quarta-feira, maio 27, 2009

A Insustentável Leveza do Ser - Milan Kundera

Há pelo menos uns dez anos tenho vivido sob um paradigma de que existiam dois pólos: a hipocrisia e o cinismo; onde cada um se graduava entre eles nas suas posturas e ações. Aconteceram muitas coisas nestes dez anos e hoje percebo que o mundo só poderia estar entre estes dois pólos se estivéssemos trabalhando com valores fixos e complicados a ponto de não conseguirmos segui-los e fingirmos (hipocrisia) ou aceitarmos que eram intangíveis e começássemos a apontar que tampouco os outros conseguiam (cinismo). O mundo seria de uma realidade brutal e embora não fosse maniqueísta (já que haveria graduações), partiria de valores e conceitos absolutos.

Quando nos tornamos adultos e conforme vivemos, começamos a ver que os conceitos e valores, por abstratos, não são rígidos e nos amoldamos a eles, definindo-os por superposições de metáforas e experiências, não de uma maneira cínica, mas sim humana. Uma vez que a própria realidade nos traz sensibilidade e tolerância que não combinam com o esquema rígido da hipocrisia-cinismo.

Neste ponto posso dizer que “A Insuportável Leveza do Ser” me achou e não o contrário, já que me alcançou exatamente no processo de relativização dos meus valores.

O livro é de um realismo cru, psicológico, descritivo e que de maneira nenhuma foge ao lirismo; ao invés de querer provar uma tese ou desconstruir o humano, expõe a realidade com o olhar humano, nas poucas certezas e na irracionalidade delas. Talvez pela questão do tempo-espaço, Tchecoslováquia após a Primavera de Praga, onde não havia mais espaço para as nuances, as nuances dos personagens se acentuam ainda mais.

Tirando toda a questão da leveza e do peso que vai permear toda a história, bem menos rígida que minha proposição da hipocrisia-cinismo, as histórias são belas e bem contadas, montadas de maneira a acentuar a realidade, que muitos autores ao tentarem captá-las acabam por deformá-la.

Se tivesse capacidade de fazer um filme, o faria sobre a relação entre Franz e Sabina, que são secundários, mas representam muito mais este aspecto que me encantou do que o casal Tomas e Tereza. Deu-me uma sensação conhecida, familiar, ao ler esta parte, sem contar que as imagens se formavam rapidamente me minha mente.

Além disso, existe Karenin, que talvez seja a Baleia (a cachorrinha de Vidas Secas) eslava.

Adorei o livro, aposto que será relido e ainda assim ficarei encantado por ele.

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