Tinha dois exemplares da revista Piauí fechados e agora que acabei outras leituras me pus a lê-los e tenho que admitir que realmente eu acho a revista Piauí uma das melhores revistas que você pode comprar numa banca. É uma revista de análise. Num tempo onde as informações são tão rápidas, as versões e os fatos mudam a todo instante, lendo a Piauí você tem o tempo a seu favor.
Como hoje nenhum fato é novidade já que tudo acontece em tempo real, acho que o futuro de um jornal e de uma revista está nos colunistas, que são pessoas que podem interpretar o mundo de informações publicadas a exaustão dando a elas um cenário, compondo um quadro onde as notícias são elementos. E aí entra a Piauí compondo o mundo atual sem nenhum furo ou novidade, e sim, conectando as notícias que passaram, que foram importantes e que pela enxurrada de notícias acabaram despercebidas.
Na verdade, no título eu quis pôr uma das maiores críticas que ouço da Revista Piauí: ela é elitista, trata o mundo como se o mundo fosse Higienópolis (por isso da Rua Piauí). Rememorando as cinco últimas reportagens que li: Serra na hora da decisão (revista 37), Vidas Paralisadas, O setembro negro da Sadia, A longa guerra de Stanley McChrystal e Ilusões de Obama (revista 38); com certeza não são reportagens que possam ser resumidas numa metáfora de futebol, numa frase de efeito ou num grito de ordem.
A infelicidade do meu tempo e da minha geração é que a discussão, a discordância, a análise e o conhecimento viraram elitismo. O problema da Revista Piauí não é a Rua Piauí e sim o fato que o que ela tem de qualidade (que para mim são virtudes) não é simbolicamente apropriado por grande parte da população e o mais triste é que a parte do think tank nacional que a acusa de elitismo não considere estas qualidades como necessárias.
Neste ponto posso ser um pouco saudosista e pessimista. Mas acho que a capacidade de análise e reflexão não é mais uma virtude e ao considerá-las uma faculdade da elite, termo vago sem análise e reflexão, se faz com que o efêmero seja a grande virtude do meu tempo. Esta efemeridade ao invés de provocar a reflexão de um projeto nacional (coletivo), de classe (difuso) ou individual, abre espaço para a apropriação parcial da realidade ou da fuga da realidade (uma fuga romântica, por que não?)
Considerando o aumento do número de vagas nas universidades públicas, o Pró-Uni (virtudes do governo Lula), a internet que democratiza o pensamento (e a efemeridade), e hoje vivendo numa cidade como São Paulo, onde o acesso a cultura e ao conhecimento, gratuito ou com baixo custo é gigantesco, as reflexões da Piauí não deveriam só fazer eco na Rua Piauí e sim em qualquer rua.
sábado, novembro 14, 2009
A Revista Piauí e a Rua Piauí
sexta-feira, novembro 13, 2009
São José dos Campos
Sensação estranha de nunca ter vivido ali ao mesmo tempo em que reconhecia prédios e me lembrava dos nomes das ruas. Mudei tanto que o simbolismo que poderia existir ali não simbolizava mais nada. Era só uma cidade vazia de significados que até poderia ser resignificada caso não estivesse ali somente para buscar um documento.
O efeito colateral de viver intensamente é que não havendo espaço emocional para tanta intensidade, a intensidade do passado é totalmente decomposta; transfiguram-se alguns elementos para que estes se sintetizem com o instante presente e o restante vire uma “natureza morta” ou se perca.
De minha passagem por São José dos Campos restaram algumas manias e tiques que já foram totalmente desnaturalizados para se incorporarem em mim como se não tivessem uma origem geográfica além de mim. Restaram também alguns nomes de ruas e o banhado, paisagem maravilhosa que não me evoca sentimento algum. Não lembro de grandes alegrias nem tristezas e as pessoas viraram personagens.
quinta-feira, novembro 05, 2009
Risadas Impróprias
Sem contar a homenagem especial à Baby Consuelo que em Alô Alô Terezinha, cantou: "Menino do Rio, sabor que provoca arrepio, Jesus forever tatuado no braço...." sic.
segunda-feira, novembro 02, 2009
O Machismo e o Vestidinho
Depois de tanta luta contra o machismo, como é possível que uma mulher seja hostilizada e tenha que sair escoltada pela polícia por causa de um vestido? Como é possível que dentro de uma universidade, onde o saber de diferentes correntes é ensinado e estudado possa ter um ritual tão medieval contra a mulher? E como a imprensa, ao invés de investigar a causa de tal reação inconsciente e coletiva, de uma moral chauvinista, pode ter se concentrado apenas no vestido e não no acontecimento?
Nestas viagens de férias acabei topando com um livro fantástico do Philip Roth, Indignação, onde ele conta um caso chamado de “noite das calcinhas brancas” onde estudantes WASPs invadiram os dormitórios das meninas, expondo-as, e expondo suas calcinhas como troféus. No livro, o fato se dava num ambiente de profunda repressão sexual e de uma moral protestante ascética profunda. Agora, é possível pensar que na Uniban estamos num ambiente de profunda repressão sexual e de uma moral protestante ascética?
Para mim é machismo e nada mais que isso, machismo estimulado pela imprensa e pela universidade que é incapaz de superar este mal. Se uma mulher não pode se vestir do jeito que ela bem entender, ela não está sendo respeitada como mulher, como ser que é igual a todos. E às meninas que justificaram a barbárie pelo tamanho do vestido, estas são mais machistas ainda, já que para se posicionarem no mundo tiveram que renunciar a diferença, embarcando por conta própria no machismo reinante.
Depois de um século onde tabus sexuais foram derrubados, onde a mulher entrou no mercado de trabalho, que a mulher conseguiu se colocar no mundo não renunciando sua feminilidade e sim a ressaltando e buscando o direito de ser mulher, depois do Segundo Sexo e da geração pós-Segundo Sexo, depois de Camille Paglia, a mim, só resta a vergonha de conviver num mundo onde um vestido curto, que até pode ser inadequado, justifica o vandalismo, justifica uma caça ao diferente.