segunda-feira, maio 14, 2007

Paroles, paroles, paroles


Mas é só a Economia?

Tenho olhado com interesse o desenrolar do PAC, um olhar de uma perspectiva diferente do que tenho olhado política ultimamente; talvez, pela primeira vez sem resquícios de faculdade, com um olhar de quem trabalha.

Na minha visão de trabalhador, vejo a economia indo bem, obrigado. Nestes dois anos que trabalho, tive dissídios maiores que a inflação do período, que me converte em um trabalhador com aumento real de salário. Ao mesmo tempo, talvez por descuido, talvez por falta de atenção, não tenho visto carestia, aumento de preços, no máximo variações sazonais. Os altos juros me afetam, uma vez que estou numa fase de expansão de crédito, e de dívida. Pago um carro em n parcelas, e isso me custa caro.

Por outro lado, talvez viva na parcela brasileira que tem um crescimento francês, imagino eu que na França as pessoas também tenham reajustes iguais ao meu dissídio e pagam o mesmo nível de impostos como eu. Embora eu não usufrua nenhum serviço público. Sou petit-bourgeois, vou trabalhar de carro, utilizo serviço de saúde privado; contribuo para a previdência pública, mas apostei minhas fichas na previdência privada.

Quando soube que uma parcela da população brasileira vive um crescimento chinês, fiquei feliz em saber que pelo menos meu imposto de renda estava sendo utilizado para promover uma diminuição da desigualdade social. Fiquei mais feliz ainda quando soube que a diferença entre o salário das mulheres e dos homens caiu, assim como a dos negros e dos brancos. A diminuição da desigualdade foi um tema importante para que eu deixasse o homem trabalhar, superei grandes obstáculos ideológicos para votar no Lula nas últimas eleições.

No entanto, existem alguns problemas graves que venho observando. Até que ponto é só a economia que deve reger a política no Brasil.

Mesmo tendo uma “opção pelos pobres”, este governo é um governo de banqueiros e industriários. Governa com olhos para o mercado financeiro, faz agrados getulistas ao patronato, operários, servidores e uma grande classe amorfa de dependentes das bolsas que o Estado mãe oferece.

Ao mesmo tempo que possui um discurso progressista, estamos vendo uma asfixia da sociedade civil. Sindicatos, partidos de oposição, Igreja, igrejas, estão todos num balaio que sustentam o governo, seja por apoio direto ou chapa-branca.

Não sei qual é o caminho pelo qual seguiremos, mas acredito que muito do discurso progressista vai fazer com que a sociedade retome seu papel. Essa população chinesa precisará de serviços, sentirá o impacto e vai querer viver como a população francesa.

(A analogia está péssima, mas acho que é fato que uma parte da população brasileira está auferindo ganhos que nunca teve, enquanto uma outra parte vive estagnada)

Neste momento, acredito que caminharemos para um momento surpreendente da sociedade brasileira, que pode ser um momento de afirmação de valores democráticos. Não será possível abdicar de uma discussão profunda sobre a questão ambiental, sobre a afirmação de direitos humanos, sobre a expansão de direitos civis (aborto, casamento gay, estado laico) e aí sim sobre até onde a economia regulará o direcionamento da sociedade (que faremos com a aposentadoria? Que faremos com quem está na informalidade?).

Quando pensei no argumento deste texto, me pareceu claro, que poderia caber a classe média, a classe francesa, a vanguarda deste movimento, que poderia levar esta nova massa que está sendo beneficiada pela redução da desigualdade a uma experiência mais radical de liberdades. Talvez essa classe média espremida financeiramente, mas filha das experiências libertárias do início da nova república pudesse ser a guia de uma nova guinada de liberdades no Brasil.

Talvez a lembrança do Marx como esta classe média é a traidora da história me deixou um pouco pessimista, talvez por lembrar a comoção dos meus pares pela visita do Papa, ou pelos votos no Clodovil, pelo Alckmin, pelo discurso religioso-obscurantista cada vez mais presente na tevê.

Mas que seria interessante, seria.

Selvagem?

A polícia apresenta suas armas:
Escudos transparentes, cassetetes, capacetes reluzentes,
E a determinação e manter tudo em seu lugar.

O governo apresenta suas armas:
Discurso reticente, novidades inconsistentes
E a liberdade cai por terra aos pés de um filme de Godard.

A cidade apresenta suas armas:
Meninos nos sinais, mendigos pelos cantos
E o espanto está nos olhos de quem vê o grande monstro se criar.

Os negros apresentam suas armas:
As costas marcadas, as mãos calejadas
E a esperteza que só tem quem ta cansado de apanhar.

Crepúsculo do Macho

Já até estou vendo a cara do Maurício quando ler o que eu vou escrever aqui. Mas acho que uma das experiências mais libertárias que tive foi ler “Crepúsculo do Macho” do Gabeira. Foi um pouco antes da descoberta dos interesses difusos!

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