terça-feira, janeiro 12, 2010

Foi o Dilúvio!

Quando se fala que houve uma catástrofe natural, naturalmente se naturaliza a catástrofe, esquecem-se as causas e todos se compadecem nas conseqüências, como se fosse a coisa mais natural, uma sina, a catástrofe natural. No entanto, não foi Deus que fez a cheia do Rio Paraitinga e puniu São Luiz pelo carnaval famoso da cidade. Talvez se perguntássemos ao índio que deu o nome de Paraitinga ao rio ou ao português que pôs São Luiz na garganta dele, ambos confirmariam que o rio enche. A única vez que fui a São Luiz do Paraitinga, no estio, vi uma rua inundada e marcas nas casas da inundação anterior, de tal forma que cheia não é uma ato divino e sim algo recorrente.

O que quero dizer é que ao invés da comoção, das promessas de reconstrução, da comunhão entristecida da vanguarda preocupada com a reconstrução do monumento histórico e do carnaval folclórico, não houve um jornal que se propôs a investigar a causa da tragédia. Foi a chuva, oras. Mas chuva, embora aleatória, não é um fenômeno desconhecido e o que não se conhece da chuva, se mede, se faz estatística e estudar chuva é uma ciência; prever enchentes, não quando, mas como, é o que faz os hidrólogos e que deveria fazer um comitê de bacias, ainda mais de uma bacia, como a do Rio Paraíba do Sul que tem praticamente todo seu potencial hidrelétrico explorado e o comitê de bacia mais bem estabelecido do país.

No mínimo se deveria fazer um inquérito e chamar o presidente do comitê de bacia e o chefe do DAEE para explicar como uma curva de remanso de uma hidrelétrica pode inundar uma cidade e chamar o chefe da Defesa Civil para explicar como numa cidade acostumada com cheias não houve nenhum alerta.

Estas tragédias de começo de ano são tão previsíveis que até dá preguiça em comentar. O problema é que o foco é sempre na solidariedade do povo comovido e na autoridade que viajou. Deste mal já padeceram tucanos como Eduardo Azeredo e petistas como a Marta Suplicy, padeceu este ano Sérgio Cabral e se eu fosse governador ou prefeito nunca tiraria férias no ano novo. No entanto, ninguém se pergunta do porquê das tragédias e fica tudo como se fosse uma tragédia que aconteceu para unir o povo, este ente que sem a participação das autoridades é capaz de se ajudar, já que somos brasileiros, povo bom que se une na adversidade, que não desiste nunca. Balela.

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