sábado, novembro 14, 2009

A Revista Piauí e a Rua Piauí

Tinha dois exemplares da revista Piauí fechados e agora que acabei outras leituras me pus a lê-los e tenho que admitir que realmente eu acho a revista Piauí uma das melhores revistas que você pode comprar numa banca. É uma revista de análise. Num tempo onde as informações são tão rápidas, as versões e os fatos mudam a todo instante, lendo a Piauí você tem o tempo a seu favor.

Como hoje nenhum fato é novidade já que tudo acontece em tempo real, acho que o futuro de um jornal e de uma revista está nos colunistas, que são pessoas que podem interpretar o mundo de informações publicadas a exaustão dando a elas um cenário, compondo um quadro onde as notícias são elementos. E aí entra a Piauí compondo o mundo atual sem nenhum furo ou novidade, e sim, conectando as notícias que passaram, que foram importantes e que pela enxurrada de notícias acabaram despercebidas.

Na verdade, no título eu quis pôr uma das maiores críticas que ouço da Revista Piauí: ela é elitista, trata o mundo como se o mundo fosse Higienópolis (por isso da Rua Piauí). Rememorando as cinco últimas reportagens que li: Serra na hora da decisão (revista 37), Vidas Paralisadas, O setembro negro da Sadia, A longa guerra de Stanley McChrystal e Ilusões de Obama (revista 38); com certeza não são reportagens que possam ser resumidas numa metáfora de futebol, numa frase de efeito ou num grito de ordem.

A infelicidade do meu tempo e da minha geração é que a discussão, a discordância, a análise e o conhecimento viraram elitismo. O problema da Revista Piauí não é a Rua Piauí e sim o fato que o que ela tem de qualidade (que para mim são virtudes) não é simbolicamente apropriado por grande parte da população e o mais triste é que a parte do think tank nacional que a acusa de elitismo não considere estas qualidades como necessárias.

Neste ponto posso ser um pouco saudosista e pessimista. Mas acho que a capacidade de análise e reflexão não é mais uma virtude e ao considerá-las uma faculdade da elite, termo vago sem análise e reflexão, se faz com que o efêmero seja a grande virtude do meu tempo. Esta efemeridade ao invés de provocar a reflexão de um projeto nacional (coletivo), de classe (difuso) ou individual, abre espaço para a apropriação parcial da realidade ou da fuga da realidade (uma fuga romântica, por que não?)

Considerando o aumento do número de vagas nas universidades públicas, o Pró-Uni (virtudes do governo Lula), a internet que democratiza o pensamento (e a efemeridade), e hoje vivendo numa cidade como São Paulo, onde o acesso a cultura e ao conhecimento, gratuito ou com baixo custo é gigantesco, as reflexões da Piauí não deveriam só fazer eco na Rua Piauí e sim em qualquer rua.

2 comentários:

Unknown disse...

Muito bom o Blog, fizeste também uma boa faculdade.
Luana

Renato disse...

Obrigado!