Esse é um termo que gosto muito em política, cristianizar: remete a candidatura de Cristiano Machado à presidência em 1950 pelo PSD, maior partido da época, e no meio da sua candidatura, o PSD apoiou Getúlio, que ganhou a eleição. A Cristiano Machado foi dada a embaixada no Vaticano como “serviço prestado”. O termo acabou sendo usado para os candidatos que são traídos por seus partidos (às vezes pelas bases, às vezes pelas cúpulas).
A candidatura Mercadante ao governo do Estado é mais um desmonte desta figura política. Já foi o formulador de políticas econômicas do PT e em 1994 resolveu atacar o Plano Real, sua certeza era tão grande que foi candidato a vice de Lula, perderam ambos. Em 1996 se lançou contra Erundina numa prévia para prefeito de São Paulo, perdeu as prévias e partiu para o tapetão fazendo com que o partido “cristianizasse” Erundina; o PT perdeu a eleição e a pressão sobre ela foi tão grande que Erundina deixou o partido. Em 1998 voltou para a câmara e em 2002 foi eleito o senador mais votado do País.
Em 2002 assisti uma palestra dele na Unicamp, não só ele, estavam também Luciano Coutinho e Maria da Conceição Tavares. Foi um festival desenvolvimentista: era preciso frear a política de FHC de desindustrialização do país, o agronegócio era um atentado a uma economia industrial como a nossa, era um absurdo um governo manter a balança comercial baseado na âncora verde. Paroles, paroles, paroles. Em 2002 Lula foi eleito, em 2003 aplicou as maiores ortodoxias existentes no país, trazendo até uma leve recessão que deve ter corado a todos aqueles que discursaram alegremente naquela sala frente à perspectiva da mudança, palavra doce que cabe na boca de qualquer oposicionista.
Mercadante foi líder do governo no Senado até 2006, líder mediano que como sua sucessora, não sabia se portar na tribuna, o não saber se portar o trouxe a disputa do governo de São Paulo, num embate de mágoas contra Marta Suplicy pela candidatura. A má educação do senador acabou com o caso dos Aloprados, onde tentara comprar um dossiê contra o governador José Serra. Calou-se, voltou ao Senado como presidente da CAE e líder da base governista, passando o cargo de líder do governo para Ideli Salvatti, senadora igualmente histérica e mal educada.
No caso Renan Calheiros, veio o eclipse de um homem. Votou contra a cassação de Renan e depois se arrependeu, parecia que o político perdera a vida própria e não mais controlava suas vontades, no caso Sarney, ameaçou renunciar à liderança devido à recusa de se investigar no conselho de ética o ex-presidente, segundo consta foi enquadrado de maneira violentíssima pelo partido e desistiu de desistir. Submergiu de cardeal e virou apenas baixo clero, mesmo sendo presidente da CAE e líder do governo. Não nos esqueçamos que como líder do governo viu a maioria parlamentar sumir e conduziu o governo à derrota na votação da CPMF (uma proposta que fora contra na oposição na câmara durante o governo FHC e que tivera que articular a favor no governo).
Pois bem, o senador mais votado da história não será candidato a reeleição, foi ungido pelo dedo presidencial candidato ao governo de São Paulo, enquanto sua inimiga no comando do partido no Estado, Marta Suplicy, será candidata à sua vaga. Vai ao sacrifício e não sabemos se é de livre vontade ou se pressão do governo. Se livre vontade, é um insensato, se por pressão, não é merecedor do Palácio dos Bandeirantes. São Paulo de qualquer maneira ganha ao perder um Senador tão opaco, tão sem brilho e sem vontades, tão arrependido de seus atos. Para a representação do Estado no Senado, antes uma histérica que um covarde!
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