terça-feira, março 08, 2011

É carnaval!

Não conseguia imaginar outra coisa para os quatro dias de carnaval além de dormir e pôr a leitura em dia. Poderia ir a praia, viajar, mas só pensava na sua casa. O tempo o fez prisioneiro da casa, choveu, fez frio, a garganta inflamou, no olho apareceram terçóis que o deixaram sem nenhum tesão de por a cara na rua; cortou o indicador de uma maneira estúpida e agora estava reduzido a um homem sem o efeito pinça, o que lhe impedia até de segurar um copo da maneira como havia aprendido.

Ligar a TV se tornou um suplício, não agüentava ver nem desfiles, nem tampouco os bastidores dele. No pouco tempo que assistiu sentiu-se deslocado do mundo já que não reconhecia mais as celebridades. Leu o jornal, estudou um pouco para a pós e cozinhou. Comeu atum, estas latas não precisam de um efeito pinça para serem abertas.

Na terça-feira gorda, acordou, olhou o dia cinza, leu o jornal, checou o facebook. Já teve carnavais mais animados, já teve carnavais mais agitados, mas nunca se sentiu tão em casa num carnaval. Tinha companhia, saia de casa para dar uma volta no bairro, correu da chuva, namorou um pouco, viu filmes, se propôs a ir ao cinema e desistiu. Escutou músicas que não se escutaria no carnaval, mas que não tinha tempo para escutar no dia a dia. Visitou um casal amigo e conversaram de coisas que não tinham mais tempo para conversar.

Fez do carnaval sua pequena quaresma.

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