sábado, dezembro 20, 2008

Sábado a la mañana

Acordou. Por causa do feriado de Natal que praticamente o deixará sem faxina até o Ano Novo, passou roupa para ter roupa para viajar. Enquanto isso, aproveitou para lavar outras roupas. Charles Aznavour tocando. A trilha sonora não combina com serviços domésticos, mas a música e os serviços domésticos até são um bom paradigma da vida que leva. Até pensou que essa cena caberia num filme do Truffaut. A trilha sonora era deslocada no tempo, acabou rindo ao pensar que passar roupa na virada de 2008 para 2009 também não é lá uma coisa muito contemporânea.

Que modernidade é essa que ainda faz as pessoas serem escravas de um ferro de passar? Talvez aí a trilha sonora faria sentido. Imaginou a série de compromissos natalinos e nos presentes que ainda faltavam. Odeio Natal, já havia repetido isso na fila da livraria e esperando mesa num bar. Acabaram-se as roupas, a máquina ainda estava funcionando, e as 40 canções de ouro do Aznavour acabaram também. Se não enfrentasse o sábado, não daria tempo de fazer tudo que se propusera no último sábado antes do Natal.

No entanto, a vontade era aprofundar ainda mais o lapso temporal da manhã e tomar um drink. O que tomaria Danuza Leão? Um Ricard? Uma vodka-au-poivre? Que belo nome para um Bloody Mary! Se a tivesse em casa, abriria uma garrafinha de Malzbier que é sua referência etílica a almoço em casa. Se pelo menos tivesse o que comer em casa, manteria o clima de sábado em casa. Ao relembrar dos compromissos do Natal teve vontade de sair para comprar algumas coisas no mercado, fazer um bom almoço e tomar sua Malzbier e depois ler um livro, dormir e curtir a casa.

Ficou com tanta vontade de ficar só em casa. Faz tanto tempo que não fazia isso.

A pichadora da Bienal

Esta história sobre a pichadora da Bienal é bem emblemática da falta de conceito nas discussões nacionais. Como em todo o assunto existe um deslocamento dos fatos, e uma mistura de argumentos que só servem para encobrir e mascarar o imenso cinismo que é típico destes anos Lula.

A menina é pichadora e ponto. Uma menina que conforme noticia a Folha hoje gosta de pichar prédios altos para olhar a cidade, sentir o vento e enganar porteiros e moradores, é criminosa e deve ser punida com a Lei. Mas ela não só pichou um simples prédio, pichou um prédio público que é símbolo da cidade e como tal deve ser punida de modo simbólico, exemplar.

Concordo que a Bienal do vazio tinha alguns problemas conceituais, que a arte é elitista e marginaliza e tudo mais. O problema não é a Bienal, não é o elitismo das artes, não é a falta de financiamento a novas formas de artes. O problema chama-se vandalismo, não é uma discussão sobre a política de arte, que até pode ser feita num segundo momento, depois de punida a pichadora de maneira exemplar.

Quando o ministro da cultura do governo federal pede ao governador do Estado que interceda pela menina, além de mostrar que não entende o funcionamento do Estado, pede um jeitinho, e é aí que se mostra toda a face do governo Lula. É um governo que despreza o Estado formal e governa com jeitinhos, com platéia e palanque. Um governo que está acostumado a falar uma coisa em público e fazer outra em privado (como no caso da MP da crise, que foi mandada ao congresso no mesmo dia que o presidente falava a petroleiros que não é um governo de pacote). O ministro achou que uma simples ligação camarada ao governador poderia livrar a pichadora, que se transfigurava numa artista marginal, apagando seu passado vândalo. Provavelmente ganhará uma bolsa artista marginal e receberá do governo federal para continuar espalhando sua arte. O que vai totalmente ao contrário da cidade que apóia e referendou na eleição municipal: a Lei Cidade Limpa.

O pior de tudo isso, no entanto, é a postura de outro ministro, o dos Direitos Humanos, que ao se referir ao caso, disse que nem Daniel Dantas passou tanto tempo na cadeia. Veja bem, o ministro dos Direitos Humanos está condenando a priori um cidadão. O ministro entrou na onda de linchamento público que o próprio Dom Sebastião saído do mar, o delegado Protógenes, iniciou, rompendo qualquer vínculo com a legalidade. Senhor Ministro dos Direitos Humanos, talvez seja necessário o senhor rever quais são os objetivos da sua pasta! Se for para defender os direitos humanos, eles têm que ser universais, de Daniel Dantas à pichadora da Bienal, de torturados a torturadores, de terroristas a suas vítimas. Todos têm direito a julgamentos limpos e uma norma jurídica transparente. Feliz Daniel Dantas que têm advogados bons e policiais tão ruins, que não souberam instruir o inquérito de maneira legal. Pobre pichadora que não tem um advogado tão bom e que não pode contar com uma defensoria pública eficiente, e é ineficiente, porque está presa a guilda dos advogados que só quer o dinheiro fácil do Estado, sem se comprometer com resultados, como queria o governador Serra.

Enfim, criou-se uma celeuma numa cidade degradada pela ação dos vândalos. A menina é uma criminosa pega em flagra. E assim eu acredito que essa história deveria seguir.

Vou por uma frase bem jundiaiense para terminar essa história. Como faltou cinta na infância desta menina, agora o Estado tem que se mobilizar, prendendo, julgando. Triste é ver dois ministros envolvidos em uma história simples e com final feliz. Uma pichadora foi pega pela polícia, e a sociedade deve comemorar.

quinta-feira, dezembro 11, 2008

Odoiá Odum

Ó meu pai verdinho de Odum
Dai-me forças para abandonar o computador
Fazei com que eu entenda de Ecologia
E passe no concurso do Ibama!



A forma e o conteúdo


O Jornal Nacional acabou de mostrar uma reportagem sobre o julgamento no Supremo da demarcação da reserva Raposa/Serra do Sol. Muito bem, foram 8 votos a favor, um pedido de vista do ministro Marco Aurélio de Mello e uma votação favorável com 18 condições do ministro Direito.

A reportagem foi até Roraima e mostrou lindos campos de arroz dentro da reserva, alguns campos a um mês da colheita (o lindo não carrega ironia, o arrozal é uma das plantações mais bonitas que eu já, só perde para a plantação de girassol) e mostrava o medo de não se poder colhê-lo. Mostrou depoimentos de indígenas que hoje trabalham nos arrozais, citou o número de empregos que podem deixar de existir com a medida.

Ao fim, mostrou um índio com um boné hediondo e com um sotaque ignóbil dizendo que as condições impostas pelo ministro Direito não estavam bem e que os índios iriam discuti-las, e o repórter insinuou que os índios podiam se rebelar.

Enfim, uma reportagem totalmente neutra (agora sim estou sendo irônico). Não falou que os arrozais são ilegais, não falou sobre a importância da demarcação contínua, se concentrou em tudo que tinha de negativo na proposta, e não foi capaz de citar nada a favor da demarcação.

Eu sei o nome dos 11 ministros do Supremo!

Confesso que não foi com nenhum orgulho que cheguei a afirmação acima. Vi uma foto do ministro Ricardo Lewandowsky dormindo na sessão sobre a demarcação da Reserva Raposa Serra do Sol e comecei a comentar mentalmente a sessão. Estava esperando o Beto para almoçar e tinha tempo. Fui citando um a um e me dei conta que sabia o nome dos 11!

Em outros tempos isso seria um orgulho pra mim. Na hora que me dei conta do título lembrei de uma coluna no blog do Josias de Souza onde ele dizia que ultimamente a política é feita para alguns apaixonados e para os comentaristas, passando ao largo da maioria da população. Talvez acompanhe política como quem acompanha uma novela, o que me deixa um pouco longe da população.

No fim vi que tudo era uma imensa besteira. Almocei, trabalhei muito e só fui lembrar da cara do Ricardo Lewandowsky quando abri o uol.

Acho que a Caras deveria cobrir a vida dos ministros, já pensou, ministra Carmem Lucia na Ilha de Caras, ministro Eros Grau no Castelo de Caras. Hoje, participação da ministra Ellen Gracie no Altas Horas. Isso aumentaria o número de pessoas que sabem o nome dos ministros, e eu me sentiria mais incluído!

Para variar, Lula escolheu o pior caminho...

Nunca é demais falar, embora o James me pinte como um reaganomic, eu sou um social-democrata. Que nas palavras críticas de Marx é uma pessoa que acredita poder conciliar o capital e o trabalho (o que é inconciliável na teoria marxista), prevalecendo o trabalho, dentro de um regime de democracia burguesa. Mas, o trabalho só prevalecerá pela ação do Estado, uns acham que essa ação tem que ser direta, através de Estatais e de boquinhas, outros, acham que essa ação pode ser feita de maneira bem mais diversa, e longe da ojeriza ao capital privado.

Considerando o momento de crise, e crise externa, cabe ao Estado aumentar sua ação de forma a prevalecer o nível de emprego, a movimentação da economia e pode fazer isso de maneira democrática e ambientalmente sustentável (o ambiente sustentável e a economia sustentável). Num momento de crise, onde a resolução se passa pelo aumento do investimento do Estado, Lula deu um sinal que ele sim é um bom adepto de Reagan.

Afinal, corte de imposto para a indústria automobilística num cenário de caos urbano em que vivemos, nada mais é do que o não-pensar na realidade brasileira. Mesmo que a indústria automobilística tenha uma cadeia produtiva que empregue consideravelmente, num Estado como o de São Paulo, onde Lula nunca ganhou uma eleição, existiriam outras formas de alavancar o investimento, sem ser a renúncia fiscal!

Renúncia fiscal num governo que é totalmente irresponsável fiscalmente é criar um monstro perigoso para o próximo presidente. Mesmo porque, vemos como a ação do Estado sob o governo Lula é débil, uma vez que o PAC está emperrado e o Estado inchado (o funcionalismo gasta hoje o que gastava em 1996, jogando por terra todo o esforço do governo Fernando Henrique para enxugá-lo, e convenhamos, este inchaço não é um inchaço de eficiência).

Não seria o caso de estimular uma revolução de transporte alternativo, de mobilizar a construção de moradia populares, de incentivar ainda mais o saneamento. O caminho que Lula escolheu de maneira nenhuma pensa no Brasil e sim em quem não votou no presidente em 2006, a classe média. Afinal, os funcionários da indústria automobilística são a “elite” do operariado e os beneficiados com a nova tabela do IR não são seus votos cativos. O presidente com esta medida abandonou os adeptos das bolsas e tenta atrair os adeptos da Bolsa.

Realmente Lula quer o voto de todos os brasileiros.

Argumento interessante

Vi num blog da folha um comentário de César Maia que me fez pensar muito. Considerando que a pobreza é medida em dólar, a pobreza no Brasil aumentou desde a desvalorização...