quarta-feira, julho 11, 2007

Sindicalização, sim ou não?


Quatro vezes por ano eu tenho que fazer incríveis discursos por uma postura que até o momento, acredito eu, seja uma postura ideológica.

A questão é a seguinte: além da contribuição compulsória sindical que nos toma um dia dos nossos salários todo mês de março, o sindicato dos vidreiros cobra dos seus filiados uma contribuição mensal de alguns caraminguás (que não são lá tão caraminguás assim). Para que você não pague os tais caraminguás você deve entregar quatro cartas durante o ano denunciando a convenção coletiva do sindicato (caso contrário lhe tungam mais 1 dia do seu trabalho).

Na minha opinião, a questão é muito simples e de foro íntimo, no entanto... Se não fosse uma lei fascista baseada numa lei do Mussolini que obriga todos os trabalhadores a ser sindicalizado baseado numa distribuição de classes e lugares (por exemplo, Sindicato dos Vidreiros do Vale do Paraíba), todos estariam fora do sindicato e se sindicalizariam voluntariamente. No entanto, a lei subverte a voluntariedade do ato e obriga os que não querem, a escrever cartas ao sindicato sinalizando sua vontade de não ser sindicalizado.

Aí vem a palhaçada. Hoje e amanhã são os dias de entregarem as tais cartas no sindicato. Cria-se uma celeuma absurda em torno da ida ao sindicato. A fábrica, vestida em pele de cordeiro, estimula (em segredo, de uma maneira não muito discreta, diga-se de passagem) que os funcionários entreguem as malditas cartas. Grupos se reúnem para almoçarem fora e passar no sindicato. A vida floresce no escritório. Esquemas de carona se armam. A grande maioria entrega as cartas.

Como o mané aqui decidiu ser sindicalizado, diz a lenda que eu sou o único do escritório, tenho que defender a minha opinião sobre essa questão, lembrando que a campanha salarial começa exatamente agora, que nossa database é dezembro, e que, querendo ou não, pouco ou não, nosso dissídio é maior que a inflação todos os anos, que para mim é uma mostra de uma boa atuação sindical. Além do mais, como a entrega é um evento social, a não-entrega se torna um ato sui generis. Alegar que você é sindicalizado é quase que afirmar que você é um alcoólatra.

Essas discussões me desgastam. Meus incríveis colegas olham para mim como se eu fosse um idiota que está dando dinheiro pro sindicato. Os mais antigos me olham como se eu fosse subversivo. No dia das cartas almoço sozinho!

Enfim, sou sindicalizado, acho interessante um contraponto ao poder da empresa, acredito que este é um bom meio de negociação, e principalmente que o escritório é um lugar onde as máscaras são muito fortes. Pago, e ultimamente tenho orgulho de pagar.



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