sábado, dezembro 20, 2008

Sábado a la mañana

Acordou. Por causa do feriado de Natal que praticamente o deixará sem faxina até o Ano Novo, passou roupa para ter roupa para viajar. Enquanto isso, aproveitou para lavar outras roupas. Charles Aznavour tocando. A trilha sonora não combina com serviços domésticos, mas a música e os serviços domésticos até são um bom paradigma da vida que leva. Até pensou que essa cena caberia num filme do Truffaut. A trilha sonora era deslocada no tempo, acabou rindo ao pensar que passar roupa na virada de 2008 para 2009 também não é lá uma coisa muito contemporânea.

Que modernidade é essa que ainda faz as pessoas serem escravas de um ferro de passar? Talvez aí a trilha sonora faria sentido. Imaginou a série de compromissos natalinos e nos presentes que ainda faltavam. Odeio Natal, já havia repetido isso na fila da livraria e esperando mesa num bar. Acabaram-se as roupas, a máquina ainda estava funcionando, e as 40 canções de ouro do Aznavour acabaram também. Se não enfrentasse o sábado, não daria tempo de fazer tudo que se propusera no último sábado antes do Natal.

No entanto, a vontade era aprofundar ainda mais o lapso temporal da manhã e tomar um drink. O que tomaria Danuza Leão? Um Ricard? Uma vodka-au-poivre? Que belo nome para um Bloody Mary! Se a tivesse em casa, abriria uma garrafinha de Malzbier que é sua referência etílica a almoço em casa. Se pelo menos tivesse o que comer em casa, manteria o clima de sábado em casa. Ao relembrar dos compromissos do Natal teve vontade de sair para comprar algumas coisas no mercado, fazer um bom almoço e tomar sua Malzbier e depois ler um livro, dormir e curtir a casa.

Ficou com tanta vontade de ficar só em casa. Faz tanto tempo que não fazia isso.

A pichadora da Bienal

Esta história sobre a pichadora da Bienal é bem emblemática da falta de conceito nas discussões nacionais. Como em todo o assunto existe um deslocamento dos fatos, e uma mistura de argumentos que só servem para encobrir e mascarar o imenso cinismo que é típico destes anos Lula.

A menina é pichadora e ponto. Uma menina que conforme noticia a Folha hoje gosta de pichar prédios altos para olhar a cidade, sentir o vento e enganar porteiros e moradores, é criminosa e deve ser punida com a Lei. Mas ela não só pichou um simples prédio, pichou um prédio público que é símbolo da cidade e como tal deve ser punida de modo simbólico, exemplar.

Concordo que a Bienal do vazio tinha alguns problemas conceituais, que a arte é elitista e marginaliza e tudo mais. O problema não é a Bienal, não é o elitismo das artes, não é a falta de financiamento a novas formas de artes. O problema chama-se vandalismo, não é uma discussão sobre a política de arte, que até pode ser feita num segundo momento, depois de punida a pichadora de maneira exemplar.

Quando o ministro da cultura do governo federal pede ao governador do Estado que interceda pela menina, além de mostrar que não entende o funcionamento do Estado, pede um jeitinho, e é aí que se mostra toda a face do governo Lula. É um governo que despreza o Estado formal e governa com jeitinhos, com platéia e palanque. Um governo que está acostumado a falar uma coisa em público e fazer outra em privado (como no caso da MP da crise, que foi mandada ao congresso no mesmo dia que o presidente falava a petroleiros que não é um governo de pacote). O ministro achou que uma simples ligação camarada ao governador poderia livrar a pichadora, que se transfigurava numa artista marginal, apagando seu passado vândalo. Provavelmente ganhará uma bolsa artista marginal e receberá do governo federal para continuar espalhando sua arte. O que vai totalmente ao contrário da cidade que apóia e referendou na eleição municipal: a Lei Cidade Limpa.

O pior de tudo isso, no entanto, é a postura de outro ministro, o dos Direitos Humanos, que ao se referir ao caso, disse que nem Daniel Dantas passou tanto tempo na cadeia. Veja bem, o ministro dos Direitos Humanos está condenando a priori um cidadão. O ministro entrou na onda de linchamento público que o próprio Dom Sebastião saído do mar, o delegado Protógenes, iniciou, rompendo qualquer vínculo com a legalidade. Senhor Ministro dos Direitos Humanos, talvez seja necessário o senhor rever quais são os objetivos da sua pasta! Se for para defender os direitos humanos, eles têm que ser universais, de Daniel Dantas à pichadora da Bienal, de torturados a torturadores, de terroristas a suas vítimas. Todos têm direito a julgamentos limpos e uma norma jurídica transparente. Feliz Daniel Dantas que têm advogados bons e policiais tão ruins, que não souberam instruir o inquérito de maneira legal. Pobre pichadora que não tem um advogado tão bom e que não pode contar com uma defensoria pública eficiente, e é ineficiente, porque está presa a guilda dos advogados que só quer o dinheiro fácil do Estado, sem se comprometer com resultados, como queria o governador Serra.

Enfim, criou-se uma celeuma numa cidade degradada pela ação dos vândalos. A menina é uma criminosa pega em flagra. E assim eu acredito que essa história deveria seguir.

Vou por uma frase bem jundiaiense para terminar essa história. Como faltou cinta na infância desta menina, agora o Estado tem que se mobilizar, prendendo, julgando. Triste é ver dois ministros envolvidos em uma história simples e com final feliz. Uma pichadora foi pega pela polícia, e a sociedade deve comemorar.

quinta-feira, dezembro 11, 2008

Odoiá Odum

Ó meu pai verdinho de Odum
Dai-me forças para abandonar o computador
Fazei com que eu entenda de Ecologia
E passe no concurso do Ibama!



A forma e o conteúdo


O Jornal Nacional acabou de mostrar uma reportagem sobre o julgamento no Supremo da demarcação da reserva Raposa/Serra do Sol. Muito bem, foram 8 votos a favor, um pedido de vista do ministro Marco Aurélio de Mello e uma votação favorável com 18 condições do ministro Direito.

A reportagem foi até Roraima e mostrou lindos campos de arroz dentro da reserva, alguns campos a um mês da colheita (o lindo não carrega ironia, o arrozal é uma das plantações mais bonitas que eu já, só perde para a plantação de girassol) e mostrava o medo de não se poder colhê-lo. Mostrou depoimentos de indígenas que hoje trabalham nos arrozais, citou o número de empregos que podem deixar de existir com a medida.

Ao fim, mostrou um índio com um boné hediondo e com um sotaque ignóbil dizendo que as condições impostas pelo ministro Direito não estavam bem e que os índios iriam discuti-las, e o repórter insinuou que os índios podiam se rebelar.

Enfim, uma reportagem totalmente neutra (agora sim estou sendo irônico). Não falou que os arrozais são ilegais, não falou sobre a importância da demarcação contínua, se concentrou em tudo que tinha de negativo na proposta, e não foi capaz de citar nada a favor da demarcação.

Eu sei o nome dos 11 ministros do Supremo!

Confesso que não foi com nenhum orgulho que cheguei a afirmação acima. Vi uma foto do ministro Ricardo Lewandowsky dormindo na sessão sobre a demarcação da Reserva Raposa Serra do Sol e comecei a comentar mentalmente a sessão. Estava esperando o Beto para almoçar e tinha tempo. Fui citando um a um e me dei conta que sabia o nome dos 11!

Em outros tempos isso seria um orgulho pra mim. Na hora que me dei conta do título lembrei de uma coluna no blog do Josias de Souza onde ele dizia que ultimamente a política é feita para alguns apaixonados e para os comentaristas, passando ao largo da maioria da população. Talvez acompanhe política como quem acompanha uma novela, o que me deixa um pouco longe da população.

No fim vi que tudo era uma imensa besteira. Almocei, trabalhei muito e só fui lembrar da cara do Ricardo Lewandowsky quando abri o uol.

Acho que a Caras deveria cobrir a vida dos ministros, já pensou, ministra Carmem Lucia na Ilha de Caras, ministro Eros Grau no Castelo de Caras. Hoje, participação da ministra Ellen Gracie no Altas Horas. Isso aumentaria o número de pessoas que sabem o nome dos ministros, e eu me sentiria mais incluído!

Para variar, Lula escolheu o pior caminho...

Nunca é demais falar, embora o James me pinte como um reaganomic, eu sou um social-democrata. Que nas palavras críticas de Marx é uma pessoa que acredita poder conciliar o capital e o trabalho (o que é inconciliável na teoria marxista), prevalecendo o trabalho, dentro de um regime de democracia burguesa. Mas, o trabalho só prevalecerá pela ação do Estado, uns acham que essa ação tem que ser direta, através de Estatais e de boquinhas, outros, acham que essa ação pode ser feita de maneira bem mais diversa, e longe da ojeriza ao capital privado.

Considerando o momento de crise, e crise externa, cabe ao Estado aumentar sua ação de forma a prevalecer o nível de emprego, a movimentação da economia e pode fazer isso de maneira democrática e ambientalmente sustentável (o ambiente sustentável e a economia sustentável). Num momento de crise, onde a resolução se passa pelo aumento do investimento do Estado, Lula deu um sinal que ele sim é um bom adepto de Reagan.

Afinal, corte de imposto para a indústria automobilística num cenário de caos urbano em que vivemos, nada mais é do que o não-pensar na realidade brasileira. Mesmo que a indústria automobilística tenha uma cadeia produtiva que empregue consideravelmente, num Estado como o de São Paulo, onde Lula nunca ganhou uma eleição, existiriam outras formas de alavancar o investimento, sem ser a renúncia fiscal!

Renúncia fiscal num governo que é totalmente irresponsável fiscalmente é criar um monstro perigoso para o próximo presidente. Mesmo porque, vemos como a ação do Estado sob o governo Lula é débil, uma vez que o PAC está emperrado e o Estado inchado (o funcionalismo gasta hoje o que gastava em 1996, jogando por terra todo o esforço do governo Fernando Henrique para enxugá-lo, e convenhamos, este inchaço não é um inchaço de eficiência).

Não seria o caso de estimular uma revolução de transporte alternativo, de mobilizar a construção de moradia populares, de incentivar ainda mais o saneamento. O caminho que Lula escolheu de maneira nenhuma pensa no Brasil e sim em quem não votou no presidente em 2006, a classe média. Afinal, os funcionários da indústria automobilística são a “elite” do operariado e os beneficiados com a nova tabela do IR não são seus votos cativos. O presidente com esta medida abandonou os adeptos das bolsas e tenta atrair os adeptos da Bolsa.

Realmente Lula quer o voto de todos os brasileiros.

Argumento interessante

Vi num blog da folha um comentário de César Maia que me fez pensar muito. Considerando que a pobreza é medida em dólar, a pobreza no Brasil aumentou desde a desvalorização...

domingo, novembro 30, 2008

Decisão!

Em trânsito

É muito fácil andar em São Paulo. Tinha um objetivo e dois cartões. Precisava ir até a Paulista comprar um presente e levá-lo na casa de uma amiga em Perdizes e tinha a minha disposição um cartão fidelidade da STM e um cartão do bilhete único. Como não sou um usuário freqüente de ônibus entrei no metrô São Joaquim e quando fui passar o cartão tive uma dúvida cruel, usaria qual cartão?

O itinerário então teve que ser feito na minha cabeça para que pudesse fazer a escolha mais racional, entrei no metrô com o bilhete único e quando sentei no trem me convenci de que fizera a escolha correta. Afinal, depois de almoçar e comprar o presente na Avenida Paulista teria que pegar um ônibus até Perdizes, teria três horas de intervalo para pegar esse ônibus.

Assim foi feito, quando entrei no ônibus e vi que só haviam descontado R$ 1,25 fiquei com uma sensação de pessoa sábia (pessoa que nunca usa o ônibus!), de que havia feito a escolha correta. Tive alguma dificuldade para descobrir o ônibus, assim que o achei, embarquei e fui visitar Luísa.

Quando fui embora, surgiu novamente a dúvida, afinal, deveria escolher um caminho que fosse mais barato, e pensando bem seria ônibus, trocaria de ônibus indefinidamente até chegar perto de casa. No entanto, tinha uma carta na manga: como trabalho na CPTM, poderia entrar nas estações de trem metropolitano sem pagar, aí foi fácil a escolha, pegaria um ônibus até a Barra Funda e de lá, entraria pelo trem metropolitano e depois usaria a transferência gratuita da STM. Peguei o ônibus e para minha surpresa, por ser feriado ainda estava valendo meu bilhete único, cheguei na Barra Funda e entrei sem pagar pela CPTM transferindo gratuitamente para o metrô e chegando no metrô São Joaquim gastando apenas R$ 3,65. Poderia ter sido somente R$ 2,30 se tivesse utilizado o sistema de ônibus. Se tivesse utilizado o cartão fidelidade na entrada do metrô teria custado R$ 4,60 e se não fosse funcionário da CPTM e quisesse voltar para a casa de metrô a ida e a volta poderia ter custado R$ 7,00!

Em algum lugar do céu Adam Smith deve ter rido da minha preocupação com a escolha dos cartões!

sábado, novembro 29, 2008

10 anos

10 anos que saí do Colégio Técnico e 10 anos que entrei na Unicamp.

O problema nem é tanto a questão do tempo que passa, acho que com isso sou bem resolvido. Mas interessante vai ser encontrar pessoas que depois desse tempo todo, serão praticamente desconhecidas e cujo único laço é termos estudados juntos. São pessoas que têm outra vida, ou vidas muito distintas e que vão se encontrar para viver um passado que talvez não tenha sido nem tão bom assim; mas como somos Românticos (com R maiúsculo) transformamos tudo numa coisa idílica.

Não que não tenha trazido boas lembranças, as tenho e estão bem conservadas. Assim como trouxe alguns amigos que também estão muito bem guardados comigo.

Pois bem, pensando nisso, acordando com um pouco de ressaca depois de sair com amigos que não têm nenhum vínculo com nenhuma dessas comemoração, lembrei-me de uma música da Françoise Hardy que posto abaixo. (que fique bem claro que não acordei triste nem bêbado!)

L'Amitie

Beaucoup de mes amis sont venus des nuages
Avec soleil et pluie comme simples bagages
Ils ont fait la saison des amitiés sincères
La plus belle saison des quatre de la terre

Ils ont cette douceur des plus beaux paysages
Et la fidélité des oiseaux de passage
Dans leurs cœurs est gravée une infinie tendresse
Mais parfois dans leurs yeux se glisse la tristesse

Alors, ils viennent se chauffer chez moi
Et toi aussi tu viendras
Tu pourras repartir au fin fond des nuages
Et de nouveau sourire à bien d'autres visages
Donner autour de toi un peu de ta tendresse
Lorsqu'un autre voudra te cacher sa tristesse

Comme l'on ne sait pas ce que la vie nous donne
Il se peut qu'à mon tour je ne sois plus personne
S'il me reste un ami qui vraiment me comprenne
J'oublierai à la fois mes larmes et mes peines

Alors, peut-être je viendrai chez toi
Chauffer mon cœur à ton bois

quarta-feira, novembro 26, 2008

Desodorante 48h!

Fui ao mercado hoje e fique pensando numa coisa: por que cargas d'água alguém inventou um desodorante 48h? Deveria ser proibido por lei.
Um desodorante que dura 48 h é um atentado a saúde pública. Indica que a pessoa pode, se quiser, não tomar banho por dois dias. Uma vez fiquei dois dias sem tomar banho (calma, calma, era uma viagem e realmente não dava pra tomar banho) e se eu ficasse uma hora além daquele limite, provavelmente, me atiraria na frente de um carro, não me aguentava mais!
Dois dias sem banho é um portal para a mendicância. É renunciar sua civilidade. Não deve ser incentivado! O pior é que observando as pessoas que pegavam esse desodorante na gôndola, tive quase certeza que eles tentariam o limite das 48 h.

Gin Tônica!

Pense numa coisa boa e ela combinará com Gin Tônica. Confesso que não sou um grande consumidor, mas o Gin é fascinante. É lindo observar aqueles copos longos com gin. É perfumado. Duvido que os perfumes não sejam feitos dele. O copo é servido e quando você o põe em suas mãos se torna uma outra pessoa.

Outra pessoa com mais estilo, mais integrada às coisas boas. Pode ser num bar barulhento, num restaurante fino. Um copo de gin lhe transforma. Abre possibilidades de conversas. Atrai uma certa curiosidade. Você pega um copo de gin tônica e a festa começa. Parece aqueles comerciais de Martini Bianco, as pessoas se tornam bonitas, as conversas interessantes, todos riem, até o som do ambiente melhora.

Gin lembra Aretha Franklin, Nina Simone, às vezes lembra Donna Summer; lembra cigarro. De maneira nenhuma é elitista. Um amigo meu diz que é bebida de puta. É a prova cabal de que gin tônica é transversal. Está além de classes, tem a ver com o íntimo da pessoa.

Sexta-feira é dia de Gin Tônica!

domingo, novembro 09, 2008

Felicidade é jogar buraco!

Dois casais se reúnem para conversar. Dois deles são amigos de faculdade e os outros dois são os “agregados”. Adoro quando recebo um convite onde se diz que podemos levar os agregados. E não deixam de ser agregados, mais do que uma boca agregada, agregam também o diferente, o inovador. Agregam a semelhança que os fizeram amigos na faculdade. Agregam uma certa dose de hábitos e costumes, uma certa repetição dos encontros dos pais com os tios e amigos.

Ser casal só é possível com um casal amigo. Numa mesa com dois casais se consegue perceber o significado social de ser casal, a existência comungada. Quatro garrafas de vinho depois surge a possibilidade de verificar como a felicidade de ser um casal é reunir-se com outros casais. Quando era criança, meus pais costumavam jogar buraco com alguns outros casais aos sábados; às crianças, cabia assistir televisão após a pizza enquanto os mais velhos jogavam baralho. Talvez venha daí meu fascínio por encontros de casais. Associei ser adulto com o baralho e a bebida, porei mais um vício, fumar, e teremos os três vícios fundamentais. Ser adulto é beber, fumar e jogar acompanhado e em companhia de outro casal.

Abandonarás teu pai e tua mãe e beberás, fumarás e jogarás baralho com seu agregado junto a outro casal! Com isso, poderás constituir família, se portar como um ser civilizado, e principalmente ser adulto. Não é uma felicidade burguesa, é uma felicidade transversal. Proletários ou burgueses, ricos ou pobres, só serão um casal de verdade quando visitarem um outro casal! Se jogarem buraco, melhor. Ali também aprenderam a trabalhar em equipe e aumentarão a chance de viverem felizes para sempre.

quarta-feira, outubro 29, 2008

Um dia bom

Acordaram tarde. Estava um calor absurdo e ainda tinham que votar. O que era dever cívico (que clichê!) se tornara turismo. Embora deslocados da cidade, tomaram um café na rua e pegaram um ônibus. Nada como ter contato com os problemas da cidade em pleno dia de eleição. Demoraram um pouco, atravessaram algumas paisagens e desembarcaram num bairro bem simbólico. Petit bourgeoisie! Árvores nas calçadas, ruas calmas, algumas de paralelepípedo. Prédios antigos, petit bourgeoisie desde os anos 30. Feliz a cidade que teve uma City Light!

O voto foi até que rápido, teve lances de arrependimentos e confissões. Voltando para o centro, fizeram compras e tomaram uma cerveja em uma praça. Se fosse no Rio seria um chope, mas era em São Paulo e pediram uma Original. Na mesa ao lado, duas mulheres falando em inglês, na mesa de trás, uma família almoçando, alguns homens sem camisa bebiam a mesma cerveja e nem repararam que o copo não era um copo americano. Leram jornal, discutiram eleições, Mostra Internacional de Cinema, dálmatas, burocracia e o Gabeira.

Divagavam na mesa do bar. Um pensa alto:
- Até que a gente tem uma vida boa, né?
- Realmente, acho que merecemos!

segunda-feira, outubro 06, 2008

Alckmin e Kassab

Alckmin jamais cantaria, o Kassab é bem provável, mas não deixa de ser engraçado pensar no Alckmin falando isso pro Kassab...rs

Love Story

Eu realmente desconfio de casais que demoram muito tempo para viver plenamente uma relação. Alguns namoram 8, 10 anos. Não quer dizer que não tenham uma boa relação, com certeza devem ter. No entanto falta um algo mais, e esse algo mais não espera esse tempo todo. Quem busca tanta segurança antes de assumir uma relação, provavelmente nunca a assumirá no sentido do famoso “homem, abandonarás teu pai e tua mãe e se unirá à sua mulher, e os dois formaram só um”.

É este se tornar só um que realmente me intriga. A beleza de ser ocidental está toda calcada na aceitação da individualidade. Foi ela que nos levou ao Romantismo e que permitiu criar todo o imaginário em torno do casamento e do amor. A experiência Romântica que permitiu a liberação do sexo, como forma de experimentar o amor sem preconceitos e aí a coisa se perdeu ao querermos ter a liberdade sexual, a possibilidade de vivermos amores sem renunciar na hora certa da individualidade.

O mais bonito da vida como casal é exatamente a comunhão do espírito, quando um passa a pensar nos dois, pensando no bem do casal. É uma renúncia ao individualismo para uma espécie de individualismo a dois. E esta experiência com certeza passa pela construção da intimidade, da segurança, bem como da vivência da paixão, como se ela fosse o elemento sobrenatural que permite criar esse laço. E de maneira nenhuma esse é um amor careta, ou reacionário, uma vez que esse se jogar é uma experiência totalmente libertadora, ao permitir surgir um laço maior de envolvimento, se conhece os próprios limites.

Por isso desconfio de quem não se entrega a uma relação (e também daqueles que se entregam em relações que não tem possibilidade futura nenhuma). Acho lindo quem se casa cedo e passa ter uma vida em casal. Acho que essas pessoas terão a possibilidade de ter uma entrega de maneira muito mais intensa que compensarão os benefícios financeiros do entregar-se numa relação com a vida estável.

Pra ser sincero, tudo isso aí de cima é porque ontem eu assisti Love Story, e realmente acho incrível que um filme feito pra ser a pieguice total, consiga expor a beleza da construção de uma relação. Bem, um dos pontos lá é uma frase que acaba sendo repetida algumas vezes que é: amar é jamais ter que pedir perdão. Tem lá o seu clichê, mas não é verdade? Se se está vivendo esta comunhão, é impossível que um faça o mal ao outro, fiquei com isso na cabeça. Com isso e com a música. Gostei muito do filme!

domingo, outubro 05, 2008

sábado, outubro 04, 2008

Sorria, meu bem!

Realmente política é como nuvem, você olha está de um jeito, olha de novo e mudou tudo. Concordo em gênero, número e grau com o Magalhães Pinto. Afinal, quem em sã consciência poderia afirmar em 1996 que o futuro do projeto político do Serra estaria nas mãos do Kassab?

Vou fazer minha interpretação deste acontecimento. Falta método e até imparcialidade. Acho que temos que analisar o que vem acontecendo no Estado desde 1982 e entenderemos como o Kassab e o Serra chegaram onde chegaram.

Pois bem, meu palpite histórico é que em 1982 subiu ao poder no Estado uma força que seria transformadora da política aqui, e devido a importância do Estado, transformadora até para o País. Quando Montoro assumiu, começou a derrocada da Arena no Estado, mas a Arena não era lá um corpo muito unido. A eleição de Montoro e principalmente a atuação de Quércia como vice-governador foi decisivo pra começar a criar uma consolidação de uma força hegemônica e este projeto começou a tomar forma no Estado. Não existia antes coerência política entre o local e o estadual. Falo da atuação de Quércia, porque ele, como defensor do municipalismo, ao estender sua influência por todo Estado, criou condições de impor sua candidatura a governador em 1986 e principalmente se eleger.

Essa consolidação se deu num momento fantástico que foi o da redemocratização. Assim, foi possível criar forças emergentes que começaram a derrotar os antigos líderes locais e que tinham certa coesão. (lógico que nos anos 70 já havia prefeituras do MDB como Piracicaba e Campinas que possuíam certa linha de pensamento macro; os autênticos do MDB, que depois viriam a ser prefeitos, também já demonstram certa articulação entre as cidades). Com a bandeira do municipalismo, Quércia conseguiu trazer uma renovação nos municípios e se elegeu por isso. Não só de renovação viveu essa consolidação, houve também alguns grupos locais que se precipitaram pra dentro do quercismo.

A oposição a essa nova força política, não era o PT, o PT era insignificante eleitoralmente (pero no mucho). Na divisão de forças no Estado, o PT aglutinava forças nas cidades grandes, onde essa transição pra uma forma mais orgânica de prefeituras já havia acontecido nos anos 70, como Campinas, em cuja prefeitura Quércia despontou, ou no ABC e Santos. No entanto, nas eleições de 82 e 86, o PT não tinha um peso político no Estado. A oposição era o que restou da Arena. Talvez pela posição de vanguarda do PMDB no Estado, essa tenha se mantido unida até praticamente 94, uma vez que sempre o PFL e PDS (PP, PPR e outras formas) saíram juntos nas eleições do Estado.

O elemento X da minha trajetória é a desintegração da força hegemônica criada por Quércia. Talvez seja personalismo, talvez seja os métodos meio fascistas que ele conseguiu suas indicações, mas esta força começou a dar sinal de desgaste já na eleição de 86, com o apoio de parte do PMDB a Antônio Ermírio de Moraes. A articulação do quercismo com outros movimentos dentro do PMDB que não eram de tão de vanguarda como este, fez com que a vanguarda paulista se separasse e criasse o PSDB.

Nesta evolução histórica, o PSDB continuou a consolidação do PMDB após o ocaso do governo Fleury, estimulando a substituição dos antigos governantes locais, e aglutinando forças que se descolavam do que sobrou da Arena. Lembrando que Maluf nunca exerceu uma influência tal qual Quércia ou Covas.

Uma destas forças que precipitaram para dentro desta força foi o PFL, e aí entra o Kassab, ao derrotar o Malufismo em 1998, o PFL foi totalmente incorporado neste processo, e agora sim, poderia surgir uma nova força hegemônica igualmente orgânica e complexa que viria a ser o PT. Lembrando, em 1998 o PT quase chegou ao segundo turno, e em 2002, conseguiu se tornar a segunda força política do Estado.

Lógico que aí entra uma figura que não acompanhou esse processo: Alckmin. É claro que ao surgir como força hegemônica no Estado, o PSDB se tornou um partido de centro, mas que tinha conexões tanto com o PFL como forças mais de esquerda como o PSB ou o PPS. No entanto, Alckmin se pôs mais a direita que essa força hegemônica, não é à toa que hoje ele se mostra um candidato mais reacionário que o próprio Kassab, e não estou falando do Kassab de 2008 e sim do Kassab de 1996!

Pois bem, hoje o Kassab já está totalmente integrado, e eu realmente acho que sempre existiram forças locais não integradas a estas forças hegemônicas, mas que o PSDB e o PT conseguem manter certa coerência em todo o Estado. Acredito que nas cidades do interior, o voto no PSDB acontece ainda como reflexo das derrotas impostas aos antigos governantes e desta sensação de fazer parte da política do Estado. Em muitas delas, o PT ainda é desorganizado, como em Jundiaí, Sorocaba, Itapetininga entre outras. Acho que a figura do Serra vai fazer com que o PT ainda não ameace essa hegemonia, nem agora, nem em 2010. A ver.

quinta-feira, setembro 25, 2008

Crivella & Eu

Confesso que depois que comecei a dormir mais, sonho mais. Acho fantástica essa coisa de sonhar e depois tentar entender o que será que meu inconsciente tentou me dizer. Psicanálise é uma das coisas que mais me dá orgulho de ser ocidental; periférico, mas ocidental!

Eis que terça-feira acordo de um sonho totalmente absurdo. Estava eu num quarto de hotel com o senador Crivella. O senador estava deitado na cama meio que relaxado e eu estava sentado numa cadeira ao lado. O senador Crivella falava das dificuldades e do preconceito de ser evangélico e eu do alto do meu catolicismo infantil lembrava ao senador da dificuldade de ser católico, uma vez que o protestantismo era uma religião ligada a modernidade. O senador me disse que não gostava desse termo protestante, se sentia evangélico. Aí, mudamos de assunto e começou a me falar sobre a delícia (eu lembro deste termo, o que na boca do senador Crivella se torna bem diferente) de ser senador. Falou sobre como era bom fazer discursos e participar da vida da nação. Acordei.

Dos 81 senadores, têm uns 12 que eu adoraria conhecer, mas o Crivella nunca estaria nesta lista. Eu não sei se o sonho tem a ver com religião ou política, se tiver com religião, talvez seja pelo oposto, por política, bem, geralmente eu gosto dos injustiçados do mundo. Foi um sonho interessante.

sábado, setembro 20, 2008

Eleitorais

Lula e o Rancor

Estou achando péssima a postura do presidente nestas eleições. Ontem em Natal ele atacou de modo violentíssimo o senador Agripino Maia, dizendo que daria o troco nele em 2010 por todas as ofensas que o senador havia feito contra ele durante o escândalo do mensalão. Hoje, ele afirmou que o DEM não tem lado, porque é oportunista, em 2006, diz Lula, o achincalharam e agora não se assumem publicamente como oposição. Diz o presidente que de dia o achincalham na Câmara e no Senado e nas ruas não o acusam.

Veja bem. Odeio esse ar varguista que às vezes paira sobre Lula. Afinal, o DEM tem posição sim, é oposição, e não é nada mais natural que uma oposição aponte falhas no governo, e seguindo a lógica petista-lulista, pode-se apontar falhas morais, ideológicas, estéticas, estratégicas e birra também, afinal não foi o próprio Lula que disse que o Sarney era ladrão e que o Fernando Henrique era um estelionato eleitoral? Se com um presidente eleito em primeiro turno foi possível criar uma campanha ignóbil como o Fora FHC estimulada pelo ministro Tarso Genro, por qual motivo José Agripino não poderia apontar algumas coisas do nosso presidente? O PT é a UDN de macacão, já dizia Brizola...

Chamem de reação, de conservadorismo, mas para mim, Lula é tão democrata quanto o Vargas...rs, é que para ele essa fama de conciliador está dando efeito positivo, no entanto, sempre tem alguns deslizes autoritários. Como é difícil esconder o subconsciente!

Quem será que a Marta quer: Alckmin ou Kassab?

Ontem durante o dia estava numa roda em que criamos um paralelo entre esta eleição e a de 2000. Chegamos a uma conclusão que Marta preferiria Kassab à Alckmin, e que tal em 2000, onde ajudou Maluf ir para o segundo turno, neste ano ajudaria Kassab.

À noite, a percepção foi outra. Com uma campanha que só cresce como a do Kassab versus uma campanha estagnada em crise como a do Alckmin, acho que a campanha de Marta deve estar numa escolha difícil. Eu acho que os ataques de Lula aos Democratas já sinalizou quem a Marta quer...

sábado, agosto 30, 2008

Como eram bons os tempos do Fernando Henrique

Sou de uma geração da era Fernando Henrique. Tudo que me acontecer na vida, na minha vivência como cidadão, em minha experiência como um homem social, econômico e ambiental, sempre será percebido, analisado e refletido sobre esse grande paradigma que foi a base de toda minha consciência.

Bastou um almoço e um assunto trivial para que isso ficasse claro em minha memória, nós, que fomos criados na era Fernando Henrique, talvez não sejamos a maioria, mas temos uma ação comunal própria, percebemos o mundo de uma maneira diferente, e acho que o mundo era percebido diferente pós 1995. Embora a era Lula tenha se apropriado de algumas características da era Fernando Henrique, estas foram distorcidas, ficaram as ações e não os fundamentos.

Éramos modernos em 1999 e hoje somos retrógrados. A peça inaugural desta era foi o discurso de despedida do Senado do ex-presidente, nele se decretava o fim da Era Vargas, as pessoas queriam o novo, o diferente, queríamos, e digo queríamos porque a maioria dos eleitores quis, um novo ciclo de desenvolvimento, de estabilidade, de abertura econômica, de uma nova relação Estado-mercado, que traria uma nova relação Estado-comunidade. Também seria uma era de transparência, da verdade orçamentária, e também da verdade política e da verdade social.

Foi preciso discutir Previdência, Tributação, Privatização, Ensino Fundamental e Superior, e discutir sem tabus, o que é o charme e o princípio desta era, e aí era necessário fazer escolhas, Déficit ou Reforma? Modernidade nos serviços públicos ou ineficiência estatal? Priorizar o ensino fundamental ou o superior? Não sei vocês, mas durante todo o governo Fernando Henrique discuti muito destas coisas, acho que se existiu um momento favorável a alguns indicadores que eu considero de modernidade (casamento gay, aborto e legalização das drogas) foi este período. Na verdade não é estimulante ter no ministério gente que sempre esteve ligado com a luta da democracia? (e que acreditava nela)

Participamos do mundo e o mundo participava da gente. Hoje, estamos num espetáculo da caretice. Se a associação com uma parte do conservadorismo, principalmente o ligado ao liberalismo durante os anos Fernando Henrique, foi necessário para romper e criar uma nova era, hoje é a cooptação pela cooptação, e acho que esta bela vanguarda que está no poder hoje descobriu-se muito mais próximo dos coronéis do que a gente pensa. O país tem problemas e isso não se discute, com um plano cosmético para tudo, as mesmas pessoas que não votaram no Fundeb criaram outros mecanismos que travestidos de inclusivos, são mostra de autoritarismo e populismo.

Perdeu-se a discussão, afinal, como se pode discutir com a verdade absoluta? E aí, a gente vê o avanço evangélico nas escolas, na política, o esvaziamento do congresso, afinal, para que uma casa de discussão, se o centralismo democrático é a solução? Só a desmoralização da política pela política pode gerar escândalos como mensalão, abuso de poder econômico nas campanhas, grampos nos ministros do Supremo.

Chamem de ressentimento, no entanto, eu realmente acho que a democracia e o clima de modernidade que tínhamos na era Fernando Henrique não temos na era Lula. Talvez as pessoas não quisessem saber de déficits, reformas, talvez foi acomodação, afinal é melhor parar de discutir isso e ter uma bolsa maior e melhor, mesmo que seja para estudar numa faculdade ruim ou para viver para sempre com uma bolsa.

Na era Fernando Henrique tínhamos a impressão que a ascensão econômica e social estava em nossas mãos, na era Lula, está no Estado de novo, ou num Estado Novo. O jeito é estudarmos para um concurso público.


A propósito

O almoço e o assunto trivial foi uma conversa fantástica sobre o Manhattan Connection, que para mim é o grande exemplo da era Fernando Henrique, aposto e ganho que 90% dos ministros do governo Fernando Henrique assistiam e que nem 20% do governo Lula sabe o que é, e que os que sabem só assistem para falar mal do Diogo Mainardi que me abstenho de comentar, ele não era desta era. Uma das conclusões é que os apresentadores são arquétipos tucanos, mas infelizmente, Alckmin e Aécio também não se encontram lá representados.

quinta-feira, agosto 28, 2008

Desenvolvimento e Democracia

Passei duas semanas com duas figuras fantásticas, míticas, populistas. Semana passada arranhei meu espanhol com Las presidencias peronistas: Cámpora/Perón/Isabel de Horacio Maceyra, e esta semana com Getúlio: O poder e o sorriso de Boris Fausto.

A grande questão destas duas grandes histórias é: pode-se obter desenvolvimento econômico dentro de uma democracia? Esta pergunta se faz importante, porque ambos são conhecidos como os pais do desenvolvimento nos seus países e no entanto, este impulso para a industrialização, para a criação do mercado interno, a visão que somente uma classe trabalhadora forte (mas não tão forte assim) poderia sustentar esse mercado, só pode ser construído dentro de regimes quase fascistas. Pus o quase fascista. No livro de Perón, não existe essa palavra, mas se fala no grande pacto da sociedade, uma sociedade corporativa. No livro do Getúlio, nega-se o fascismo, falando de um autoritarismo moderno. Não gosto do Getúlio, mas concordei com a tese do Boris Fausto, e não ponho mais fascista.

Será que a industrialização do Brasil não poderia se dar sem o Estado Novo? Será que a industrialização da Argentina não poderia acontecer em um regime como acontecia no pré-Perón? Cabe lembrar que ambos os países já tinham indústrias e proletariado antes dos dois, mas o poder estava no campo. Considerando que o liberalismo dos anos 20 e 30, jamais permitiria uma desvalorização da moeda, pra proteger a indústria, o impulso industrial não aconteceria. Ao inverter a política econômica de antes do crash eles conseguiram impulsionar a burguesia nacional. Com uma política trabalhista, conseguiram um acordo entre capital e trabalho contra a agricultura, fazendo uma industrialização pela substituição de importações. Bem, infelizmente esse salto provavelmente não seria dado fora da estrutura da Era Vargas e do Peronismo.

Na queda de ambos, tanto de Perón (no caso de Isabelita), tanto de Getúlio, as circunstâncias econômicas já são muito distintas. Existe uma complexidade maior na economia industrial destes países onde a fórmula não encaixava mais. Achei fantástica a descrição que no plano de governo de Cámpora estava o aumento da participação dos salários na renda da nação. Nunca ouvi isso nem do Lula! Nunca na história do nosso país alguém deve ter posto uma meta tão avançada como essa! No caso de Getúlio o contraste não foi tão grande assim. Afinal ele voltou ao poder 5 anos depois de ter caído, enquanto Cámpora assumiu 18 anos depois de Perón ter caído, pesou mais os fatores políticos, mesmo porque Vargas não era tão contra o capital estrangeiro, tal qual Perón. E isso me deixou mais intrigado, então, numa estrutura complexa, a fórmula populista está fadada ao fracasso?

Mas, em qual circunstância se dará o desenvolvimento? Acho que a pergunta principal é que tipo de desenvolvimento procuramos e em que circunstâncias podemos tê-lo? Adoraria ver uma análise bem marxista das forças da sociedade dizendo onde nossa democracia nos leva. Acho que seria um exercício bem interessante. Será que existe um consenso sobre esse desenvolvimento? Se valorizamos o campo e as commodities, a nossa âncora verde, a tal da doença holandesa freia a indústria por causa da valorização do câmbio, se seguramos o câmbio para valorizar a indústria, prejudicamos as exportações. Ao mesmo tempo, se valorizamos o mercado nacional para acelerar o desenvolvimento externo podemos ter inflação, se a combatemos acabamos por arrochar os salários. Como convergir todas as tendências?

Talvez a democracia seja um regime político sem grandes alterações nas estruturas das sociedades. Vou dar um tom moral e dizer que mesmo assim é um bem em si mesmo, podemos deixar as lutas mais claras para que todo mundo possa ter uma atuação política de acordo sua atuação econômica. Ou não.

terça-feira, agosto 26, 2008

"Esse manda bem, Kassab Prefeito!"

Achei um comercial do Kassab no You Tube.

Eu realmente estão adorando a campanha dele, é muito bem feita, dá até vontade de entregar papelzinho pra ele. Este post vai me dar tanta dor de cabeça! =) Mas é verdade!...rs


A petebização de Alckmin

A afirmação acima eu li numa coluna da Folha cujo autor eu não me lembro. Não deixa de ser a mais pura verdade. A campanha do ex-governador é de um mau gosto tremendo. É escura, desanimada.

Os candidatos a vereadores do PSDB se recusam a falar o famoso “com Alckmin prefeito” no final das suas inserções. Para passar ao eleitor/telespectador a imagem que estão unidos, corta-se a cena e uma voz absurda diz que eles estão com Alckmin, o que ninguém acredita. Em compensação, os vereadores do PTB e demais nanicos com Alckmin, atacam a administração Kassab e falam a famigerada frase a todo instante. O que não deixa de ter uma certa comicidade pensar no Sérgio Mallandro pedindo voto para o bom moço. Ou o Ovelha, ou um Jogral que o partido do Eymael organiza três vezes por semana.

A campanha caminha por uma caretice grandiosa. Erraram a mão na imagem de bom moço, ou talvez ele não seja tão bom moço, e sim um grande carola. A sensação que se tem é que ou se escolhe Alckmin ou vamos direto ao Inferno. Realmente, acendeu em mim uma luz amarela sobre esta campanha. Esse exagero na caretice, essa opção pelo lúgubre, pela tragédia anunciada, só traz a idéia que a eleição do Alckmin é um retrocesso para a cidade. Afinal, uma metrópole, não pode ser administrada com o espírito de Pindamonhangaba.

Bem, fosse eu o governador José Serra, desembarcaria ainda mais da campanha Alckmin e embarcaria na campanha Kassab de vez. Perder com Kassab é melhor que ganhar com Alckmin (embora essa hipótese seja hoje improvável). É uma forma do governador manter seu programa de governo de quando foi eleito prefeito. Pode parecer um absurdo, mas, hoje, os democratas são muito mais progressistas do que o entourage de Alckmin.

Sem contar que a campanha do Kassab é contagiante. É totalmente o oposto da do Alckmin. É clara, tem musiquinha, não é carola, e talvez com mais ajuda do Serra tenha até potencial. E se o PSDB expulsar Serra?? Bem, duvido que façam isso, mas que façam! Talvez até fosse melhor para o Serra deixar o PSDB se afundar na carolice do Alckmin. Embora eu realmente ache que o lugar do Alckmin é no PTB mesmo.

terça-feira, agosto 19, 2008

Veranico Paulistano

Dias de calor. Noites deliciosas. Céu azul. Não tem brisa, não tem nuvens. Muita gente na rua. Cabe Jundiaí entre São Joaquim e Vergueiro. O festival de cinema russo no CCSP fica ainda mais exótico. Não havia reparado como existem casais neste canto da cidade. O asfalto ferve e o mundo de automóveis aumenta a sensação de calor. Faz 4 dias que as temperaturas estão em altas; a meteorologia já considera que estamos num veranico. Que calor!

Não me lembro de um dia tão bonito assim nesta cidade. Não é dia típico, o que deixa tudo isso mais raro. Se tivesse música tema, seria Piazzolla. Se fosse cenário, o CCSP. Eu que não gosto de verão, me converti. E pensar que São Paulo não combina com verão, muito menos com veranico. Tomara que não venha nenhuma garoa!

Veranillo

(http://www.rae.es/)

1. m. Am. Mer. Tiempo breve de calor o de sequía que, en América del Sur, suele presentarse a fines de junio.
2. m. Arg. y Chile. Período corto de bienestar.

segunda-feira, agosto 18, 2008

Almoço com o pessoal do trabalho


Não é um mar de rosas. Não paga bem. Não tem plano de carreira. 14º e 15º? Nem pensar. Não tem impressora colorida, não pode fazer ligação externa. Tem que entrar às 8:00. Se sair depois das 17:24, azar o seu. Às vezes tem mau-humor, tem machismo, tem burocracia, tem gentinha também, muita gentinha na CPTM.

Mas as vezes existem umas sacadas tão legais! Não consigo imaginar outro lugar que uma cadeira quebrada no canto da sala ganhe uma etiqueta como se fosse uma obra de Marcel Duchamp. As vezes aparecem discussões dos primórdios da ferrovia; sobre como Paulo Egídio era um democrata. Você já discutiu sobre as inovações que o governo Carvalho Pinto trouxe para o Estado? Bem, já discuti isso numa reunião.

Hoje no almoço, acabei indo almoçar com umas pessoas que geralmente eu fujo, eis que entramos num assunto fantástico: o sucesso que o bolero fazia até Inezita Barroso gravar a moda da pinga! E assim, um monte de senhores que eu adoraria que fossem meus avôs começaram a lembrar de São Paulo do IV Centenário. Eu comecei a lembrar da descrição de Lima que o Vargas Llosa faz na Niña Mala. Devia ser um tempo bom esse do bolero e do mambo. São Paulo do bonde!

Ao final, fiquei sabendo sobre um show recente (risos...recente para eles né?) que o Piazzolla fez aqui em São Paulo com a Amelita Baltar. Legal pensar que eles foram num show que eu adoraria ir. Acho interessante ter bons contadores de história, dá uma coisa bem lúdica no ambiente de trabalho. Que ninguém me leia, mas, uma coisa meio vovô e eu. Não que meu avô não tenha histórias interessantes, ele até as tem, pelo menos falam que ele as tem. Mas nunca deu certo dele me contar coisas como um show da Ângela Maria, outro da Dalva de Oliveira, que sei que ele foi. No quesito avós eu sofro da síndrome do irmão do meio, então ando recriando esses fatos na CPTM.

Los Paraguas de Buenos Aires

LOS PARAGUAS DE BUENOS AIRES
Voz de Amelita Baltar
Letra de Horacio Ferrer
Musica de Astor Piazzolla

Está lloviendo en Buenos Aires, llueve
Y en los que vuelven a sus casas pienso
Y en la función de los teatritos pobres
Y en los fruteros que a las rubias besan
Pensando en quienes ni paraguas tienen
Siento que el mío para arriba tira
"No ha sido el viento si no hay viento", digo
Cuando de pronto mi paraguas vuela
"No ha sido el viento si no hay viento", digo
Cuando de pronto mi paraguas vuela
Vuela...

Y cruza lluvias de hace mucho tiempo
La que al final mojó tu cara triste
La que alegró el primer abrazo nuestro
La que llovió sin conocernos antes
Y desandamos tanta lluvia, tantas
Que el agua esta recién nacida, vamos
Que está lloviendo para arriba, llueve
Y con los dos nuestro paraguas sube
Que está lloviendo para arriba, llueve
Y con los dos nuestro paraguas sube
Sube...

A tanta altura va querido mío
Camino de un desaforado cielo
Donde la lluvia a sus orillas tiene
Y está el principio de los días claros
Tan alta el agua nos disuelve juntos
Y nos convierte en uno solo uno
Y solo uno para siempre, siempre
En uno solo, solo, solo, pienso
Y solo uno para siempre, siempre
En uno solo, solo, solo, pienso
Pienso...

Pienso en quien vuelve hacia su casa
Y en la alegría del frutero
Y en fin, lloviendo en Buenos Aires sigue
Yo no he traido ni paraguas, llueve
Y en fin, lloviendo en Buenos Aires sigue
Yo no he traido ni paraguas, llueve
Llueve...

sexta-feira, agosto 15, 2008

Cómo dos extraños

Um tango pra fazer companhia pro Calamaro abaixo. Bastou eu ler um livro do Cortázar pra me argentinizar novamente:

Cómo Dos Extraños
Roberto Goyeneche

Me acobardó la soledad
y el miedo enorme de morir lejos de tí
que ganas tuve de llorar
sintiendo junto a mi
la burla de la realidad

Y el corazón
me suplicó
que te buscara y que le diera tu querer
me lo pedía el corazón y entonces te busqué
Creyendo que mi salvación

Y ahora que estoy frente a tí
parecemos, ya ves, dos extraños
lección que por fín aprendí
como cambian las cosas los años
angustía de saber muerta ya
la ilusión y la fe
perdón si me ves lagrimear
los recuerdos me han hecho mal

Palideció la luz del sol
al escucharte friamente conversar
fue tan distinto nuestro amor
y duele comprobar que todo,
que todo terminó

Que gran error volverte a ver
para llevarme destrozado el corazón
son mil fantasmas al volver burlandose de mí
las horas de ese muerto ayer

Y ahora que estoy frente a tí
parecemos, ya ves, dos extraños
lección que por fín aprendí
como cambian las cosas los años
angustía de saber muerta ya
la ilusión y la feperdón si me ves lagrimear
los recuerdos me han hecho mal

http://b.radio.musica.uol.com.br/radio/index.php?ad=on&ref=Musica&busca=como+dos+extra%F1os&param1=homebusca&q=como+dos+extra%F1os&check=musica&x=43&y=6

quinta-feira, agosto 14, 2008

Un recuerdo encontrado

Sabe quando você acorda com uma música na cabeça?
Acordei com Para no olvidar, e tentando não esquecê-la perdi hora, perdi a paciência de ficar sentado num escritório. Lembrei de recuerdos não tão prohibidos mas um pouco intrometido.
Foi um dia de lembranças.
Antes de voltar pra casa passei no Largo São Francisco só para ver o Álvares de Azevedo e dediquei a ele este dia.



http://www.rock.com.ar/letras/3/3931.shtml

segunda-feira, agosto 11, 2008

Eleições 2008 - Jundiaí


Alguns pontos para a disputa da prefeitura de Jundiaí

Sou jundiaiense e voto em Jundiaí, embora não more lá há muito tempo, me sinto um pouco curioso sobre a sucessão de Ary Fossen. É difícil votar a distância porque não participo efetivamente da vida da cidade, volto para lá alguns fins de semana somente. Mas sou um bom observador, e como tal, escolhi alguns pontos para me guiar na escolha dos candidatos a prefeito. Não me sinto a vontade em escolher os candidatos a vereador. Perdi o contato e infelizmente não estou lá para sentir a campanha, desta forma, assim como fiz nas últimas duas eleições municipais, votarei na legenda.

A cidade de Jundiaí completa este ano 16 anos ininterruptos de governos do PSDB. A ascensão tucana surgiu como uma disputa contra outras forças, tais como o ex-prefeito Íbis Cruz e Walmor Barbosa Martins e hoje os aliados destes se juntaram a força quase hegemônica dos tucanos na minha cidade. A oposição passou a ser do PT e outras forças que tentavam quebrar essa polarização. Nestas eleições, a oposição se apresenta dividida.

Na minha opinião o jundiaiense assimilou bem os governos do PSDB, e provavelmente vai continuar no poder por mais um tempo. Na última eleição, José Serra ganhou nas duas zonas eleitorais, bem como o Alckmin para a presidência. No entanto, Eduardo Suplicy ganhou a eleição para senador. No referendo sobre o desarmamento, deu não com 61% (tive preguiça de somar o resultado das eleições 2006...)

Destaquei alguns pontos e nos próximos dias me comprometo a procurar nos programas dos partidos alguns destes itens. Desde já descarto votar em Gérson Sartori por total antipatia, tanto ao partido como ao candidato.

Renda

Eu tava fuçando em algumas estatísticas e vi que o jundiaiense ganha pouco. O rendimento médio no vínculo empregatício é de R$ 1.363,13, contra R$ 1.441,44 do Estado (valores de 2006), mas o PIB per capita de Jundiaí é muito maior do que a do Estado, R$ 29.540,94 contra R$ 17.977,31. Bem, a renda do jundiaiense, nem do paulista, está lá muito associada ao trabalho, mas em Jundiaí, isso fica bem claro. O maior empregador do jundiaiense é a indústria, e em nossa cidade ela paga mais que no Estado (R$ 1.835,53 contra R$ 1.698,00 no Estado, em 2006). No entanto, o setor que mais cresce é o de serviços, e aí nossa cidade perde feio (R$ 1.203,46 contra R$ 1.557,85, em 2006). Considerando que o setor de serviços cresce em todo lugar, pode ser indicador de uma cidade moderna ou de uma informalidade crescente, a prova dos nove é a renda que ela gera, e pelo jeito, na nossa cidade não é um setor de serviços associado com tecnologia, que poderia aumentar a renda.

Acho que a prefeitura pode incentivar setores com maior renda, através da educação, bem como incubadoras e infra-estrutura. Afinal, somos vizinhos de duas metrópoles que respiram tecnologia e outros serviços, poderíamos nos beneficiar disso.

Igualdade entre os Sexos

Este tópico não estava na lista, no entanto, nessa história de olhar as rendas, vi que a mulher jundiaiense ganha bem menos que a mulher paulista; enquanto no Estado de São Paulo, a mulher ganha em média 20% a menos que os homens, em Jundiaí, isso aumenta para 30%. Será que isso também não pode ser resolvido com mais creches e estímulo para a mulher jundiaiense se profissionalizar??


Educação

O jundiaiense estuda em média 8 anos, um pouquinho a mais que o Estado, 7 e qualquer coisa. Não é pouco?? Se isso tiver correlação com a renda, isso pode ser uma forma de aumentar a renda do jundiaiense. Além do mais, nossa cidade não tem universidade pública, e isso mercantiliza ainda mais o ensino superior na nossa cidade. Na última campanha, isso foi tema da campanha de Sorocaba e eles conseguiram um campo da UFSCAR. Além disso, só 45% da população entre 18 e 24 anos tem o ensino médio completo. Estamos falando de um ensino médio que anda bem desacreditado na rede pública do Estado. É possível o prefeito influenciar para aumentar a oferta de vagas e estimular essa taxa para o alto.

Trânsito e Transporte

Por último, acredito que Jundiaí não é uma cidade amigável para o pedestre e o ciclista, nem tampouco para os motorista. Matamos mais no trânsito que o Estado (Morre 17,72 contra 16,82 do Estado para cada 100.000 habitantes). Além disso, temos um índice de 1,83 habitantes por automóvel, um dos maiores do Estado. A população transportada nos ônibus cai constantemente desde de 2000. Não é a toa que me sinto mais inseguro andando da estação de trem até em casa em Jundiaí, do que aqui em São Paulo!

Adoraria votar num candidato que agisse em duas frentes, numa, pensando em soluções de traffic calming em áreas movimentadas e ampliando esta solução no centro da cidade; noutra, pensando num plano municipal de ciclovias. Acho interessante pensar na bicicleta não como um lazer, mas como um meio de transporte. Temos bairros residenciais muito próximos do centro e que poderiam ser estimulados a se moverem por bicicleta. Por que não instalar bicicletários nos terminais de ônibus?? Seria mais uma forma de estimular o uso da bicicleta, e ainda assim incrementar os usuários do transporte público.

Bem, a princípio é isso que vai me nortear nas próximas eleições.


domingo, agosto 10, 2008

Claudia (ou Marina?)

Pode ser que a meia idade tenha chegado para mim antes do tempo, mas não tenho como não admitir que a grande diversão deste fim de semana, quem me deu foi a revista Cláudia. Sempre tive uma quedinha pela revista. Adorava ir a dentistas e cabeleireiros onde a encontrava. Por sorte do destino, minha mãe assinou a dita cuja e agora quando vou para Jundiaí eu a leio! Tenho que lembrar que somente um certo tempo de amadurecimento me permitiu dizer isso em público.

Tenho trabalhado ultimamente com algumas mulheres tão machistas, tão retrógradas, que para mim é até uma surpresa ver uma manifestação de feminismo em algum lugar, e aí entra a Revista Cláudia. Lógico, que a revista representa um certo tipo de mulher que provavelmente não anda de trem, que tem faxineira, que tem um certo dinheiro, mas que também têm um certo orgulho de ser mulher, que têm sonhos, que convive com famílias modernas, que passam por conflitos na criação de seus filhos. Acho que o grande mérito da revista é mostrar o conflito entre a realização dos sonhos de uma mulher, sem perder sua feminilidade.

Para algumas feministas as tais páginas de sexo e de moda e de decoração que fizeram a revista famosa, o jeito com que esses assuntos são tratados pode parecer machismo. Mas será que uma mulher moderna, além do trabalho, não continua se preocupando com moda e sexo? Aí aparece para mim o desafio interessante, como ser mulher num mundo de trabalho totalmente masculino? Bem, tanto na Cebrace como na CPTM, tirando raras exceções, ou as mulheres se tornavam totalmente masculinizadas para enfrentar esse mundo, ou se portavam como mulheres-vítimas, utilizando-se de charminho e dengo para enfrentar o mundo dos homens, se colocando num papel machista horrendo, trazendo nelas mesmas todos os preconceitos da sociedade contra as mulheres. Que mulheres retrógradas! (vide a estagiária de secretária da CPTM que mereceria não só um post a parte, como também um estudo de caso de um psicanalista, ou de uma feminista tal como Camille Paglia)

Neste ponto a Revista Cláudia é uma prova, um pouco meio idealizada, de uma mulher que nos 80 tomou para si uma vanguarda, mas que anda meio sumida nestes 00, pelo menos nos meus círculos de amizades. Danusa Leão escreve textos hipermodernos, muito sensíveis, de alguém que soube ser feminista e feminina. Além disso, a psicanálise ainda é muito presente naquela revista. Que, talvez mais simplificada do que era nos 80, ainda assim mostra um jeito diferente de abordagem que nenhuma outra revista tem.

Por mim, todos deveriam ler uma revista bem acabada assim. Homens, para entender as mulheres e perceberem os restos do machismo ancestral que ainda persiste; mulheres, para se livrar das armadilhas deste machismo que ainda cobre como um véu que ilude as relações.

Bem, vou terminar com uma música da Marina, que é o símbolo de tudo isso que eu falei!

Pra Começar
(Marina/Antônio Cícero)


Pra começar

Quem vai colar

Os tais caquinhos

Do velho mundo


Pátrias, Famílias, Religiões...

E preconceitos

Quebrou não tem mais jeito


Agora descubra de verdade

O que você ama...

Que tudo pode ser seu


Se tudo caiu

Que tudo caia

Pois tudo raia

E o mundo pode ser seu


Pra terminar

Quem vai colar

Os tais caquinhos

Do velho mundo


Pátrias, Famílias, Religiões...

E preconceitos

Quebrou não tem mais jeito


Agora descubra de verdade

O que você ama...

Que tudo pode ser seu


Se tudo caiu

Que tudo caia

Pois tudo raia

E o mundo pode ser seu!

quarta-feira, julho 09, 2008

Por que votaria em Geraldo Alckmin

... se votasse em São Paulo!
Acho que antes de tudo, deve-se procurar alguns valores e algumas formas de encarar a cidade. Considerando uma cidade, que se espalha por outras cidades, levando a essas não só zonas periféricas, como também zonas prósperas, e que contém nela todo o universo de problemas de uma grande metrópole; é necessário no mínimo uma boa dose de democracia e alguma dose de tecnicismo.

Um espírito democrático deve ser buscado porque são inúmeros interesses que se cruzam num governo municipal; numa área conurbada, a presença do Estado e dos outros municípios também deve ser considerada. Não podemos entregar a prefeitura para um projeto desconexo, de enfrentamento, onde o governo é só uma forma de fazer política. O PSDB governa o Estado há 14 anos. Os cegos pela ideologia dizem que o estado não mudou nada nestes 14 anos. Mas sim, ele mudou, se saneou e virou um investidor, que além de PACs e outras obras que buscam visibilidade, mudou a relação do Estado com a sociedade. Concedeu estradas e transformou a malha viária. Fez parcerias com a iniciativa privada e mudou a forma de administração dos hospitais. Ao sanear o Estado passou a ser o maior investidor de transporte público. Não temeu a iniciativa privada e não temeu a sociedade civil, não a toa elegeu José Serra governador no primeiro turno das eleições de 2006.

Entregar a capital do Estado, onde se sente ainda mais a presença do governo do Estado na mão de um PT que busca antes de nada o confronto eleitoral, e onde o que os move é a próxima eleição, é uma idéia aterrorizante. Triste pensar que democrático é um partido que confunde sociedade com militância. Numa era de total diferenciação social, é ao menos intelectualmente frágil a aposta que exista um partido de classe realmente verdadeiro. O problema de eleger o PT na capital é que a busca eleitoreira e a visão parcial de sociedade emperre a criação de uma metrópole moderna e sustentável. Como se pode confiar numa prefeitura do PT, se, no plano federal, eles simplesmente ignoram a interlocução com o Parlamento? Se tratam o presidente como um espírito iluminado que está descolado da sociedade? Eleger Marta Suplicy é entregar a capital ao marketing, e não ao trabalho formiguinha que vem mudando esse Estado há 14 anos.

Existem coisas em Geraldo Alckmin que não me agrada nenhum pouco. Existe uma certa truculência (caso Castelinho), a figura de notório carola também me deixa um pouco desconfiado. Mas não se pode negar que ele foi elemento importante nessa transformação que já dura 14 anos. Embora me alinhe muito mais com Serra, frente a possibilidade de Marta, das taxas, e do PT, das invasões, das greves sem sentido, do estado policial que instaura com as ações da Polícia Federal, do mensalão, da corrupção amiga; não tem como não votar no Alckmin!

sábado, julho 05, 2008

A Escrava Isaura


Se clássico, segundo Ítalo Calvino, é um livro que quando o relemos ele nos diz coisas completamente novas, nos apresenta novas nuances, e que, mesmo sendo de outras épocas, se mantém atual; A Escrava Isaura definitivamente não é um clássico. Na verdade, lê-lo me fez ver o porquê esse livro nunca foi citado numa aula de Romantismo, nunca caiu num vestibular. Não é um livro onde as características do Romantismo são apresentadas de maneira paradigmáticas, nem de maneira paradoxais. É um novelão.

O mais triste é que a história é boa. A própria contradição de existir uma escrava branca é um excelente tema para se discutir a escravidão. No entanto, quando o senhor de dita escrava vai à falência para caçá-la e quando ela se apaixona por um homem muito rico que, comprando a dívida do seu senhor, consegue a alforria da amada; estamos numa história que legitima a escravidão. Resolve-se o problema de Isaura e o restante, bem, o restante é escravo mesmo. Achei péssimo o racismo do livro, na verdade Isaura não merecia ser escrava porque não era como os negros, não porque a escravidão era uma coisa degradante. Mesmo que Álvaro, que o autor cita como liberal, republicano e quase socialista, tenha sempre um discurso anti-escravidão; a simples compra da alforria para liberá-la, legitima. Deveria ter fugido! Embora, Isaura jamais consentiria com a fuga, já que se achava merecedora do destino por ser escrava.

Ok, a literatura traz consigo a ideologia da classe dominante, ainda mais no romance, que é uma experiência individual, ainda mais no Romantismo brasileiro, que é a literatura de formação da imagem do país. Mas não era necessário tanto provincianismo para contar uma história!

A história em si é tão boa, que na TV fez muito sucesso, ainda bem que foi adaptada e foi jogada fora muita coisa dali, mesmo porque trazer o livro para a TV daria no máximo um episódio de uma hora.

Um lado ruim de ler A Escrava Isaura, foi sempre olhar Isaura e lembrar da Lucélia Santos e da musiquinha dos escravos, infelizmente, terminei o livro um pouco triste, mas morrendo de vontade de conhecer Campos dos Goytacazes. A melhor passagem do livro é quando ele descreve a paisagem de Campos. Agora, graças às novelas e ao Romantismo, existem duas cidades no Estado do Rio que eu preciso conhecer: Campos e Vassouras.

quinta-feira, julho 03, 2008

A Favorita


Fazia desde Maria do Bairro que eu não viciava numa novela deste jeito. Se a frase anterior pode parecer absurda, uma vez que Maria do Bairro tinha dois cenários, seis personagens e péssimos figurinos enquanto A Favorita é uma mega produção; acho que ambas têm muitas semelhanças e uma diferença fundamental.

A semelhança é que ambas são novelas. Histórias fáceis de acompanhar, personagens secundários totalmente integrados à novela. Não tem como se perder assistindo essa novela. Até os exageros são bem pensados (talvez na Maria do Bairro o exagero não tenha sido), revelando os traços que são importantes para o desenrolar da história. Aposto que essa novela pode até ser prolongada, mas sabe para onde vai, acho que o poder do público é baixo, o autor sabe onde ele vai deixar a novela.

A diferença, bem, a diferença eu li numa coluna do Gabeira e ele citava um autor famoso que eu não me lembro, a idéia é que existia uma diferença entre a Tragédia e o Melodrama. A tragédia colocava o protagonista numa encruzilhada onde a decisão dele representava uma mudança na sua vida, mas ele sempre tinha a escolha. O melodrama não dava essa possibilidade ao protagonista, ele só tinha um caminho e esse estaria bem demarcado. Maria do Bairro sabia o que tinha que fazer, quem vai escolher a favorita, não.

Além disso tem coisas fantásticas como um tango moderninho na abertura, um personagem vilão negro, tem coisas que beiram o politicamente incorreto e que mostra o quão o politicamente correto pode ser castrante e preconceituoso. A novela liberta as mulheres, tira do armário quem a princípio não queria sair. Estou achando fantástica essa novela! Quando eu perco a novela um sábado, fico morrendo de vontade de ler o resumo!

terça-feira, junho 24, 2008

Une matin avec Françoise Hardy


Le premier bonheur du jour

Le premier bonheur du jour
C'est un ruban de soleil
Qui s'enroule sur ta main
Et caresse mon épaule
C'est le souffle de la mer
Et la plage qui attend
C'est l'oiseau qui a chanté
Sur la branche du figuier

Le premier chagrin du jour
C'est la porte qui se ferme
La voiture qui s'en va
Le silence qui s'installe
Mais bien vite tu reviens
Et ma vie reprend son cours
Le dernier bonheur du jour
C'est la lampe qui s'éteint

Tout les garçons e le filles

tous les garçons et les filles de mon âge
se promènent dans la rue deux par deux
tous les garçons et les filles de mon âge
savent bien ce que c'est d'être heureux
et les yeux dans les yeux et la main dans la main
ils s'en vont amoureux sans peur du lendemain

oui mais moi, je vais seule par les rues, l'âme en peine
oui mais moi, je vais seule, car personne ne m'aime

mes jours comme mes nuits
sont en tous points pareils
sans joies et pleins d'ennuis
personne ne murmure "je t'aime" à mon oreille

tous les garçons et les filles de mon âge
font ensemble des projets d'avenir
tous les garçons et les filles de mon âge
savent très bien ce qu'aimer veut dire

et les yeux dans les yeux et la main dans la main
ils s'en vont amoureux sans peur du lendemain

oui mais moi, je vais seule par les rues, l'âme en peine
oui mais moi, je vais seule, car personne ne m'aime

mes jours comme mes nuits
sont en tous points pareils
sans joies et pleins d'ennuis
oh! quand donc pour moi brillera le soleil?

comme les garçons et les filles de mon âge
connaîtrais-je bientôt ce qu'est l'amour?
comme les garçons et les filles de mon âge
je me demande quand viendra le jour

où les yeux dans ses yeux et la main dans sa main
j'aurai le coeur heureux sans peur du lendemain
le jour où je n'aurai plus du tout l'âme en peine
le jour où moi aussi j'aurai quelqu'un qui m'aime








quarta-feira, junho 11, 2008

Quem sai aos seus não degenera

“Regressar é reunir dois lados”

“Pero el viajero que huye
Tarde o temprano detiene su andar”

Depois de passar por quase todas as engenharias envolvidas no processo ferroviário, a engenharia eletrônica na sinalização, a engenharia elétrica na rede aérea, a engenharia conceitual no planejamento estratégico, de operações e na gestão de contratos, enfim, chegamos a engenharia civil, engenharia de via permanente, engenharia de instalações necessárias para que o trem se movimente com conforto, segurança e economia. Confesso que esperei muito por esse dia, rever meus pares, muitas vezes renegados em minhas escolhas, mas visitar a engenharia civil seria como uma volta para casa.

E foi. Na verdade com mais detalhes engraçados do que imaginei a princípio. Depois de tantas interpéries, menas, pobrema, metáforas futebolísticas, mim fazendo, mim acontecendo, pra mim olhar, pra mim ficar, me senti de volta a faculdade. Foi um festival de celulares tocando, cada um com seu toque diferente, mambos, tangos, música eletrônica. Parecia que via um pouco de todos os meus professores em todos os engenheiros.

A princípio o parágrafo acima pode parecer uma crítica, não é; não é também um elogio, é uma constatação. As classes tendem a se diferenciar e talvez a minha classe se diferencie por esses rasgos de personalidade, essa urgência de comunicar-se sem atentar ao método. Nós engenheiros podemos nos comunicar com todos, com os peões e com os gerentes, de uma maneira muito peculiar. Erramos no português e falamos de História, de Física, de Matemática e ainda pensamos economicamente. Sem contar que nos demos a liberdade de opinar, e opinamos em tudo! Política, economia, tamanho do Estado. Perto de tudo isso, geometria de via, construção de lastros, bueiros e métodos construtivos parece ser o que fazemos quando não estamos opinando. Estava precisando resgatar meu lado engenheiro!

Como estava na dúvida sobre o que significava degenerar, consultei um dicionário. Não sei se saí a eles, ou se degenerei, mas lembrei do ditado, e achei bem simbólico de tudo isso.

Houaiss – Degenerar (vi): 1. Perder ou ter alteradas (o ser vivo) as características da sua espécie; abastardar-se. 2. mudar para um estado qualitativamente inferior; declinar, estragar(-se). 3. Mudar para pior, transformar-se piorando (vti). 4. ocasionar ou adquirir maus hábitos ou práticas; corromper-se (vti). 5. provocar deturpação ou alteração; deturpação (vtd).

terça-feira, junho 10, 2008

A Zona Leste é insustentável!

Transumância
Quando entrei na CPTM achava graça da enorme quantidade de gente e do tumulto que isso gerava na estação da Luz devido ao Expresso Leste. Passado mais de dois meses, a simples idéia que vou passar por ali já causa um certo mal-estar, uma pequena depressão. È muito triste ver e viver esse tumulto. Existe uma pressão muito grande sobre mais de 800 mil habitantes que estão retornando para a zona leste pela CPTM (sem contar os mais de 1 milhão de habitantes que estão retornando pelo metrô). Empurra-empurra, aperto, brigas diárias, depredações, vandalismo, vagões crentes. Todos os dias expomos muita gente a uma condição muito irreal, sem contar a irrealidade de obrigarmos as pessoas a viajarem mais de 3 horas por dia para vir, e mais 3 horas para voltar com todo esse tumulto.

A minha primeira impressão é que tudo se resolveria por uma técnica adequada na movimentação destas pessoas. Acho que a função de engenharia é essa mesma, realizar de uma maneira economicamente viável, ambientalmente sustentável e democraticamente as ambições de uma sociedade. Mas até que ponto essa transumância é viável. Será que a sociedade sabe o quanto custa manter um crescimento desordenado desta maneira? Será que sabemos qual o impacto ambiental disso tudo? Será que não estamos expondo estas pessoas a preconceito e diminuindo as possibilidades de se realizarem após todo esse tempo e esse tumulto?

O mais louco desta discussão é que num primeiro momento se culpa o morador (quem mandou querer morar em Ferraz de Vasconcelos!). Ao mesmo tempo a tentação para tendências autoritárias é gigantesca. O difícil é imaginar uma solução para um problema destas proporções de maneira democrática e inclusiva. E aí nasce um problema grande, será que o município é mesmo o lugar correto de enfrentarmos este problema. Afinal, o Estado inteiro paga para transportarmos essas pessoas. Cabe lembrar que esse não é um problema consolidado, é um problema dinâmico, a zona leste tem taxas de crescimento superiores às do centro.

Num primeiro momento, acho que precisaríamos de dados certos sobre o impacto dessa migração em massa. A sociedade precisa saber que isso ocorre. Gente morrerá sem saber o que é o Expresso Leste, pagará por isso e não saberá. Sofrerá o impacto e não saberá. Acho que o passo seguinte será conseguir criar pólos de desenvolvimento nessa região. E não é o Tatuapé não! O Tatuapé está muito perto, aliás o Tatuapé é um centro gerador de congestionamentos, não de solução. A medida que vai atraindo novos empreendimentos, colocará mais carros nas ruas e não diminuirá a pressão da zona leste.

Acho interessante idéias como a USP Leste, além de educação e oportunidades são necessários empregos. E como atrair empregos para uma região tão difícil de chegar. Talvez o lado engenheiro pregue mais obras viárias de forma a acabar com o isolamento.

Especulação imobiliária

Combater a especulação imobiliária é necessário, mas, muito além de um problema social é um problema moral. Pergunte a qualquer cidadão e a maioria não condenará a especulação imobiliária. Ela nos foi vendida como uma esperteza, um olhar empreendedor do dono do imóvel. Nunca, jamais, como um ato que lesa a sociedade. Acho que o Estado, nesse caso as prefeituras, devem regulamentar os instrumentos que lhe foi dado pelo Estatuto da Cidade, e principalmente, a sociedade deve saber o quanto isso custa para ela. Está faltando marketing nesse combate, talvez esteja faltando clareza para os movimentos sociais para conseguirem frear isso.



Tumulto durante a quebra de um trem do Expresso Leste



Foram apedrejados 3 trens sendo mais de 60.000 pessoas afetadas



Estação Júlio Prestes

domingo, junho 08, 2008

Pecados Inocentes (Savage Grace)


Bem, se tivesse o dom de fazer uma comparação, adoraria comparar Pecados Inocentes com o Talentoso Ripley, O Grande Gatsby e Suave é a Noite e talvez tivéssemos um retrato de uma época, seria um exemplo interessante para sabermos como chegamos até aqui. Talvez seja pessimismo, mas fico com a sensação que perdemos uma onda interessante de libertação do indivíduo com a liberação sexual e a L’age d’Or do pós guerra (embora F.Scott Fitzgerald seja do entre-guerras, não acho que se perde do que estou tentando dizer).

Quando falo em libertação, digo no sentido de deixar as pessoas mais livres de tabus para seguirem seus caminhos, nesse ponto, tradição, religião, família, dinheiro, sucesso, são marcos na nossa história que nos conduzem; reverter tudo isso seria nos deixar sem marco nenhum, de maneira que fôssemos construindo novos paradigmas, ou pelo menos, construíssemos os mesmos de anteriormente, mas sem o misticismo e sim de uma maneira clara.

No entanto, em todas essas histórias, quando os personagens estão prestes a viver o mundo dos desejos, essa superação acaba levando para caminhos que realmente não nos levam a felicidade. Algo como se as novas formas de repente virassem novos marcos, se transformando em obsessão. Desta forma tudo que tinha de libertação na revolução sexual e no progresso, se tornaram novos marcos que as pessoas repetem sem produzir nenhuma mudança no final das contas.

Após toda a babaquice acima, adorei Pecados Inocentes, achei incrível como os tabus vão aparecendo, se rompendo, mas não de uma maneira libertadora, e sim de uma maneira muito sofredora. Embora totalmente longe do nosso dia a dia, e quebrando muitos dos nossos tabus. A história se apresenta como possível, como realidade. Não sei se o dinheiro ajuda a acontecer tudo aquilo, mas nas outras três histórias que apresentei, o dinheiro era o grande motivador desses desajustes.

Dá até vontade de tomar um dry-martini, fumar e ouvir jazz e tentar fazer uma comparação melhor. Nunca serei crítico de cinema! Não sei olhar um filme, só consigo ver o efeito dele em mim.

quinta-feira, junho 05, 2008

A professora de piano


Acontece muito comigo assistir um filme, gostar dele e quando o assisto novamente, esse filme se apresenta como novo. E digo novo não como metáfora de um entendimento novo, e sim como realmente novo, como se não lembrasse de nenhuma cena. Talvez a lembrança seja a lembrança do choque, o filme foi tão bom que retive em minha mente que gostei, mas como não discuti com ninguém, não lembro dos detalhes. Como entre a primeira vez que vi A professora de piano e esta surgiu um blog onde propus apresentar o que assistia, resolvi escrever sobre o filme e ver se consigo reter alguma coisa dele.

Não deixa de ser uma história de amor, se os atos de amor, de entrega, de recusa e de dúvida não fossem tão dramáticos e não-convencionais, não seria mais interessante que Amor de Perdição, no entanto, a intensidade e o fato de não ser convencional deixa o filme fantástico. Adoraria ver um psicanalista analisando o filme, como essa superação da mãe, a necessidade de entrega pode ser fantástica e como as coisas não-convencionais nos assustam! Não sei se fomos criados a achar que as atitudes de Tereza e Mariana são aceitáveis, no entanto, as reações de Érika são igualmente intensas e sofridas. No entanto, há negação do sexo em todas as heroínas citadas, só que a de Érika é mais moderna. E aí entra numa das discussões mais fantásticas que tive sobre como o sexo não é libertador e sim uma grande amarra, e nisso Érika se perde igual a Mariana.

Sem contar que a Áustria é muito mais propícia a uma história como A professora de piano do que Amor de Perdição (talvez porque ainda não vi Sissi, quem sabe mudo minhas idéias e sabriniso a Áustria).

Que filme fantástico, comecei a vê-lo no sábado e dormi, assisti na segunda-feira e ainda tenho insights sobre ele. Por enquanto ainda lembro de muitas cenas, estou até fazendo um esforço para não esquecê-lo.

Isabelle Huppert

Criei uma certa paixão pela Isabelle Huppert. Se um dia fosse entrevistado pela revista Quem e eles me perguntassem que é minha atriz favorita, diria de bate-pronto: Isabelle Huppert. Ela me convence, mesmo sendo inexpressiva. Como tem cara de paisagem essa mulher! Engraçado que só lembro dela nesse filme e em Merci pour le chocolat. Virei fã! Quero muito assisti-la como Madame Bovary.

quarta-feira, maio 28, 2008

Gardel - Volver

"Y aunque el olvido
que a todo destruye
haya matado
mi vieja ilusión
Guardo escondida
una esperanza humilde
que es toda la fortuna
de mi corazón"


Libertador San Martín!

Ótimo de trabalhar na Luz é que durante o almoço você pode passear por Buenos Aires, não é uma Buenos Aires Puerto Madero, tampouco Palermo, Palermo Chico, é quase Constitución, Once, meio Boca. Tem morador de rua, rua estreita; um prédio destoa da multidão, que não é exatamente belo, mas bem enigmático, como a Estação Júlio Prestes (quase a Alfândega).

Hoje andando pela Avenida Duque de Caxias, tive a impressão de ver San Martín em plena Praça Princesa Isabel. Não era San Martín, mas que a imagem é semelhante é. Aumentou ainda mais minha vontade de morar nos Campos Elíseos, esse nome tão charmoso que dá nome para um bairro nem tanto charmoso. Mas onde mais em São Paulo eu posso me lembrar de Buenos Aires??

Foi grande a comoção. Quis até almoçar uma milanesa para relembrar meus tempos anclao em Buenos Aires, mas só consegui achar feijoada. Nem tudo é perfeito nesta Buenos Aires imaginária.


Plaza San Martín - Buenos Aires (Estátua de San Martín)

Praça Princesa Isabel - São Paulo (Estátua de Duque de Caxias)







sábado, maio 24, 2008

A chuva, a paisagem e a oficina.

A comparação não é original. O que mais me impressionou em Travesuras de la niña mala foi o fato de Lucy escutar Ricardo como se escutasse a chuva, e o olhar o mundo como se olhasse uma paisagem, e eis que me senti tal e qual a Lucy quando me apresentaram a oficina de manutenção e os abrigos de trens.

Fresa, torno, prensa, pantógrafo, estas palavras para mim fazem tanto sentido como a chuva. A seção de motores, pantógrafos, mecânicos e graxas apareciam para mim como se fossem uma linda paisagem, exótica, num mundo que realmente não me pertencia. Caminhei durante dois dias num mundo fantástico onde as coisas não faziam nenhum sentido, onde a paisagem era desconhecida e o dialeto mais ainda.

Fiquei claramente envergonhado de como engenheiro que sou, não ter noção nenhuma do que estava vendo ou ouvindo. O palestrante falava e eu o escutava como se fora a chuva, andava pelas oficinas e as admirava como quem olhava a paisagem. Quando alguém me perguntava algo, respondia: incrível, e fazia cara de paisagem.

O mais impressionante de tudo isso foi os sheds que vi, não imaginava que tínhamos prédios tão lindos, tão monumentais na ferrovia. Consegui perceber outros termos técnicos mais próximos da engenharia civil. Preocupei-me com circulação, logística, iluminação, estruturas metálicas e só fui entender a diferença entre uma fresa e um torno num rodízio quando estávamos comemorando o fim dos passeios.




terça-feira, maio 20, 2008

Ainda assim Católico?


Acho esse assunto tão démodé que me sinto até mal em escrever sobre isso. Se o homem faz por si só todo o caminho da sua civilização, acho que existe parte de mim que ainda está não chegou na modernidade.

Dentre as pessoas que converso, me vejo (pelo menos eu acho que os outros também me vêem assim) como um defensor radical do Estado laico. Sou contra o véu, o quipá, a cruz em lugares públicos. Sou contra procissões, feriados santos e marchas pra Jesus. Ainda acho que somente o Estado laico pode trazer a liberdade religiosa plena. Gostaria de ver uma ação afirmativa para ateus e agnósticos, nosso mundo não os entende muito bem, e devemos garantir o direito deles serem ateus e agnósticos, tal qual o direito de ser católico. Sou favorável ao aborto, ao casamento gay e não suporto que alguém utilize argumentos religiosos nestas discussões.

Quando entrei na CPTM encontrei uma nova causa para lutar, o combate aos vagões crentes. Para mim, os pregadores nos trens são criminosos, acho que todo o proselitismo, exceto o proselitismo do Estado laico, que inclui a todos e não discrimina ninguém, deveria ser crime.

Escrevi tudo isso acima para chegar a conclusão contraditória que ainda me considero um católico, católico não-praticante, porque já deve fazer mais de 3 anos que não comungo, que não confesso, que não vou à missa. E passado todo esse tempo, não consegui nem me tornar um ateu, nem tampouco acreditar em outras doutrinas. Não consigo conceber a idéia de reencarnação, para mim não faz sentido algum, acho até um pouco covarde a idéia. Não consigo acreditar em teologia da prosperidade (muito embora um pouco de prosperidade aumentasse minha fé). Não vejo graça nenhuma no Budismo, talvez por não ser uma maneira muito ocidental de crer.

Ok, considero-me católico e faço sexo, uso camisinha, tenho os meus pecados e de muitos deles não me arrependo. Embora contraditório, ainda acho que o catolicismo tem respostas para o mundo moderno, mesmo sendo ortodoxas. Não podemos esquecer que toda essa noção de individualidade que existe hoje vem da Igreja. A Igreja defende a individualidade, o perdão, a caridade, o amor e a fé e tudo isso é necessário para o mundo moderno. Necessário, mas não suficiente, existe sempre esse combate ao corpo que está arraigado em nós, e existe a necessidade de sublimação do sexo, que a Igreja combate em algumas formas, mas que pode ser feita de maneira a manter a individualidade, o perdão, a caridade, o amor e a fé; a utilização sadia do corpo (o corpo como templo) também é objeto da Igreja. Tenho uma fé incrível, fé que as coisas vão dar certo, e que esse dar certo tem um elemento sobrenatural. Em todos os meus pensamentos sobre morte, não consigo me afastar do Credo (... donde há de vir a julgar os vivos e os mortos, creio em Deus, na Santa Igreja Católica, na comunhão dos Santos, na remissão dos pecados, na vida eterna...)

Não me vejo um católico praticante. Defendo o mundo; mas acho bonita a visão do mundo dos católicos. Não é fácil ser católico, requer sacrifício. E no atual estado não é uma igreja proselitista, e sim uma igreja em busca da sua identidade.