quinta-feira, dezembro 27, 2007

O preço da liberdade é a eterna vigilância II


Eu acho realmente incrível como um incidente pode criar tanta repercussão e por em risco todo um sistema constituído. O assassinato de Benazir Bhutto põe em xeque toda a idéia que existiria um meio-termo entre a ditadura e o talebã. Acredito que as posições se radicalizarão e o Paquistão vai entrar em guerra civil.

Antes de mais nada, estou chegando cada vez mais a conclusão que política não é um preceito moral e ético, é uma práxis. Deve ser estudada com a análise da Sociologia, de maneira nenhuma como o Direito. O sistema político de um povo está ligado à sua história, sua estrutura de poder, a imagem que esse povo faz de si, nunca através de axiomas e doutrinas. É horrível admitir isso, mas toda vez que se quer criar um sistema político através de doutrinas corre-se o risco de criar uma situação insustentável e artificial.

Pensando desta forma, então não existiria uma forma acabada de democracia, ela é fruto de várias dinâmicas internas dos Estados-Nação, mas também é um elemento econômico e cultural. No entanto, não temos Estados-Nação independentes, e sim interdependentes, e, querendo ou não, o capitalismo é global, o que acaba criando alguns preceitos de organização do estado igualmente globais, mas que sempre estará em choque com os aspectos culturais e sociais locais (poria aqui também aspectos econômicos locais, embora a economia seja global, possui uma parcela local).

Dentro deste contexto, qual seria o regime político paquistanês? Bem, um regime talebã só poderia ser construído se o Paquistão não estivesse inserido no mundo, como era o Afeganistão. Uma ditadura pró-ocidente, garantiria essa inserção no mundo, mas seria corroída pelo extremismo talebã. Não consigo pensar em outra solução do que o pronto estabelecimento de instituições democráticas (parlamento, suprema-corte, governos locais) como freio para a escalada radical no Paquistão. Só assim, se poderia envolver a população num projeto de Estado que superasse os aspectos tribais e rompesse com o radicalismo religioso.

Talvez seja uma mentalidade de classe média, mas fico imaginando o que pensa um operário do subúrbio de Karachi ou Islamabad. Não consigo imaginar um sujeito assim apoiando uma guerrilha talebã, ao mesmo tempo, as ligações dele com o ocidente não permitiriam a ele simplesmente apoiar um regime militar.

Podemos lembrar sempre que Benazir Bhutto teve graves problemas de corrupção no seu governo, que não conseguiu terminar nenhum mandato, no entanto, só a idéia de alguém que queria trazer a normalidade das instituições (num país que nunca teve normalidade) já me faz ser simpático a ela. Sem contar que é uma mulher num país em rota de radicalização.



Um comentário:

Mauricio disse...

E por acaso as "instituições democráticas" instituídas no Iraque fizeram alguma diferença até agora?

E se eu fosse operário em Islamabad, seria muito mais provável que eu apoiasse o talibã do que qualquer outra coisa!

Ah, e Estado-nação tem plural: Estados-nações...