segunda-feira, maio 21, 2007

Crime de Mestre


Domingo no cinema. Fui assistir a Crime de Mestre. Gostei do filme. História de Tribunal, certo suspense.

No entanto a justiça ali caminha em uma tênue linha moral que é interessante observar. O filme mostra um assassino que conhecendo a lei, planeja o crime perfeito. Embora existisse a consciência do crime, e até a confissão do criminoso, não existiam provas para que fosse considerada a culpa.

Essa busca de uma prova incriminadora acaba se tornando urgente frente a possibilidade de liberação do criminoso pela falta de provas. Em um momento, a promotoria se vê envolvida a plantar uma prova de forma a conseguir a condenação do assassino. Devo lembrar que não existe dúvida que o acusado é o assassino, o que não existe é uma prova que permita sua condenação.

O jeito que a história é contada faz com que o público comece a desejar que o promotor ultrapasse a linha da justiça e realmente consiga sua condenação. Aí mora o perigo. É incrível como a platéia fica instigada a querer que a promotoria ultrapasse esta linha e é igualmente incrível como ela fica decepcionada quando o promotor se mantém nesta linha.

A lembrança neste caso é de Menina Má.com, onde uma menina resolve fazer justiça com suas próprias mãos e o filme, e a reação do público a absolve. Supera-se o justo na busca do certo, criando uma lógica muito mais simples que a lógica do direito.

Por sorte (na verdade esse por sorte é uma opinião minha, afinal estava realmente preocupado com o precedente que o filme poderia abrir), o promotor se volta novamente para a justiça como forma de incriminar o culpado. Da mesma forma que o acusado usou o direito para se safar num primeiro instante (e ao mesmo tempo causar uma afronta ao promotor), o promotor usou do direito para pô-lo no banco dos réus.

Maria Antonieta e a ética revolucionária.

Estou a umas 80 páginas da morte de Maria Antonieta, e o filme me fez rever uma posição interessante na biografia. Como a revolução altera alguns aspectos éticos importantes. O fim da deidade do rei que abre espaço a uma política de insultos e o regicídio que não fazia parte da ética anterior.

Será que a presença de tantos filmes onde a justiça é superada frente a uma noção de certo cada vez mais maniqueísta não é um sintoma de uma nova ética que está sendo criada? Afinal superou-se uma política de direitos e deveres para uma simplificação da discussão (vou pôr aqui um momento que talvez seja clave deste movimento, a eleição de Reagan e a queda do muro, que abriu caminho para uma globalização de idéias simplificadas como o mercado).

Depois destes dois filmes, e vendo o apoio cada vez maior da pena capital no país, começo a ficar preocupado com isso.

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