quarta-feira, setembro 08, 2010

Síndrome de Alan García

Achei fantástico um artigo do Estadão de ontem (7/9) que falava sobre o presidente do Peru Alan García. Dizia que os analisas estrangeiros tinham muito mais complacência com o presidente peruano que os próprios peruanos e que a “maldição” sobre Alan García o perseguiu a 20 anos atrás quando era ícone para esquerda com um programa que incluía a estatização dos bancos (na campanha de 89 o presidente Lula citava muitas vezes o presidente peruano e quando se cantava nos protestos contra Alfonsín na Argentina “patria patria mía, dame un presidente cómo Alan García”). Nos anos 80 o governo García acabou com ataques cada vez mais violentos do Sendero Luminoso e do Tupac Amaru e com hiperinflação e García se tornou persona non grata para todos os espectros políticos.

Eis que depois da era Fujimori, governo forte, com atrocidades no campo humanitário e na democracia e estabilidade financeira e depois de Alejandro Toledo totalmente instável politicamente mas respeitando a democracia o Peru elegeu Alan García novamente e por incrível que pareça é um presidente com baixa popularidade. A economia cresce, o país é estável, é uma ilha de prosperidade perto dos seus vizinhos, tem a democracia consolidada e Alan García é totalmente impopular e corre o risco de passar a faixa presidencial para Ollanta Humala, que é considerado forte para acabar com a corrupção e a desigualdade.

Acho que a síndrome de Alan García pode ser bem transportada pela rejeição ao Fernando Henrique ou ao Gabeira, esquerdistas que acompanharam o tempo, que acreditam na democracia como valor e não como meio não são considerados bons estadistas já que queremos é sebastianismo, não acreditamos em processo mas em ação e aí fica difícil defender o amadurecimento das instituições frente a caudilhos que se declaram eles próprios as instituições e frente a povos lenientes de seu papel no amadurecimento. (embora eu duvide que tanto Fernando Henrique como o Gabeira queiram ser comparados a Alan García).

No entanto, quando o caudilhismo falha, a inflação corrói, o Estado vai a bancarrota, os direitos humanos e os sigilos são violados, são eles, os resilientes, os capazes de mudar e amadurecer que conduzem seus países de volta ao mundo, são Alfonsín, Fernando Henrique, Alan García, César Gaviria e Ernesto Zedillo que tentam como Don Quixotes restaurar a democracia por aqui.


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