terça-feira, junho 10, 2008

A Zona Leste é insustentável!

Transumância
Quando entrei na CPTM achava graça da enorme quantidade de gente e do tumulto que isso gerava na estação da Luz devido ao Expresso Leste. Passado mais de dois meses, a simples idéia que vou passar por ali já causa um certo mal-estar, uma pequena depressão. È muito triste ver e viver esse tumulto. Existe uma pressão muito grande sobre mais de 800 mil habitantes que estão retornando para a zona leste pela CPTM (sem contar os mais de 1 milhão de habitantes que estão retornando pelo metrô). Empurra-empurra, aperto, brigas diárias, depredações, vandalismo, vagões crentes. Todos os dias expomos muita gente a uma condição muito irreal, sem contar a irrealidade de obrigarmos as pessoas a viajarem mais de 3 horas por dia para vir, e mais 3 horas para voltar com todo esse tumulto.

A minha primeira impressão é que tudo se resolveria por uma técnica adequada na movimentação destas pessoas. Acho que a função de engenharia é essa mesma, realizar de uma maneira economicamente viável, ambientalmente sustentável e democraticamente as ambições de uma sociedade. Mas até que ponto essa transumância é viável. Será que a sociedade sabe o quanto custa manter um crescimento desordenado desta maneira? Será que sabemos qual o impacto ambiental disso tudo? Será que não estamos expondo estas pessoas a preconceito e diminuindo as possibilidades de se realizarem após todo esse tempo e esse tumulto?

O mais louco desta discussão é que num primeiro momento se culpa o morador (quem mandou querer morar em Ferraz de Vasconcelos!). Ao mesmo tempo a tentação para tendências autoritárias é gigantesca. O difícil é imaginar uma solução para um problema destas proporções de maneira democrática e inclusiva. E aí nasce um problema grande, será que o município é mesmo o lugar correto de enfrentarmos este problema. Afinal, o Estado inteiro paga para transportarmos essas pessoas. Cabe lembrar que esse não é um problema consolidado, é um problema dinâmico, a zona leste tem taxas de crescimento superiores às do centro.

Num primeiro momento, acho que precisaríamos de dados certos sobre o impacto dessa migração em massa. A sociedade precisa saber que isso ocorre. Gente morrerá sem saber o que é o Expresso Leste, pagará por isso e não saberá. Sofrerá o impacto e não saberá. Acho que o passo seguinte será conseguir criar pólos de desenvolvimento nessa região. E não é o Tatuapé não! O Tatuapé está muito perto, aliás o Tatuapé é um centro gerador de congestionamentos, não de solução. A medida que vai atraindo novos empreendimentos, colocará mais carros nas ruas e não diminuirá a pressão da zona leste.

Acho interessante idéias como a USP Leste, além de educação e oportunidades são necessários empregos. E como atrair empregos para uma região tão difícil de chegar. Talvez o lado engenheiro pregue mais obras viárias de forma a acabar com o isolamento.

Especulação imobiliária

Combater a especulação imobiliária é necessário, mas, muito além de um problema social é um problema moral. Pergunte a qualquer cidadão e a maioria não condenará a especulação imobiliária. Ela nos foi vendida como uma esperteza, um olhar empreendedor do dono do imóvel. Nunca, jamais, como um ato que lesa a sociedade. Acho que o Estado, nesse caso as prefeituras, devem regulamentar os instrumentos que lhe foi dado pelo Estatuto da Cidade, e principalmente, a sociedade deve saber o quanto isso custa para ela. Está faltando marketing nesse combate, talvez esteja faltando clareza para os movimentos sociais para conseguirem frear isso.



Tumulto durante a quebra de um trem do Expresso Leste



Foram apedrejados 3 trens sendo mais de 60.000 pessoas afetadas



Estação Júlio Prestes

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