quarta-feira, setembro 02, 2009

Por um vento liberal

Todo sendero tiene su atolladero

Essa história do pré-sal talvez possa ser a alavanca necessária para começarmos a discutir o país que queremos. Não acredito nem ideologias, nem em Estados inventados, nem em Dom Sebastião saído do mar. Estado é construção, mas para construir é preciso discutir e infelizmente nestes últimos 7 anos o que menos fizemos foi isso, discutir. Não só por culpa do presidente e do oficialismo, mas também por falta de vontade da oposição em fazer oposição à um presidente popular, esquecendo que foi a vontade do povo, pelo voto, que fez da oposição, oposição!

A questão não é tão complicada assim, ela só precisa ser feita. Hoje temos um Estado do tamanho do Estado que tínhamos pré-Fernando Henrique, um Estado que se agiganta, que gasta com o funcionalismo, na crise e na prosperidade, que aparelhou toda e qualquer instituição do Estado, expurgando a contradição dos palácios e departamentos. Ao mesmo tempo, ao criar uma ilha de fantasia no serviço público federal, sugou para dentro dele todo o potencial inventivo, capaz de criar empreendimentos e fazer o setor público prosperar; afinal o governo federal paga seis vezes mais que a iniciativa privada. Não é a toa que hordas de estudantes recém formados em universidade públicas se dediquem dia e noite a ter um carguinho federal onde daqui a algum tempo terão direitos adquiridos e o patrimonialismo nosso, antropológico, cultural, fará que o governo governe para essa casta que se apoderou do Estado e não para seus pobres filhos que o sustentam.

Para os que não fazem parte da casta, fica um discurso dúbio, onde se mantém um sistema financeiro turbinado com juros altos, rebaixa de impostos para combater a crise e bolsas a disposição dos que não são da casta, nem do setor produtivo e nem do financeiro. O presente se torna fantástico, afinal o desemprego cai e a renda aumenta, mas por incrível matemática o rendimento pelo trabalho cai, a participação do trabalho na renda nacional cai mais ainda e o orçamento começa a fazer água. Nos anos 70 tivemos um ciclo de Brasil Grande que desaguou na crise dos 80. Qual o custo desta farra fiscal? Ele vale essa felicidade presente?

Eu duvido. Talvez seja um dos poucos que se mantém fiel à onda de 94. Não quero um Estado ator, quero um Estado planejador. Pouco me importa se a renda do óleo extraído venha da Petrobrás ou de qualquer outra, desde que se pague os impostos e royalties devido (sem tentar passar a perna na receita). Muitas são as demandas, cada dia crescem mais, na velocidade em que crescem os interesses difusos e coletivos, mas ao mesmo tempo que cada vez mais atores entram em cena, o espaço orçamentário é o mesmo e é preciso um choque de consciência e de democracia para fazer este arranjo sem empurrar com a barriga a decisão. A decisão deve ser feita na eleição, não deve ser escondida da eleição. Decisões implicam em tomada de consciência e muitas vezes na não-satisfação dos desejos, mas adultos trabalham com suas frustrações. Tentar atender a todos num malabarismo que nos levará a inflação e ao populismo é infantilidade.

Questões como o déficit da previdência, o agigantamento do setor público, a diminuição do papel do trabalho na renda nacional deve ser discutida e não escondida por um presidente popular que é popular porque fala o que todo mundo quer ouvir. Arma-se uma bomba, uma hora a bomba explode. A falta de discussão é prejudicial à democracia e somente facilita um clima de qué se vayan todos presente em todos os cafezinhos públicos e privados.

Chegou a hora de decisões. Haverá alguém para tomá-las? Em Gracias por el fuego, há conversa numa festa um dos personagens diz que para o Uruguai só haveriam dois caminhos: Fidel ou Stroessner. Não acredito que nosso leque de opções seja tão radical e restrito assim, mas uma hora teremos que escolher entre Cristina Kirchner ou Michele Bachelet. Eu vou de Bachelet, e você?

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