terça-feira, março 10, 2009

Qual é a próxima rua?

O menino adorava mapas. Ficava fascinado quando via um, era capaz de identificar qualquer lugar num mapa certo. Quando não podia, mentia. Mentia com critério, como depois aprendeu a justificar. O vínculo com o pai passou a ser geográfico. Um estimulava o outro sobre o nome das cidades, dos rios, das ruas. Enquanto as ausências sempre foram próximas, as proximidades eram bem distantes. Conheciam-se mais por saberem como chegar a qualquer lugar do que sobre o que acontecia na vida de cada um.

Eram os únicos que se mantinham acordados em todas as viagens. Enquanto um dirigia, o outro se orientava; em qualquer estrada, em qualquer cidade. A cumplicidade só poderia acontecer quando os outros adormeciam. Neste momento adormeciam também todos os fatores de estranhamento.

Qual o nome da próxima rua? Um provocava o outro e se sentiam felizes ao saber que o outro saberia a resposta. Além do sono dos outros, naquele momento não havia superação edipiana ou qualquer forma de conflito de gerações. Eram cúmplices.
As viagens diminuíram, assim como o sono dos outros. Os papéis no carro mudaram e os meios de transporte também. O menino cresceu e mesmo em cidades onde o pai jamais esteve, quando acerta o nome de uma rua ou estrada, reforça a lembrança. Vínculo que talvez não seja mais geográfico, não freqüentam mais a mesma geografia. Os nomes das ruas agora são o confronto das gerações.

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