifica o homem, mas o homem que dignifica o trabalho. Quando falo em compromisso com o trabalho, muito além de desemprego e renda gostaria que entrasse em pauta também a necessidade de se poder realizar um trabalho onde o homem consiga criar, se expor, pensar; entregando-se plenamente e com vontade ao trabalho.

Afinal, mesmo com taxas decrescentes do índice de desemprego de 2003 pra cá, temos uma contradição no rendimento médio do pessoal ocupado. Resolvi por os dois governos Fernando Henrique e os dois governos Lula para não me acusarem de parcialidade. Vamos aos dados, para evitar a sazonalidade, considerei para comparação de agosto/98 à agosto/08, uma vez que no site no DIEESE, a série histórica só ia até agosto de 2008 (que me evitaria abrir todos os relatórios para conseguir fazer a conta, afinal hoje é feriado e não é dia de ter tanto trabalho assim).

Em agosto de 1995 a taxa de desemprego na Região Metropolitana de São Paulo era de 12,9% e em agosto de 2008, 14,0%. A princípio, pouca variação. Se pegarmos a taxa de agosto de 2002 (final do governo Fernando Henrique), a taxa foi de 18,3%, um crescimento de 41% na taxa de desemprego, um crescimento bastante alto. Em agosto de 2003 chegamos a 20%, sendo que aí já tínhamos 8 meses de governo Lula. De agosto de 2003 à agosto de 2008, temos uma redução de 30%. O que corrigiu uma taxa de desemprego já alta. Nesta taxa de desemprego, considerei o emprego total (com carteira e sem carteira).

No entanto, se olharmos os rendimentos, defletidos pelo IPCA na cidade de São Paulo, com base em agosto de 2008, temos o seguinte quadro: Em agosto de 1995, o rendimento médio das pessoas ocupadas eram de R$ 1.773,58, em agosto de 2002, R$ 1.264,93, uma redução de 28,7 % do rendimento médio. Em agosto de 2003 o rendimento foi de R$ 1.181,35 (redução de 6%), enquanto em agosto de 2008, o rendimento foi de R$ 1.215,72, com um acréscimo na renda do governo Lula de 3%.

O que quis pôr acima foi que: no governo Fernando Henrique, a reestruturação econômica e principalmente a crise de 1999, tirou do mercado 6% da População Economicamente Ativa ({[(100-18,3)/(100-12,9)]-1}x100}) e houve um arroucho de 28,7% no seu rendimento médio. No governo Lula, foi posto de novo no mercado 7,5% da População Economicamente Ativa, mas o acréscimo de renda foi de somente 3%. O que pode significar empregos com baixos rendimentos ou uma alta taxa de inflação.

Na verdade todos esses números servem para voltar no primeiro parágrafo. Será que todo esse aumento nos postos de trabalho foram feitos para que esses trabalhadores tivessem seus sonhos como trabalhador realizado? Talvez por isso nesse 1º de maio, ao invés de glorificarmos taxa de desemprego e renda, deveríamos pensar em que formas conseguiremos pôr o trabalho em primeiro lugar na nossa sociedade, ao invés do capital, (princípio da socialdemocracia) e que esse trabalho também seja fruto do melhor das pessoas, que elas possam se realizar neles. Construir com o trabalho não somente o fruto deste trabalho, o rendimento, mas também a realização pessoal.

Talvez com essa crise, os números piorem, e aí surja uma grande oportunidade (é um clichê total essa história de crise e oportunidade, mas enfim) de conseguirmos pensar em melhores formas de se trabalhar, para que o trabalhador se sinta realizado nos seus trabalhos, que consigam sobreviver aos custos e às tentações do consumismo. Como isso pode acontecer eu não sei. Antes era contra a história de economia solidária, mas por quê não? Talvez quando este trabalho for feito realizando os anseios de todos, podemos construir uma sociedade mais justa, mais tranqüila (só a justiça gera a paz, lema da campanha da fraternidade deste ano) e mais ecológica.

São apenas divagações sobre o Dia do Trabalho, que assim como o Dia Internacional da Mulher, deve ser comemorado e principalmente refletido. Afinal, se ganharás o pão com o suor do seu trabalho, que esse suor não seja somente o suor da dor, mas também o suor bom do esforço para atingir algo que se quer.