Fui ao Museu da Língua Portuguesa e encontrei esta parte do Sermão do Espírito Santo do Padre Vieira, depois de pensar uns dias nela, acho que ela representa bem a difícil missão da instalação de uma democracia moderna no Brasil.
"Há umas nações naturalmente duras, tenazes e constantes, as quais dificultosamente recebem a fé e deixam os erros de seus antepassados; resistem com as armas, duvidam com o entendimento, repugnam com a vontade, cerram-se, teimam, argumentam, replicam, dão grande trabalho até se renderem; mas, uma vez rendidos, uma vez que receberam a fé, ficam nela firmes e constantes, como estátuas de mármore: não é necessário trabalhar mais com elas. Há outras nações, pelo contrário — e estas são as do Brasil —, que recebem tudo o que lhes ensinam, com grande docilidade e facilidade, sem argumentar, sem replicar, sem duvidar, sem resistir; mas são estátuas de murta que, em levantando a mão e a tesoura o jardineiro, logo perdem a nova figura, e tornam à bruteza antiga e natural, e a ser mato como dantes eram. É necessário que assista sempre a estas estátuas o mestre delas: uma vez, que lhes corte o que vicejam os olhos, para que creiam o que não vêem; outra vez, que lhes cerceie o que vicejam as orelhas, para que não dêem ouvidos às fábulas de seus antepassados; outra vez, que lhes decepe o que vicejam as mãos e os pés, para que se abstenham das ações e costumes bárbaros da gentilidade. E só desta maneira, trabalhando sempre contra a natureza do tronco e humor das raízes, se pode conservar nestas plantas rudes a forma não natural, e compostura dos ramos."
E é isso, aceitou com grande docilidade e facilidade o choque do capitalismo, se beneficiou da modernização do país, viu a eficiência do setor privado, mas o tempo passou, o mato cresceu e agora todo mundo quer ser funcionário púbico ineficiente, tem medo da privatização e acha até que a própria democracia não é lá tão elementar assim.
Vamos ver "Lula, o filho do Brasil" e esquecer de Responsabilidade Fiscal, Reforma da Previdência que essas coisas dão muito trabalho e é melhor assistir um filme num cinema itinerante do ministério da Cultura que foi criado exatamente para isso...
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