segunda-feira, novembro 06, 2006

Noche de calor en la ciudad!

Anclao en Paris
(Enrique Cadícamo)


Tirao por la vida de errante bohemio
estoy, Buenos Aires, anclao en Paris (São José dos Campos??);
curtido de males, bandeado de apremios,
te evoco, desde este lejano pais.


(...)

Lejano Buenos Aires,!que lindo has de estar!
Ya van para diez años que me viste zarpar...
Aqui, en este Montmartre, Faubourg sentimental,
yo siento que el recuerdo me clava su puñal.

(...)

Sei que não é pra tanto, mas este calor todo está me lembrando Buenos Aires. Embora seja contraditório lembrar de Buenos Aires no calor, acho que foi no calor que mais aproveitei da província (vivi em La Plata, convivi com Buenos Aires).

O que sinto mais falta da Argentina é sem dúvida o mate. Eu consigo ver uma lógica no fato da Argentina ser adepta da psicanálise por causa do hábito do mate. Quando um ceba el mate, está se preparando para dar um mergulho em si mesmo, nos seus pensamentos, não de uma maneira racional, lógica, premeditada, e sim como num devaneio, deixando o inconsciente aflorar. Se está em grupo, a conversa saí de maneira desordenada, mas com uma lógica incrível, a lógica do significante. O mate faz a gente pensar, ouvir (quando está tomando), falar (quando os outros estão tomando). Se um está sozinho, é hora de se soltar no seu inconsciente. É bem mais do que “cinco minutos guardados dentro de cada cigarro”.

Infelizmente minha falta de habilidade fez com que eu perdesse o mate que ganhei em La Plata, acabei não conseguindo curar o mate, e hoje ele é só enfeite. Acho que teria andado uns dois anos na terapia se o estivesse usando.

É engraçado, mas esse calor todo me lembra uma das tardes mais surreais que tive. Estávamos eu, Federico e Mercedes fazendo um trabalho de aprovechamientos hidrelétricos. Um calor senegalesco, úmido, daqueles insuportáveis. Resolvemos cebar el mate, ligamos o rádio, e porque havia um brasileiro no grupo colocaram um cd, que mais parecia esses cds que vem na Caras, eis que, de repente, estávamos fazendo uma coisa tipicamente argentina, curtindo um calor africano ouvindo música brasileira. De repente, começa a tocar Mel da Maria Bethânia. Começamos a rir, como tontos, e foi um dos momentos mais felizes da minha vida. Salvamos o trabalho e fomos tomar uma cerveja.

Por incrível que pareça meu trabalho é como aquele trabalho que estava fazendo naquele dia (ok, tem muitas adaptações, mas com INTP que sou, consigo ver a lógica da coisa). É pena que não tenha o mate, a Maria Bethânia toca no meu celular (somente quando a Luísa me liga, mas isso está ficando raro) e o calor, bem, o calor é o calor de Jacareí (que é por si só o Senegal).

Viva a surrealidade!

quarta-feira, novembro 01, 2006

Descida da Ladeira


DESCIDA DA LADEIRA
(Alceu Valença)

Eu só acredito
Em vento que
Assanha cabeleira
Quebra portas e vidraças
E derruba prateleiras
Se fizer um assobio esquisito
Na descida da ladeira

Eu só acredito em chuva
Se molhar minha cadeira
De palhinha na varanda
Minha espreguiçadeira
Se fizer poça na rua
Acredito nessa chuva de peneira

Eu só acredito em lama
Se for escorregadeira
Como casca de banana
Tobogã de fim de feira

Alceu Valença já não acredita
Na força do vento que sopra e não uiva
Na água da chuva que cai e não molha
Já perdeu o medo de escorregar

Voltei, Recife!



Bem, conheci o Recife!

Na verdade voltei de lá com vontade não voltar.

Dormi bem, descansei, dei muita risada, tomei muita cerveja, conheci muitas pessoas e por fim acabaram minhas férias.

É incrível uma cidade ter o ritmo do Recife. Muitas vezes me lembrou Buenos Aires pela quantidade de gente na rua. Mas a cada esquina que você vira, a cada ponte que você atravessa, a gente descobre novos ângulos de ver a cidade.

Existe uma pressão tremenda para que você saia do Recife e conheça outras praias, mas quem resolve conhecer a cidade não se arrepende.

Os poucos dias que fiquei lá permitiu que eu visse uma das campanhas eleitorais mais emocionantes deste ano; parece que a cidade se mobilizou, diferente da resignação da campanha no sudeste. Mesmo porque, se aqui ser Lula era motivo de estranheza, lá ser Alckmin era uma estranheza maior ainda. Mas o conflito de cores entre Eduardo Campos (Dudu Precatório) e Mendonça Filho (Mendoncinha) acelerou ainda mais a cidade.

Feliz é a cidade que tem história e tem praia como o Recife!


Ah, a foto é de Olinda, na verdade o mais legal de Olinda é ver a cidade do Recife!