quarta-feira, março 09, 2011

"O que nós vamos fazer com a unidade?"

Fiquei muito surpreso com o discurso de François Mitterrand “O que nós vamos fazer com a unidade?” feito na assembleia de reorganização do Partido Socialista. Ali ele pede aos socialistas, de qualquer orientação, que tenham vocação para a maioria, isto é, que se preparem para ocupar o governo e ganhar as eleições e que ganhar as eleições poderia ser a grande revolução; não o ganhar em si, mas sim realizar as promessas que fariam para ganhar a eleição. Mitterrand pede uma análise da situação política, determina estratégias e nove anos depois do discurso ele assume a presidência francesa.

Nasci um ano depois da eleição Mitterrand e por metade da minha vida ele foi presidente francês; confesso que tinha certo estranhamento com ele, o imaginava politicamente fraco, dentro de governos de coabitação com a RPR/UDF (atual UMP) como com Édouard Balladour. No entanto, tanto a biografia do Truffaut como o documentário do Yves Saint-Laurent colocam a eleição de Mitterrand como um fato tão grandioso que fiquei bem curioso por este acontecimento.

O engraçado, ou melhor, o contraditório do discurso é que ele cabe bem a crise do PSDB e do DEM, que grosso modo seria a UMP francesa, o outro pólo do PS (ok, tenho a mais profunda convicção que por mais que Giscard d’Estaign tenha sido um estadista, não há um tucano histórico que não deva ter comemorado a vitória de Mitterrand). Talvez alguém no PSDB precise lembrar que muitos eleitores podem vir a votar no partido não porque seguem a risca as idéias do partido, mas sim porque há uma identificação entre o que o partido faz e diz e que isso dá confiança e pode trazer votos de pessoas que não aceitam a atual estrutura de governo (por incrível que pareça, no discurso de Mitterrand, ele escolhe o monopólio como o inimigo; o político, que não permite que o cidadão participe do processo político e o econômico, da mesma maneira que FHC também faz no seu “Discurso de Despedida ao Senado”; ambos privatizaram os monopólios estatais).

Para que se dê um sentido na unidade, o PSDB precisa definir seu campo, seu discurso, seus “inimigos”, seus aliados e sua estratégia. Ainda que muita gente no PSDB queira esquecer, isso já está pronto no Discurso de Despedida ao Senado do FHC, ali está a chave, mas tem que aceitar aquilo, ser coerente com o discurso. Escrevo de um dos Estados mais pobres da federação onde de um trem metropolitano precário vejo casas mais precárias ainda com adesivos de “Teotônio 45”. Essa gente votou 45, os valores defendidos não são “elitista”, são transversais, caso contrário Teotônio Villela não seria governador de Alagoas nem tampouco Alckmin teria sido eleito com a maioria dos votos em São Paulo (ou alguém acha que 51% do Estado de São Paulo é elite?).

Quem será o Mitterrand que o PSDB precisa encontrar? Será o Aécio com sua vocação conciliatória? Será o Serra com sua capacidade de desagregação? Provavelmente, o PSDB precisa mais de Fernando Henrique do que acredita precisar.

Nenhum comentário: