Eu não tenho nenhuma dúvida sobre em quem vou votar nas eleições deste ano. Acho que em cenários extremamente polarizados é uma covardia não tomar partido, mesmo com ressalvas. Já tinha tomado partido antes da polarização e isso que poderia comprometer minha análise, num cenário como o tal, me deixa mais a vontade uma vez explicitada minha escolha.
No entanto, sinto falta há algum tempo e acredito que chegaremos ao extremo este ano da absoluta falta de debates. É como se o país só precisasse de metas, de um objetivo, quando, penso eu, o mais importante é o processo onde se definem essas metas e como se as atinge.
Sei que o discurso é batido e clichê, mas como num mundo onde os interesses são cada vez mais difusos, numa sociedade multifacetada que se agrupa e se dissolve a favor de diferentes assuntos pode sobreviver a um nós-contra-eles a que estamos sendo submetidos? É necessária uma radicalização da democracia de forma que todos os interesses possam ser discutidos e decididos.
Ao focar suas campanhas em temas centrais, onde uma espécie de consciência já criou verdades absolutas, as campanhas buscam a todos, atingem a todos, mas a poucos em específico. Se fossem levantadas bandeiras pelas quais a sociedade ainda não criou o certo e o errado, poderíamos liberar forças, anseios e desejos que talvez nem imaginemos que existam.
Neste ponto muito me agrada campanhas como a da Soninha e do Gabeira para prefeito em 2008, da Heloísa Helena e do Plínio Arruda Sampaio para presidente e governador em 2006 e agora da Marina Silva e do Gabeira para presidente e governador. Com suas campanhas mais abertas, discutindo, às vezes, temas periféricos para os ortodoxos, eles podem liberar atos falhos nesta consciência coletiva que pode ser muito mais reformista que o próprio discurso reformista.
Um discurso feminista de fato produziria discussões no mundo do trabalho, da assistência social, da saúde pública muito mais interessantes que discussões sobre o trabalho, a assistência social ou a saúde pública. O mesmo pelo movimento ambientalista, pela reforma universitária, pela progressão continuada na escola pública, para uma política energética. Somente fora do lugar comum poderemos encontrar a sociedade de fato em sua atividade, ávida por participar de discussões que a envolva e a motive. Longe do superávit, da estabilidade da moeda, da responsabilidade fiscal, do assistencialismo ou de quem fez mais ou cresceu mais.
Que sejamos vagarosos em incluir o povo no discurso, mas que sejamos fervorosos na defesa de uma democracia real e participativa, que favoreça o surgimento de movimentos sociais, não pelo financiamento do Estado, mas sim pela possibilidade de verem seus objetivos discutidos por todos.
Adoraria ver isso na República que estamos construindo!
Nenhum comentário:
Postar um comentário