Eu acho realmente incrível como um incidente pode criar tanta repercussão e por em risco todo um sistema constituído. O assassinato de Benazir Bhutto põe em xeque toda a idéia que existiria um meio-termo entre a ditadura e o talebã. Acredito que as posições se radicalizarão e o Paquistão vai entrar em guerra civil.
Antes de mais nada, estou chegando cada vez mais a conclusão que política não é um preceito moral e ético, é uma práxis. Deve ser estudada com a análise da Sociologia, de maneira nenhuma como o Direito. O sistema político de um povo está ligado à sua história, sua estrutura de poder, a imagem que esse povo faz de si, nunca através de axiomas e doutrinas. É horrível admitir isso, mas toda vez que se quer criar um sistema político através de doutrinas corre-se o risco de criar uma situação insustentável e artificial.
Pensando desta forma, então não existiria uma forma acabada de democracia, ela é fruto de várias dinâmicas internas dos Estados-Nação, mas também é um elemento econômico e cultural. No entanto, não temos Estados-Nação independentes, e sim interdependentes, e, querendo ou não, o capitalismo é global, o que acaba criando alguns preceitos de organização do estado igualmente globais, mas que sempre estará em choque com os aspectos culturais e sociais locais (poria aqui também aspectos econômicos locais, embora a economia seja global, possui uma parcela local).
Dentro deste contexto, qual seria o regime político paquistanês? Bem, um regime talebã só poderia ser construído se o Paquistão não estivesse inserido no mundo, como era o Afeganistão. Uma ditadura pró-ocidente, garantiria essa inserção no mundo, mas seria corroída pelo extremismo talebã. Não consigo pensar em outra solução do que o pronto estabelecimento de instituições democráticas (parlamento, suprema-corte, governos locais) como freio para a escalada radical no Paquistão. Só assim, se poderia envolver a população num projeto de Estado que superasse os aspectos tribais e rompesse com o radicalismo religioso.
Talvez seja uma mentalidade de classe média, mas fico imaginando o que pensa um operário do subúrbio de Karachi ou Islamabad. Não consigo imaginar um sujeito assim apoiando uma guerrilha talebã, ao mesmo tempo, as ligações dele com o ocidente não permitiriam a ele simplesmente apoiar um regime militar.
Podemos lembrar sempre que Benazir Bhutto teve graves problemas de corrupção no seu governo, que não conseguiu terminar nenhum mandato, no entanto, só a idéia de alguém que queria trazer a normalidade das instituições (num país que nunca teve normalidade) já me faz ser simpático a ela. Sem contar que é uma mulher num país em rota de radicalização.
quinta-feira, dezembro 27, 2007
O preço da liberdade é a eterna vigilância II
terça-feira, dezembro 25, 2007
Urbi et Orbi
Um Natal nouvelle vague
Eu realmente me descobri assistindo Truffaut, agora que estou lendo, comecei a perceber coisas que antes não percebia. A realidade tem um poder de entretenimento fantástico, se tratada com simplicidade, pode demonstrar toda a complexidade inerente. Enfim, sou um homem diferente depois que conheci Antoine Doinel. Sem contar que o francês cada dia mais me cativa, nestas mini-férias estou dedicado ao Petit Nicolas que não deixa de ser uma criança nouvelle vague (com tudo que possa significar isso, mesmo que tenha significado algum).
quarta-feira, dezembro 12, 2007
O preço da liberdade é a eterna vigilância
Estou achando ótimo como as coisas mudaram no Senado a partir da constatação de que o governo não é maioria. Já tinha pensado em escrever aqui sobre a obstrução como prática parlamentar da minoria, sobre a necessidade do bloco de oposição de fazer obstrução para atrasar a votação da CPMF.
Embora a obstrução possa nos parecer estranha, uma vez que eles estão lá para votar, é uma medida de defesa ao rolo compressor do governo. As obstruções que a oposição fez em meados de novembro deram ao parlamento um ar de parlamento inglês. Não era uma obstrução escondida, era declarada, com propósito. Pode-se concordar ou não no propósito, mas era de fato legítima.
No entanto, faz duas semanas que a maioria está usando a obstrução como prática parlamentar. O governo não consegue os 49 votos suficientes para aprovar a CPMF e retira do Senado seus senadores. A maioria entrou em obstrução! Dêem o título de líder da maioria para o Senador Agripino Maia. A Senadora Ideli Salvatti, não pode mais assumir a liderança da maioria, quem faz obstrução é a minoria!
Frase do Senador Mário Couto (PSDB/PA) no blog do Josias de Souza: “Nunca vi na minha vida um governo fazer obstrução contra um projeto dele próprio. Senadores mais antigos me disseram que a última vez que o governo fez obstrução no Brasil foi na época do João Goulart’
Para quem se pretende uma mescla de Vargas e Juscelino, se comporta no congresso como Goulart. O governo errou tanto, que se ganhar agora, a fatura vai ser exposta de qualquer maneira. Atacou quem não devia, seduziu quem não era seduzível, praticou um maquiavelismo para dividir a oposição e fez água. A cooptação ficou igual ao programa Fome Zero, deu em nada!
Oxalá que percam!
segunda-feira, novembro 26, 2007
Um bom ano
Acho incrível como certas músicas, certos filmes, certos livros entram na nossa vida no momento certo. As vezes, passado esse momento, olhando-os novamente percebemos que o impacto foi devido principalmente a circunstâncias internas do que ao filme, ao livro, à música. A maior prova disso talvez seja Os Sonhadores, que quando vi causou um turbilhão tão grande que me fez remoer o filme por meses, e que quando o assisti novamente percebi que fui eu que fiz o filme melhor. Piazzolla, Bizarre Love Triangle, This side of Paradise, As Horas e Blur tiveram sorte melhor, a segunda leitura, ou ouvida (que termo feio) provocou novas e melhores sensações.
Se a arte nos ajuda a enfrentar nossos medos (adoro clichês psicanalistas, embora Marcuse destruiu um pouquinho a minha ilusão de clássicos), acho que Um Ano Bom deu a calma necessária após o adiamento do projeto e a perspectiva de uma boa semana de férias entre Natal e Ano Novo. Realmente não estava num dia bom: pouco produtivo, preguiçoso, irritadiço. Por sorte tomei a decisão de buscar um filme na locadora.
Gosto de filmes bonitos. E como o filme é bonito! Imagens bonitas, calor empoeirado, contraste entre a cidade e o campo. Felicidades simples, individuais e individualizadas (como uma felicidade burguesa). Que vontade de beber vinho! De abrir uma garrafa de vinho, de olhar pela janela, de sentar numa cadeira, que vontade de terminar de ler meu Grande Gatsby. Acho que me lembrei da necessidade de férias, de objetivos.
A trilha sonora é perfeita, achei um filme tão bem cuidado, tão bem feito, sem pirotecnias, um filme bom, simples. Nem todas as coisas boas precisam ser rebuscadas. Imediatamente lembrei-me de A cidade e as serras. As simplificações que são feitas tanto da cidade como do campo é que permitem esse confronto todo, as simplificações talvez tenham o efeito do tipo-ideal, realçam, reforçam a característica.
Adorei o filme, embora seja um filme do ano passado, foi um dos melhores filmes que vi este ano.
terça-feira, novembro 06, 2007
Que papelão!
Voir les musiciens
Voir les magiciens
Qui arrivent, vien!
Eu estou indignado com o PSDB. Embora seja até parte do folclore do partido essa indecisão toda, essas idas e vindas em torno da CPMF só fizeram o partido perder pontos comigo. Talvez seja um certo egocentrismo meu, mas me considero como uma pessoa representativa, pelo menos tenho a sensação que minhas opiniões políticas são provadas nas urnas, embora cada vez acerte menos.
Mas vamos usar um pouco de lógica. Num primeiro momento o partido se lançou como um partido oposicionista. Fechou questão na câmara com uma unidade que não se via há muito tempo. Os ânimos se acirram e a derrota do governo parece certa, ainda mais com os reflexos da crise no Senado. O PSDB acena ao governo em busca de um acordo.
Aí vem o desenlace mais absurdo. O governo aceita o aceno, vem ao PSDB e deseja negociar. Nesse ponto, o PSDB caiu na armadilha. Se tivesse se posicionado contra desde o início, seria acusado pelo governo de inconseqüente, poderia retrucar lembrando o PT do passado e que não apoiaria o governo. No entanto o governo se mobilizou e mostrou uma proposta. A cúpula não sentiu que o partido estava totalmente contra e simplesmente quis negociar pondo em risco a unidade do partido. Quando viu, teve que sair da negociação com o governo fazendo ótimas concessões. Agora sim vai ser acusado de inconseqüente, e com razão!
Enquanto Ideli dorme, Aloízio repensa sua vida...
Eu estou impressionado com Aloízio Mercadante. Depois do papelão da campanha para governador e da absolvição do Renan, acho que a ficha caiu. Adorei sua campanha a favor da licença e agora na negociação da CPMF. Para quem viu em 2001 uma palestra com um economista raivoso contra o governo FHC, falando de herança maldita e tudo, para depois o defender as mesmas políticas como líder do governo, essas ações demonstram que alguém perdeu o sono e começou a repensar sua vida. Já a Ideli...
domingo, novembro 04, 2007
Finados Chove!
Este feriado seria um feriado bucólico: road trip, Serra da Mantiqueira, trilha sonora no carro, celular sem sinal, cachoeiras, banho de cachoeira, sol para se esquentar, oxalá uma pousadinha, café da manhã colonial, Folha de São Paulo e baterias repostas. Eis que um agouro tomou conta do feriado. Dia de finados chove! E para todo mundo que o plano era posto, a sentença era fatal. E Choveu!
Saudades matadas, martinis, conversas e muita chuva. Planos adiados. Nenhuma perspectiva de sol aberto. Claro que houve um pequeno espaço para a decepção, afinal era feriado! A busca do programa perfeito me levou a lugares incríveis, situações paradigmáticas. Mais uma vez a convivência foi marcada por fenômenos beirando ao surrealismo.
No entanto, no domingo a tarde, deitado no colchão da sala, o meu subsolo revolucionário foi tomado de assalto pela minha pequena-burguesia. Colchão na sala em um dia de chuva, televisão, conversa e carinhos podem resumir qualquer busca de um feriado. Como se a resposta de todas as viagens estivesse ali naquele colchão, e aquele colchão poderia estar em Paraibuna, Ulan Bator ou Praia. Que chova nos finados! Minha casa burguesa precisa de companhia e um colchão. Álcool e Cigarros são bem-vindos.
That Old Feeling
(Lew Brown/Summy Fain – voz de Chet Baker)
I saw you last night and got that old feeling
When you came in sight I got that old feeling
The moment that you danced by I felt thrill
And when you caught my eye, my heart stood still
Once again I seem to feel that old yearning
And I knew the spark of love was still burning
There’ll be no new romance for me,
It’s useless to start
‘Cause that old feeling still in my heart
quarta-feira, outubro 31, 2007
domingo, outubro 28, 2007
Globalização Periférica
Enfim, cheguei em casa e coloquei o tal do Calypso para tocar enquanto eu estendia a roupa no varal, eis que me veio uma prova através da comparação. O fenômeno Calypso já aconteceu na Argentina, com igual intensidade e utilizou de alguns sons locais com letras melosas para se infiltrar no país todo. Por fim, se tornou um fenômeno de massa, abriu caminho para outros e causou uma dialética interessante: rock argentino x cumbias e quartetos (tropicales). O mais interessante é que tanto Rodrigo na Argentina, como o Calypso aqui, lembram sempre que são de fora, de fora do centro do país. Talvez essa identificação com outros que estão fora do centro ajude na sua massificação, talvez...
Dançando Calypso
Não para não
Vem cá
Me dá a tua mão.
Quero que sinta
Toda essa emoção.
Cavalo manco
Agora eu vou te ensinar
Isso e muito mais
Você só vai encontrar
No Pará (aaaaaaaáaaa)
Soy Cordobés
Soy cordobés!
Me gusta el vino y la joda
Y la tomo sin soda
Porque así pega más
(pega más, pega más)
Soy cordobés!
Me gustan los bailes
Y me sinto en el aire
Si tengo que cantar
De la ciudad de las mujeres más lindas
Del fernet de la birra,
Madrugadas sin par
Soy Cordobés!
Y ando sin documentos
Porque llevo el acento
De Córdoba Capital (eles falam Cordóba! Eu juro!)
Enfim, acho que dá começar a fazer um paralelo.
P.S. A propósito, Calypso é horrível, é um chicletes de ouvido, como ela só fala clichê você guarda rápido, no entanto os temas são péssimos e a voz dela, pior. Agora estou escutando uma música que nunca imaginei que alguém fizesse: maridos e esposas (sic)
quinta-feira, outubro 25, 2007
Radical Intransigente??
Mas não me altere o samba tanto assim
Eu e a CPMF
Nos poucos momentos que posso, entro na Internet rapidinho para olhar em que pé anda a negociação da CPMF no Senado. É engraçado isso, embora realmente acredite que hoje o imposto é imprescindível, é notável o mau-humor com que eu vejo a negociação do PSDB com a proposta.
É uma questão de coerência torcer por uma derrota do governo nesta questão. Pra quem votou em 1998 e 2002 ainda sobre o impacto do discurso do Fernando Henrique em sua despedida ao Senado, que propunha a superação da era Vargas, a modernização do Estado, traçava um paralelo entre o público e o estatal, incentivava a responsabilidade fiscal e da sociedade civil e a desestatização como motor de um choque capitalista; nada mais comum do que se opor a um governo que pretende ser um novo Vargas, que loteia as agências que foram criadas para ser o motor deste choque de capitalismo e que é adepto do personalismo político.
No entanto, o que fazer como o dever de manter a governabilidade? Oras, não podemos tirar do governo um dinheiro que financia a Saúde, a Previdência e a Assistência Social. É notável o avanço que tivemos em relação a diminuição da desigualdade, e principalmente que as classes D e E têm hoje um crescimento chinês. No entanto, o governo entrou numa reta crescente de gastos públicos (e não só investimentos, mas gasto público mesmo!), sem contar a arrogância e o terrorismo que se posicionaram na aprovação da CPMF.
Considerando tudo isso, gostaria muito de ver o governo não conseguir aprovar a CPMF, seria uma pedra angular do segundo mandato. Embora o Lula consiga eleger até um poste nas eleições de 2010, seria uma forma de criar uma oposição atuante, e que, embora não seja maioria, encontraria eco na sociedade (Já cansei de discutir isso, existe um público anti-Lula grande, convivo com eles, flerto com eles, às vezes me confundo com ele, e isso para mim não é nem golpismo, nem o fim do mundo).
PSDB e a CPMF
Agora começa o achismo. Acho que o PSDB deveria fechar contra a aprovação da CPMF. Não deveria ceder o papel de maior opositor aos Democratas. Deveria assumir essa posição e arcar com as conseqüências, assim como deveria ter se posicionado a favor das privatizações na campanha de 2006.
Essa posição pode causar um acirramento das disputas. O governo é um grande teflon que poderia colocar na oposição a culpa de todos os seus problemas, no entanto, essa atitude seria bem recebida para aqueles que se posicionam na oposição.
Infelizmente, o PSDB não consegue hoje uma unanimidade como conseguiu em 94 e 98. Deveria ler o discurso do Fernando Henrique de despedida ao Senado em 94 e o de posse do Serra no governo em 2006 e perseverar encima destes pontos: modernização do estado, democratização, maior participação da sociedade e responsabilidade fiscal. Manteria sua bancada no congresso e dormiria tranqüilo, sem a mosca azul das concessões visando a possibilidade de voltar ao Planalto.
A União Cívica Radical e a CPMF
Estou fissurado na União Cívica Radical. Hoje, não sou nem petista, nem tucano, sou radical. Não consigo imaginar no Brasil um partido que pôs na democracia seu maior lema. Enquanto as eleições na Argentina não eram secretas, tentou a democratização pela força, quando veio a democratização, defendeu a democracia. Abriu as universidades, governou para a nação que nascia da industrialização. Quando veio o populismo de Perón e dialeticamente surgiram os duros que o tentavam derrubar, se dividiu, parte ponderando os avanços do Peronismo, parte lembrando a ditadura que esse instalava. Veio a ditadura de Perón, veio um golpe sangrento que o derrubou e lá estava a UCR pedindo a democracia. Se dividiu novamente sobre como organizar a nação frente ao túmulo do peronismo. Eram Radicais os únicos presidentes eleitos nos anos 50 e 60. Sofreu oposição tanto dos duros como dos peronistas, sucumbiu a golpes. Apoiou a volta de Perón e combateu a exceção de Isabelita. Veio outro golpe. Se posicionou a favor dos direitos humanos, quando isso era uma grande subversão. Veio a democracia, e tentou refazer o Estado, julgando o passado e o mantendo dentro da Lei. Foi destroçada pelo sonho de uma Argentina Rica, e quando o sonho naufragou, voltou ao poder. Sucumbiu novamente e hoje embora na oposição, é a oposição democrática, sem sobressaltos, sem personalismo. São radicais na defesa da democracia, de valores individuais, da universidade pública. Acho que são a consciência dos argentinos. As vezes as paixões se sobrepõe, e depois, sempre volta a consciência. Dos 6 presidentes que elegeu, somente Marcelo Alvear conseguiu terminar o mandato, Yrigoyen, Frondizi e Ilía foram depostos, Alfonsín e De la Rua renunciaram. Seu fundador se suicidou. Acho que isso prova como sucumbem as paixões, mas sempre voltam. Adorei a frase de Leandro Alem (fundador) na sua carta testamento. Que sé rompa, pero que no se doble!
Aposto que a UCR não fecharia questão na CPMF. No entanto, seus parlamentares votariam contra, perderiam, mas continuariam a votar contra!
terça-feira, outubro 23, 2007
Mais um post tanguero...
Abaixo vai o tango mais reacionário que existe. Com todas as características acima, é impossível existir um tango revolucionário. No entanto, Cambalache, é o mais reacionário de todos. Quando o ouço, imagino um velhinho com o La Nación embaixo do braço conversando no metrô com outro velhinho. O engraçado de tudo é que o tango teve sua época dourada no auge da Argentina, quando a classe média chegou ao poder depois da Revolução do Parque (ok, chegou ao poder 26 anos depois da Revolução do Parque, mas foi graças a ela) e quando a reforma universitária abriu a universidade pública para todos.
Imagino o velhinho, na época do Perón, onde todo aquele mundo que surgiu com a Revolução do Parque veio abaixo; não é a toa que Cambalache é um tango tão pessimista. Fazendo uma extrapolação politicamente incorreta, acho que cabe para um velhinho venezuelano também, que está vendo o declínio da sua geração. No fim, acho que o pessimismo é mais uma reação aos novos tempos que uma coisa inata.
Queria fazer um paralelo entre Perón e Chavez, no entanto ...
Cambalache
(Enrique Santos Discépolo)
Que el mundo fue y será una porquería
sábado, outubro 20, 2007
Antitango
Encontram-se para beber. Existe sempre a necessidade de ver o mundo, senti-lo. E o mundo entra na vida de ambos e eles enxergam o mundo dos dois; Como se fosse possível voltar ao passado, como no dia que se encontraram. Embora o bar não fosse o mesmo, o encantamento era igual ao primeiro dia. E falaram do mundo, falaram deles. Beberam, riram. Sem querer, perceberam que já havia passado algum tempo e que o futuro era tão palpável como ir para Mongólia. Ambos gostam de músicas tristes, trágicas e histéricas e, no entanto, estavam vivendo um antitango.
Los Mareados
(Luis Carlos Cobián, Enrique Cadícamo)
Rara...
hallé bebiendo
linda y fatal...
Bebías
y en el fragor del champán,
loca, reías por no llorar...
Pena
Me dio encontrarte
pues al mirarte
yo vi brillar
tus ojos
con un eléctrico ardor,
tus bellos ojos que tanto adoré...
Esta noche, amiga mía,
el alcohol nos ha embriagado...
¡Qué importa que se rían
y nos llamen los mareados!
Cada cual tiene sus penas
y nosotros las tenemos...
Esta noche beberemos
porque ya no volveremos
a vernos más...
Hoy vas a entrar en mi pasado,
en el pasado de mi vida...
Tres cosas lleva mi alma herida:
amor... pesar... dolor...
Hoy vas a entrar en mi pasado
y hoy nuevas sendas tomaremos...
¡Qué grande ha sido nuestro amor!...
Y, sin embargo, ¡ay!,
mirá lo que quedó...
sábado, outubro 13, 2007
On the Trails!
Y no hay nada como tu amor
Como medio de transporte
Tudo estava igual como era antes
Quase nada se modificou
Acho que só eu mesmo mudei
E voltei!
Carro, ônibus, metrô. Pausa. Metrô, subúrbio, circular. Acho que passei por todos os tipos possíveis de transportes urbanos (e suburbanos) para vir de São José dos Campos a Jundiaí! A vontade de sumir era grande, a pobreza deste mês motivou também, e no fim descobri que consigo vir a Jundiaí com apenas R$ 2.30! (Mais R$ 2,30 de circular em Jundiaí, caso a mala esteja pesada!)
Além do dinheiro, o sair de viagem é fantástico, o chegar mais fantástico ainda. Seja o chegar numa catraca de metrô, seja chegar à porta de casa. Saudade é um ótimo motivador de movimentos. Como bom romântico que sou, adepto das fugas e das saudades; estou sempre em movimento!
Minha nova paixão: trens
É fantástico andar de subúrbio. É uma experiência que todo mundo deveria passar. O trem é a cidade na sua essência, gente de todo. Sem preconceito nenhum. Lógico, que quando estava nele ficava imaginando como as pessoas que convivem comigo enxergariam aquilo. Uns falariam do perigo, crimes, assaltos. Outros, da total falta de classe. Outros tirariam sarro de estar num meio de transporte tão pobre. Quem realmente importa? Achou fantástico!
Momento terapia
Busco muito minha individualidade, essa busca já me alargou tantas fronteiras que acho que valeu a pena essa necessidade de me diferenciar. Depois de algumas sessões de terapia falando sobre a facilidade com que desfaço meus laços, tenho certeza que esse movimento foi um importante formador de identidade. Agora chega! Estou na fase mantê-los, e que laços bons são os de agora!
terça-feira, outubro 09, 2007
E no meio da bagunça encontrei Calamaro
Quando estava na Argentina e escutava alguma coisa interessante, tentava criar um paralelo com alguém do Brasil para traçar exemplificar o que estava escutando. Não sei se consigo fazer esse paralelo com Calamaro. Ele é Pop com certeza. Tem uma modernidade a la Skank algumas vezes, tem um certo quê de Arnaldo Antunes. Talvez ele não se considere um pop afinal é colocado no rol dos cantantes de rock argentino. Enfim, tem frases ótimas, tem músicas que tocam muito nas rádios, e é um argentino típico.
O que me prende às suas músicas é realmente esta desconstrução toda que ele se impõe. Não estou falando nada de música, de conceitos, e sim da situações que suas músicas retratam. Os romances são reais, não românticos, mas as reações são fantásticas; as fugas, incríveis; e nesse universo entra o bar (Salud, Copa Rota, Milonga del Marinero), metáforas ótimas sobre relacionamentos (Paloma, Flaca, Negrita). Em algumas músicas o passado volta, seja recordação (Por no olvidar), seja fisicamente (Negrita).
Temos todos os elementos para ser um cantor que beira o brega, o Jota Quest (que eu odeio) já tratou de todos estes temas e ainda consegue vender Fanta, no entanto Calamaro tem um humor raro. Lança pérolas, se mostra com humor, um humor até negro. E o melhor: não consigo me lembrar de uma música que ele não acabe entrando em um processo de auto-análise. Com certeza o cara deve ser um pouco egoísta, afinal, mesmo nas canções que falam de outras pessoas, o narrador toma espaço e se põe de maneira surpreendente.
Esses processos de auto-análise podem ser depressivos (Media Verónica), mas também de uma tranformação engraçadíssima (El Salmón). O legal é que ele tira sarro nos nossos problemas pequeno-burgueses sendo um típico. Suas canções são cosmopolitas como Buenos Aires, e embora seja um porteño padrão, nunca ouvi na sua música qualquer referência ao Rio da Prata, nem tampouco o fato da cidade estar no Rio (balelinha presente em todo mundo), pelo contrário, fala muito de mar!
Um outro fato interessantíssimo é que ele migrou para a Espanha no começo dos 90 e fundou lá uma banda, Los Rodríguez que fez muito sucesso, e depois voltou pra Argentina. Enfim, se aquela história do homem que refaz por si só todo o caminho da sua civilização for verdade, ele está refazendo por si só a história do povo dele (ok, todo turista tende a generalizar, sendo assim, fui a Buenos Aires e só vi Andrés Calamaros por lá!)
Estou numa fase tão cosmopolita, moderna, ao mesmo tempo, sem o “tudo que é sólido se desmancha no ar”. Uma fase consistente, enfim, foi ótimo encontrar Calamaro neste período. Claro que tudo isso não tem nada a ver com São José dos Campos nem com SAP. São Paulo hoje já está melhor que Buenos Aires, pelo menos para mim!
Algumas músicas:
Flaca
Media Verónica
Negrita
Donde Manda, Marinero
Mucho Mejor
Paloma
Mi enfermedad
Por no olvidar
Te quiero igual
Salud
El Salmón
Flaca
segunda-feira, outubro 01, 2007
De quem é essa África??
“Cuando manyés que a tu lado
Se proban la ropa que vas a dejar”
Depois de um período de expansão do crédito, aumento desenfreado nos consumos; depois de meses de uma vida cosmopolita de prazeres. Chegou a hora de um acerto de contas. Ortodoxo, liberal, bem consenso de Washington.
O plano é simples e responde pelo nome de Burkina Faso. O PIB per capita deste país é quase a minha renda mensal. No entanto, antes que minha renda se torne uma renda burquinense, faz com que seja necessário cortes drásticos!
O plano é simples:
Superávit primário;
Manter as dotações orçamentárias do projeto Belezinha-2011;
Diminuição do patrimônio a partir de março de 2008;
A princípio a aplicação do plano se dará pelo acompanhamento das contas e pelo controle solidário dos gastos com diversão. Aluguéis de vídeos e cinemas serão substituídos por dvds emprestados e gravados por Maurice. Livros e revistas serão substituídos por livros comprados não lidos (comecei agora com El Vuelo de la Reina, e seguindo a história do Salazar). Músicas poderão ser baixadas da Internet, já que a banda larga ainda está no plano de investimento. Não serão admitidas viagens de carro para fora do Vale do Paraíba.
O plano requer uma certa dose de calvinismo, mas... agora eu acho que vou conseguir!
segunda-feira, setembro 24, 2007
Perla
Abaixo, musiquinhas de Perla, numa seleção que vai desde o Pop a música tradicional paraguaia, desde uma toada hippie até um romance mais escancarado!
Estrada do Sol
Tem um refrão fantástico. As batidinhas são perfeitas para uma road trip. Perla sem medo de amar, de assumir seus sentimentos. O mais engraçado que embora ela esteja morrendo de amor, a música é de um otimismo só!
Nuvem Passageira
Perla canta a efemeridade da vida. Pode parecer que eu estou tirando um sarro, mas no fundo eu acho bem interessante o que ela fala. Claro, é brega, com as reduções e os clichês, mas ... (eu sou brega...rs)
Malagueña
Música tradicional. Embora esteja falando de uma região da Espanha, até consigo imaginar paraguaias, harpas e o Rio Paraguai. O mais interessante que até o Pavarotti cantou, mas a Perla cantou antes!
Ah, conheci essa música num programa do Ratinho...rs, o Marquito estava vestido de prenda, e cantava sem dentadura, na hora do refrão (Malaaaagueeeeeeeeeeee (....) eeeeña, la salerosa) ele colocava o microfone inteiro na boca! Eu não consigo lembrar um dia que eu dei tanta risada. Só por esse número ele deveria ganhar uma bolsa-família eterna. Desde que eu descobri o youtube eu procuro esse quadro.
Cuba (quiero bailar la salsa)
Infelizmente não tem no link que eu envio. Essa música me lembra o trajeto Angra-Rio. Essa música tem que ser ouvida imaginando a perla sobre patins!
Não quis pôr nenhuma do ABBA, mas destas, a que eu mais gosto é o Jogo já acabou (The winners takes it all)
http://app.radio.musica.uol.com.br/radiouol/linklista.php?nomeplaylist=006326-5%3c@%3eGrandes_Sucessos&opcao=umcd
quinta-feira, setembro 20, 2007
Será a Oscar Freire Wuthering Heights??
segunda-feira, setembro 17, 2007
Eu sou moreno (mas às vezes posso ser do B)
Ainda contagiado com o Rio de Janeiro, cada vez que via um CIEP lembrava do tal do socialismo-moreno (não sei se a reforma já tirou ou vai tirar este hífen, nem sei se ele existiu algum dia, no entanto me senti incomodado sem ele). Ao ver o sambódromo a lembrança foi maior ainda. Tentando aplacar o tédio de ver a mesma planilha por três semanas consecutivas, comecei a procurar textos sobre o tal socialismo-moreno e quase caí para trás em perceber minha morenice.
Eu nunca fui lá muito dogmático, e se a tentativa de dar uma cor nacional ao movimento socialista deu ao socialismo este adjetivo, roubo-o e o assumo! Sou moreno! Sou moreno em tantas áreas, que além da minha afrodescendência já comprovada pelo quelóide e algumas manchas na gengiva, posso adotar o moreno na religião, na política, na minha visão de trabalho, em muitas posturas que tomo.
A morenice (substantivei o moreno!) para mim passa a ser o oposto de do B, do B é o radicalismo, o dogmatismo que sufoca a morenice. As pessoas passeam entre a morenice e o do Beísmo.
A partir disto posso tomar algumas posições interessantes, em assuntos que havia me excluído por não ter enxergado uma veia morena.
Catolicismo-moreno
Realmente, eu sou um católico moreno (para comparação, o Papa Bento XVI é um católico do B). Nasci católico, toda minha ética é católica, ando um pouco desmistificado, mas acho que ainda estou muito mais católico que ateu. Esse catolicismo-moreno poderia me trazer de volta para o catolicismo, procurando vias menos dogmáticas de se viver o evangelho (“E não sede conformados com este mundo, mas sede transformados pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus” Rom 12:2). E aí esse catolicismo que deu ao mundo o individualismo, mas também toda uma gama de culpas e sentimentos bons, poderia se modernizar, se enraizar, e aceitar coisas não tão dogmáticas como essa repulsa ao sexo toda que causa pedofilia, segredos e outras cositas mais.
Workaholic-moreno
Talvez pelo grau de catolicismo-moreno, que cria todos esses antagonismos em relação ao trabalho (“aquele que não trabalha não merece comer” x “é mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha que um rico entrar no reino do céu). Vivo dilemas homéricos no meu trabalho. Ao mesmo tempo que me jogo nele, ele me causa sofrimento e repulsa.
Tirando a religião deste tema. Olho para os lados e vejo preguiçosos e pessoas workaholics do B, eu realmente sou os dois, sou moreno. Tenho a sensação que preciso construir uma nova visão do trabalho, menos traumática, menos dogmática, e essa visão terá que sair pela morenice. Não pode haver extremos para uma pessoa que não é extrema!
Mas também posso ser do B
Ok, morenice é interessante, mas em certos casos devemos ser radicais, e esse radicalismo nos afasta de certas considerações. Em alguns momentos ser do B significa se posicionar.
Social-democrata do B
Sou social-democrata, essa coisa reformista que aceita o capitalismo e tenta equilibrar os dois opostos capital e trabalho. Aceito o capital como mola propulsora e aceito o trabalho como socialização, fonte de realização de desejos. Aceito ambos. Defendo ambos. Sou contra a total liberalização, e sou contra a total estatização! Sou contra a não termos nenhuma regra trabalhista, mas sou totalmente contra o tal do estado-orgânico, corporativista, fascista. E sou a favor desta democracia burguesa, de parlamentos que absolvem senadores encrencados e que vai as urnas de tempos em tempos.
Defensor dos direitos humanos do B
Nem preciso me alongar nisso, acho estranho alguém que não seja defensor dos direitos humanos do B. Coloco aí não só integridade da pessoa, como também garantir suas liberdades de culto, de corpo, de opção sexual.
Fiquei muito curioso em ler mais coisas sobre o tal socialismo moreno. Embora seja um social-democrata, e o socialismo-moreno seja socialista democrático, achei ótima a idéia, deve ter sido linda a eleição do Brizola em 82!
terça-feira, setembro 11, 2007
Via Dutra
Passei o feriado da independência no Rio de Janeiro! Saí da toca e acabei surpreendido pela cidade. Tinha muitos preconceitos que se diluíram ao chegar, talvez pela companhia, talvez pelo dia de sol, talvez por saber que ali era a cidade do Rio e não o Estado do Rio.
O mais engraçado de tudo é que eu, sempre contraditório, com esse espírito pequeno-burguês que surge das minhas profundezas, que ressuscita Jundiaí dentro de mim, caí de amores pelo Leblon! Por mais que eu tente ser Lapa, o Leblon surgiu e me encantou. Ruas com gente caminhando, cerveja na calçada, não é agressivo como o Jardins, não ostenta como o Cambuí. O Leblon é feliz por ser Leblon. Me senti em casa, uma casa meio de sonhos, meio de revista Piauí, feliz na simplicidade, felicidade de artigos da Danuza Leão. Eu e o Leblon nos entendemos, nos gostamos. Eu o entendi, ele me entendeu.
Não acho possível São Paulo ter um Leblon, o espírito paulista flerta com o Leblon, mas falta o tempero que só a praia dá. Infelizmente, eu, paulista inveterado, tenho que admitir que meu ideal de vida hoje se chama Leblon.
Queluz! Queluz!
Ótimo é o Rio de Janeiro, mas é uma emoção diferente entrar no estado de São Paulo. A natureza vai se domesticando, as cidades vão ficando mais discretas, sem expor suas fraquezas para qualquer um que passe na rodovia. O rio Paraíba se aquieta, a Mantiqueira se afasta, as serras indomáveis do Rio de Janeiro dão espaço ao Vale. Nem com a humildade que se confunda com a submissão, nem com a altivez que se misture com a arrogância. Assim vai surgindo o Estado de São Paulo. Cidades pequenas, cidades médias, indústrias, pasto. As cidades vão crescendo, a estrada cada vez mais plana. Parei em São José dos Campos.
Esse pragmatismo todo do paulista, essa lógica diferente, esse conflito mediado, as vezes explosivo; ser paulista é até ser um pouquinho hipócrita, negar alguns acontecimentos para manter-se paulista. Talvez esteja transferindo meu perfil psicológico para meu estado, ou talvez me reconhecendo no dele. Paulista é um adjetivo que me qualifica!
Altas Altitudes
Ok, fiz uma declaração de amor para a praia e para São Paulo, mas adorei a paisagem de Itatiaia! Quero conhecer, ver o Rio Paraíba em novas aventuras, subir a montanha!
quarta-feira, setembro 05, 2007
Feriadão!
Meu sábado não vou desperdiçar
Já fiz o meu programa pra esta noite
E já sei por onde começar
Um bom lugar para encontrar, Copacabana
Pra passear a beira mar, Copacabana
Depois um bar, à meia-luz, Copacabana
Eu esperei por essa noite, uma semana
Um bom jantar, depois dançar, Copacabana
Pra se amar, um só lugar, Copacabana
Esse fim de semana promete!!!....rs
quinta-feira, agosto 30, 2007
A Toga e a Faca
Caramba, achei incrível a capa da Folha hoje, dizendo que o Ministro Ricardo Lewandowsky foi flagrado ao telefone falando que o Supremo Tribunal Federal julgou a abertura do processo do mensalão com a faca no pescoço. Ok, vai saber Deus com quem ele estava falando, mas ele é um ministro do Supremo!
Logo depois dessa frase absurda, o ex-ministro José Dirceu, agora réu, pode colocar em suspeição o seu julgamento, começando novamente aquela ladainha da direita golpista que quer derrubar o governo Lula com o apoio da mídia.
Os ministros do Supremo tem cargo vitalício (bem, não é vitalício, porque com 70 anos eles têm que se aposentar, mas eles têm direito a ficar no cargo até os 70 anos) exatamente para não sofrerem pressão alguma. A indicação é política porque é feita pelo presidente, ratificada pelo Senado (pesos e contrapesos, embora na história do Supremo, só 5 indicações foram recusadas, todas no governo Floriano Peixoto, que se cansou e fechou o Senado e indicou quem ele quis).
Ministro, sinta-se a vontade para julgar, até os 70 anos ninguém lhe tira de lá!
A propósito
Fiquei muito curioso pra saber a composição do STF e as indicações. Dos 11 ministros, 6 foram indicados pelo governo Lula, o que, em tese, lhe dá uma boa vantagem.
O engraçado disso tudo é que geralmente um governo progressista indica ministros progressistas, um governo conservador, indica conservadores. O governo Lula indicou para todos os gostos, até vai indicar o ministro Carlos Alberto Direito, hiper católico (conforme os jornais anunciaram) que se põe contra o aborto, sendo que já havia indicado Carmem Lúcia, a favor. Perde-se mais uma chance de dar um perfil liberal para o Supremo.
Uma casa progressista?
Domingo retrasado o ministro Marco Aurélio de Mello escreveu um artigo fantástico na Folha sobre a união civil homossexual. Não lembro detalhes, mas falava que se o poder público não a reconhece, o dia a dia a reconhece, e as instituições acabam por aceitá-las. Entendi mais ou menos o seguinte, se não tem a lei, existe o fato, e o fato por si só, já pode ser objeto dos tribunais. Aliás, isso tem acontecido bastante.
A composição do STF
Ellen Gracie – Indicação Fernando Henrique Cardoso (2000)
Gilmar Mendes – Indicação Fernando Henrique Cardoso (2002)
Sepúlveda Pertence – Indicação José Sarney (1989)
Celso de Mello – Indicação José Sarney (1989)
Marco Aurélio de Mello – Indicação Fernando Collor de Mello (1990)
Cezar Peluzo – Indicação Lula (2003)
Carlos Britto – Indicação Lula (2003)
Joaquim Barbosa – Indicação Lula (2003)
Eros Grau – Indicação Lula (2004)
Ricardo Lewandowsky – Indicação Lula (2006)
Carmem Lúcia – Indicação Lula (2006)
segunda-feira, agosto 27, 2007
Hoje é dia de Sade!
Depois de dias com essa música na cabeça, eis que encontro um clipe no youtube! Ela é mais yuppie que eu pensava. Adorei. Queria tanto ter vivido nesta época!
Yuppie
Olha o que a Wikipedia diz sobre os yuppies:
Yuppies (young urban professionals, or less commonly young upwardly-mobile professionals) is a market segment whose consumers are characterized as self-reliant, financially secure individualists who do not exhibit or aspire to traditional American values Since the late 1980s, the phrase affluent professionals has been used as a synonym, stripped of negative associations with the once-homogenous market
Questão redundante, mas eu acho que foi o Reagan que fez os yuppies, não o contrário. De uma certa maneira, ele livrou-nos da caretice do Nixon, e do bom-mocismo do Carter. Acho que culturalmente, esse tudo-pelo-sucesso foi ótimo! (O resto, bem, o resto...)
Nada mais yuppie do que chegar no escritório, olhar para seus companheiros, inspirar o ar e dizer em tom cínico: Olá perdedores, tudo bem?
Eu preciso falar inglês!
Estou numa fase altamente americanófila, praticamente o mesmo sentimento que tive pela Argentina antes de conhecer. Estou fascinado por um livro (que é de um inglês, mas que fala de um americano), O Americano Tranqüilo. O Grande Gatsby está na lista! Quem sabe agora eu não tomo coragem e aprendo esta língua de uma vez??
sábado, agosto 18, 2007
São José dos Campos, ano III
No dia 17 de agosto de 2005 mudei-me para São José dos Campos para trabalhar na Cebrace. É incrivelmente estranho pensar que vivo numa cidade há dois anos e que ainda não a considero minha. Tenho uma relação de oposto com SJC, hora a amo, hora a odeio, com grandes períodos de indiferença.
Acho incrível a dialética entre cidade moderna x cidade operária. Adoro o banhado, o entorno, o pôr-do-sol, os parques, a Rua 7 de setembro, Santana, o Rio Paraíba, o Taco Loco e o Petroni. Realmente, talvez o Taco Loco seja o lugar que eu me sinta melhor em São José dos Campos depois do meu apartamento. Tenho uma intolerância crescente com a Avenida Andrômeda, o Aquários e tudo que eles representam, o elitismo pobre, cafona, caipira, uma massa reacionária, sua gente e seus automóveis, suas baladas que bombam quando são universitárias e tocam pop-rock nacional.
Estes dois anos de São José foram determinantes para explicar minha total má vontade com Jota Quest e bandas do tal pop-rock nacional!
Por outro lado, caminhar no banhado, pelo centro, traz São José dos Campos de volta ao mundo das cidades, com gente de tudo quanto é jeito, uma contradição, lojas ricas, lojas pobres. Dá até pra tomar uma cerveja caminhando por lá! Acho uma experiência incrível ir à cidade em dia de sábado. São José dos Campos tem um biblioteca linda que a juventude dourada joseense (dourada para os padrões joseenses, proletária para os padrões campineiros) nunca vai ver!
Estou transferindo meu título de eleitor pra cá, quero fazer parte um pouco mais desta cidade.
Existe maioria ou minoria silenciosa
Acho engraçado acompanhar a repercussão do Cansei pela internet. Existe uma má vontade tremenda com este movimento e até entendo as causas. Pela primeira vez na história deste país pessoas que nunca reclamaram de nada estão reclamando de alguma coisa. Pode até ser que neste ponto o Lula seja original, afinal representantes da famigerada elite, que ninguém sabe o que é, foram para as ruas e se cansaram de algumas coisas muito difusas, motivadas pela inoperância do governo em relação à crise aérea (onze meses entre duas tragédias e total inoperância do ministro Waldir Pires que era mantido no cargo por considerações pessoais ou por não ter quem pôr no seu lugar). Reclamar da crise aérea já é por si só um ato de elite, mas reverberado pela televisão, deu um ar de que o país estava parado.
Todos os artigos que leio nos jornais, indicam que são poucas estas pessoas, não reuniram nem 3000 pessoas no seu ato principal na praça da Sé. Tive a oportunidade de ver uma manifestação do Cansei na Paulista e realmente foi desolador de pelas poucas pessoas. No entanto, todo mundo com quem eu convivo (tirando meus amigos paulistanos) está completamente de acordo com o movimento, e são até mais radicais; para mim, apresentam uma intolerância completa com o presidente Lula e o PT. Aí reside minha dúvida, não somos lá um povo do protesto, somos o povo da boquinha, que se contenta com a bolsa-família, com a fraude no imposto de renda, com furar a fila. Será que estas poucas pessoas que se cansaram não representam uma grande massa de pessoas? Será que isso tudo não vai aumentar um conflito rico x pobre, norte x sul, que tanto o movimento sugere, como o presidente estimula?
Não tenho admiração nenhuma pelo movimento, falta-lhe foco. No entanto, cada país tem o Chavez que merece e a Fedecamaras que merece também. Oxalá os nossos não se radicalizem. Não acho que podemos virar Venezuela, mas existem tão poucos políticos nossos voltados que defenderiam nossa jovem democracia... (exceto o FHC, e aí você podem me criticar, mas eu acredito nisso sim!)
Surrealidade de sábado de manhã
Manchete no UOL
“Fiéis fazem "dança do siri" para evitar imagens de casal da Renascer”
Imagine a cena, um monte de evangélicos, à la bispa Sônia, fazendo a dança do siri, somente para a Rede Globo não os filmarem. Lembrei-me dos crentes do Borat!
quarta-feira, agosto 15, 2007
Jacareí, Senegal
Body Heat
Que calor faz nesta cidade! Dentro e fora da sala. Como em Corpos Ardentes, o calor influencia: discussões acaloradas, egos a flor da pele. Primeira etapa do projeto entregue, pressões para todos, preguiça incrustada, comportamento condicionado pelo café, pelo cigarrinho e pelas notícias do uol.
Cheiro de humanidade na sala. Auge do calor. Três e meia da tarde chega a hora da reunião marcada fora da fábrica. Comemoração do nada. Fomos todos jogar boliche. Cerveja, cigarros, conversas. Os de fora flertando, os mais velhos se defendendo, os competitivos competindo e os low profile de bicho. Tarde deliciosa
Labirinto
Acho que a sensação de calor aumenta em Jacareí pelo fato de ser uma cidade confusa. Cidade de vale, plana, o Paraíba serpenteia cortando toda a cidade, as ruas são uma confusão. Trânsito, multidão, todas as ruas são estreitas e contramão. A temperatura sobe. Fumaça de fábrica e de caminhão. Que calor!
INXS
A trilha sonora para calor é INXS. É o calor ideal, sexy, calor do Recife.
Eu nunca vou ser gerente!
Incrível. Ganhei um estagiário para me ajudar num trabalho. Trabalho pontual. Não consigo trabalhar com outra pessoa! Acabei aprendendo com ele umas funções de SQL e agora estou fazendo pesquisas em querys por mim mesmo.
Adoro ser peão, trabalhar todas as etapas do meu raciocínio. Delegar o que eu não sei, ou o que é rotina. Gosto de pensar, pensar do meu jeito, confuso. Até explicar o que eu estou pensando, já resolvi!
7 de setembro
Roteiro: sair de São José dos Campos e ir ao Rio de Janeiro pela praia. Parando em Paraty. To precisando de estrada e uma boa trilha sonora!
segunda-feira, agosto 13, 2007
5+ Livros
Tava fuçando no blog do Fernando e achei a idéia irresistível. Listar os 5 livros que mais me marcaram, na verdade nem vou pôr os que eu mais gostei, mas sim os 5 que tiveram alguma influência sobre mim:
Gente como a Gente (Ordinary People) – Judtih Guest
O livro conta a história de Conrad, que velejando junto com o irmão mais velho sofre um acidente que acaba causando a morte de seu irmão. Após um conflito interno ele tenta o suicídio. Depois da recuperação, volta para a casa onde enfrenta um conflito com sua mãe que é magnificamente contado através de passagens inesquecíveis. No fim, o livro cobre todo o processo de terapia de Conrad, onde este trata a questão da culpa, do sentimento de inferioridade em relação ao irmão morto. Crescer é transformar-se, abandonar alguns preceitos. Acho que o livro é sobre crescer.
Se eu pudesse dar uma trilha sonora para o livro seria Simon & Garfunkel. Acho o livro paradigmático, um tiro no peito da família a la Anos Incríveis que habitava a minha fantasia da família norte-americana. Sem contar que eu o li na minha transição Colégio-Unicamp.
Quarup – Antônio Callado
Também considero um livro sobre transformação, crescimento. Um jovem seminarista, amigo de um casal que se envolve na luta armada, se transcende no amigo revolucionário. Em alguns momentos se tem a sensação que esta transcendência se dá na própria imagem do Cristo. Nesta revolução interna experimenta um mundo em transformação. É fantástica a aproximação com o sexo e com o amor, que também não deixa de ser uma experiência transcendental.
Embora não o tenha lido muitas vezes como os outros, para mim, foi um dos mais prazerosos. É incrível como a gente acaba se influenciando por essas histórias. Até hoje, ainda lembro situações deste livro. Talvez foi a melhor influência de um grande amigo que eu tive na faculdade.
Suave é a noite (Tender is the night) – F. Scott Fitzgerald
Um jovem médico psiquiatra se casa com uma milionária doente, tendo como cenário a Riviera Francesa. Que imagem dos anos 20! Um savoir-vivre fantátisco. As aventuras destes exilados americanos milionários numa Europa sem tanto pudor. O mais incrível é que Dick Diver após uma experiência de bon vivant acaba retornando a seus valores ancestrais, de jovem pobre filho de pastor. Acho o envelhecimento deste personagem meio dialético, talvez ele prenunciasse o final da Era do Jazz, a grande depressão.
Tem uma passagem que eu sempre lembro. Dick afirma que mais vale uma camisa meio suja que mal passada. Lembro sempre disso porque minhas camisas são limpas, mas são muito mal passadas. Foi o primeiro livro da temporada joseense.
O Primo Basílio – Eça de Queirós
Fantástico. Que livro interessante. Um ótimo retrato de uma burguesia que embora distante habita em mim. Acho feminista na medida que mostra o quão perigoso é essa atmosfera idiotizante em que puseram Luisa. Não acho esse livro pessimista. Basílios e Jorges sempre haverá, infelizmente Luisas voltaram a ser de moda... Por fim, acho fantástico o desgaste de Luisa, o sofrimento de Jorge. E como toda aquela sociedade, que embora parecesse sólida, era permeável aos seus próprios valores.
Poucos povos experimentaram o regicidio, Portugal foi um deles. Acho que se pegarmos Os Maias, O Primo Basílio e A Relíquia; dá pra entender o fim trágico da monarquia portuguesa.
Vidas Secas – Graciliano Ramos
Não me lembro de outro livro em que eu chorei. Chorei com a morte da cachorrinha Baleia. Chorei com a pobreza.
Que história fascinante, arrepio-me de lembrar. Todo mundo tem que ler este livro. Traz em si uma angústia, uma depressão. Um retrato de uma pobreza que embora não seja nossa vizinha, é real, acontece, e sabemos que acontece. Parece um encontro com alguns valores, sem ser moralista. Graças a esse livro, acabei lendo Graciliano Ramos de batelada.
OBS.
1 – Só pus ficção. Acho que a beleza das grandes sabedorias está nas metáforas.
2 – De maneira nenhuma sou anti-americanista. F. Scott Fitzgerald e Ernest Hemingway me deixaram com muita vontade de conhecer os Estados Unidos. Por eles, construí uma ilusão fantástica deste país, que deve ser tão contraditório como o nosso, mas com um senso de modernidade que me fascina.
terça-feira, agosto 07, 2007
À Heleninha
terça-feira, julho 31, 2007
Sessão da Tarde à noite!
Minha vida de Antoine
Todo mundo precisa de uma sessão da tarde. Hoje, diante de uma situação extrema, impedido pelo trabalho de ter minha sessão da tarde à tarde, resolvi fazer uma sessão da tarde à noite. A princípio seria depois do Jornal Nacional. No entanto, eu estava vendo as notícias e elas me pareciam velhas. Adiantei o horário e às 8:30 entrou no ar, aqui no apartamento 801 a sessão da tarde.
Comida na mão, edredon no colo, telefones afastados, volume ajustado (não tenho nenhum controle remoto, exceto o do dvd que é a coisa mais moderna dentro desta casa). Assisti a um filme incrível, leve, engraçado, inteligente, uma ótima sessão da tarde.
O filme foi Beijos Roubados (Baisers volés). Uma história fantástica. Só nos extras fui saber que era parte de uma seqüência de filmes com um personagem que é o alter ego de Truffaut; Caramba, me identifiquei demais com Antoine, ele é meio confuso, incompetente, inseguro, não adaptado ao trabalho, e com todas estas coisas ruins que descrevi dele, ao mesmo tempo ele é totalmente humano. Indulgência aos comportamentos humanos!
Por pouco, ao fim do filme, não comprei no Submarino Domicilio Conjugal. Resolvi esperar que o filme chegue na locadora.
Moral da História
Adoro filmes sem moral da história. No entanto, a moral da história é que para que alguma coisa seja boa não precisa vir acompanhada de uma profundidade obscura.
A segunda conclusão é que graças a Deus minha terapeuta volta de férias amanhã e eu pretendo viver numa sessão da tarde!
sexta-feira, julho 27, 2007
Hoje acordei meio Revolucionário!
Recursos Hídricos
Diante do marasmo do trabalho, do marasmo da novela das 8, do frio, de acompanhar o Hugo indo e vindo de concursos públicos; tomei uma decisão radical: vou prestar um concurso! O que me chamou a atenção foi um concurso para a Empresa de Pesquisa Energética. Há um cadastro de reserva para Analista de Pesquisa Energética Junior – Meio Ambiente/Recursos Hídricos cujo conteúdo da prova é exatamente as matérias que eu mais gostei na faculdade!
Ok, o salário é menor, a vaga é no Rio, e pra piorar é um cadastro de reserva, não existe garantia de vaga. Mas o simples de fato de me inscrever e começar a estudar me deu um ânimo tão grande que não consigo mais dormir sem olhar algum manual de estudo energético. Meus livros e apostilas estão em Jundiaí, só vou buscá-los no próximo fim-de-semana, no entanto, o pouco material que tenho aqui já me satisfaz bastante.
Talvez seja a maior contradição do mundo uma pessoa tão esquecida, tão descontrolada como eu gostar de planejamento, mas como eu gosto desta coisa de planejar estudo, controlar dados, verificar, séries históricas, modelos. Nunca vou esquecer um curso que fiz de Estudos de Enchentes onde manejamos uma montanha de dados para conseguir um simples dado de vazão máxima (aliás, um dos tópicos da prova).
Sendo assim, redescobri um prazer que estava a muito tempo adormecido, estudar. Não sei se vou passar, sou péssimo de memorização e não trabalho sob pressão, mas o fato de estar num rumo, já está me fazendo bem!
Non ducor, duco!
Pra quem já utilizou “não sou eu quem me navego, quem me navega é o mar” para preencher o quadrinho de “quem sou eu” no orkut; colocar algo como “non ducor, duco” é um grande passo. Acho que cansei um pouco de ser conduzido, preciso conduzir um pouco.
Um parêntesis
Engraçado, mas todas essas leis de regulação são assinadas pelo Fernando Henrique Cardoso. Talvez corrobore a minha tese que ele regulamentou o Estado Brasileiro. Talvez pela formação de engenheiro, talvez pelo tecnicismo, não consigo vê-las como leis autoritárias (estou falando aqui da Lei do Plano Nacional de Recursos Hídricos), consigo ver o tal dos interesses difusos coletivos e individuais representados dentro dos órgãos do Sistema Nacional de Recursos Hídricos pelas organizações civis. Talvez, essas organizações sejam muito técnicas e pouco populares. Mas a ação política (regulada pelas diretrizes do SNRH) cabe ao poder executivo, eleito pela maioria da população. As organizações como tais, representantes do interesses difusos coletivos e o Ministério Público, podem contrabalancear a ação do poder executivo.
No entanto, me peguei pensando agora, será que o movimento dos desalojados pelas barragens faz parte do conselho? Se não, cabe ao Ministério Público representá-los. Assim eu espero! Para não acabar com minha crença na lei!
Lei Trípoli
Talvez por ignorância, quando estava fazendo o parêntesis acima lembrei-me da Lei Trípoli que todo mundo fala muito mal, que a chamavam fascista, mas que achei a Lei interessante, plural e democrática a ponto de quase votar no Ricardo Trípoli nestas eleições. Ok, depois descobri outras pressões da SMA sobre alguns licenciamentos que acabaram com a mágica, mas acho que quando a lei é boa, já é um começo.
Queria ser um interesse difuso coletivo!
Adoro esse termo. Me lembra Emília Rutkowsky (a professora mais picareta que já conheci), Alain Tourine, lembra Lei Trípoli, Resíduos, Ciesp. Estava numa fase tão boa da minha vida quando fiz Ecologia! Apaixonei-me pelo Gabeira (principalmente depois de ler O Crepúsculo do Macho), conheci Cidades Invisíveis, comi muito no Gatti. Depois de tudo isso fui pra Argentina. Não que a Emília tenha feito alguma diferença nisso tudo, mas foi um símbolo!
quarta-feira, julho 25, 2007
E agora?
E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?
Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?
(...)
Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, para onde?
Relaxa José! (by Maurício)
Contribuição para um dia de trabalho!
segunda-feira, julho 23, 2007
Uma visão política
No entanto, a própria lógica do capitalismo fez surgir novas diferenciações além da dicotomia capital x trabalho. Nesta lógica de diferenciação, surgiram outros interesses, que mais do que um problema da burguesia, atravessam a sociedade como um todo, como as questões de gênero, de raça, da ecologia; que também devem ser equilibradas dentro de uma concepção de Estado.
Acredito então que um Estado social democrata poderia ser uma espécie de indutor de um Estado revolucionário, a partir da experiência única de dar voz a outros participantes da nossa sociedade capitalista.
Desta forma um Estado social democrata deveria equilibrar entre as duas tendências, capital e trabalho, ora não restringindo a lógica do capital, ora preservando e estimulando o trabalho assalariado, da mesma forma que desse eco a todos os interesses difusos da sociedade moderna, que diferenciou-se muito além do capital e do trabalho, permitindo assim a acomodação das discussões sobre gênero, raça e ecologia.
Na busca deste equilíbrio, a construção da social democracia passa necessariamente na construção da democracia, garantindo a todos os atores sua representação, não só de forma parlamentar, mas também como democracia direta e participação na administração dos equipamentos do Estado. Neste contexto, formas como as plenárias setoriais (da Saúde, da Educação, da Assistência Social, do Orçamento Participativo) com sua representação plural do Estado, sindicatos patronais e de trabalhadores, além da própria sociedade; bem como formas de democracia direta, com plebiscitos e referendos; seria uma forma de conseguir estimular a participação de todos os interesses difusos da sociedade e ser um contrapeso a lógica do capital.
Existe aqui o problema da ideologia, uma vez que a própria base individual da sociedade é mais um ponto a favor para que o Capital seja privilegiado nesta balança de interesses. Acredito, porém, que o próprio surgimento de questões que atravessam todas as classes sociais, podem fazer surgir uma quebra na estrutura ideológica do capitalismo, do indivíduo, da eficiência, fazendo necessária uma abordagem coletiva destes problemas. Um exemplo que eu acho fantástico destas abordagens foi a recente entrega de título de propriedade a duas lésbicas num assentamento de reforma agrária. Um problema de uma minoria sexual associado com um problema estrutural de classe.
Mas para que o Estado seja capaz de absorver essas atribuições, cabe a ele se fundamentar como Estado, estimular assim a dominação legal, desestimulando as outras formas de dominação, como o carisma e a tradição. Não necessariamente com a construção de uma burocracia que seja uma elite, mas sim com uma burocracia que seja capaz de reproduzir em ações as ações necessárias para reproduzir a necessidade dos interesses difusos.
Portanto meu Estado ideal é um Estado participativo que consegue representar todos os interesses de todas as pessoas que o compõe, mas que ao mesmo tempo em que seja permeável, e que dê o peso a todos, seja um Estado que consiga se impor como tal.
E o governo FHC??
Bem, embora o lado trabalho tenha sido bem prejudicado em relação ao capital (aumento da informalidade, desprestígio dos funcionários públicos), me agrada a idéia de algumas regras para ação do Estado. Acho que o Estado brasileiro é muito mais formal, com instrumentos para ação hoje, que em 1994. Cabe aí, talvez com a possibilidade de olharmos pela lupa, a Lei de Responsabilidade Fiscal, mas também o Estatuto das Cidades, a criação das Agências, onde o estatal se dissolve no público.
Privatização
Não acho esse assunto tão relevante. Mas entre uma casta que usufrua da estatal e uma empresa regulada por uma agência que funcione, prefiro a segunda.
Universidade Pública
Neste ponto eu acho que estou muito mais próximo da União Cívica Radical do que qualquer outro partido. Acredito realmente que a educação deve ser pública e laica, em todos os níveis. Acho que somente sobre a tutela do Estado pode-se criar uma consciência democrática. Para mim, a questão da universidade pública aqui, deve ter uma solução argentina. Deveríamos simplesmente abrir a universidade a todos. Ela sim é uma porta para inclusão, para a formação de uma consciência crítica da sociedade, e para criar quadros para a burocracia necessária para este Estado operacional. Mas não vai cair a qualidade? Bem, que pensemos soluções, não problemas!
Fim de uma era?
Acho que tanto o governo Lula quanto o Alckmin (e sua origem, Quércia) representam um retrocesso numa tentativa de sistematizar o Estado. Invocam muito mais o carisma, investem contra o parlamento. Para mim, ambos tem uma visão desenvolvimentista que é próxima ao Malufismo, com a vantagem para Lula, que está expandindo a universidade pública e com as bolsas-família que para o bem ou para o mal estão fazendo um papel de inclusão.
Eleições 2008
Não tenho idéia em quem vou votar ano que vem, não tenho nem idéia de onde vou votar na próxima eleição. Embora tenha feito uma ode ao tucanato, não penso em votar no PSDB por não me sentir representado. Emanuel Fernandes? Ary Fossen? Está faltando um pouco mais de José Serra neste partido. É bem provável que vote no PV, repetindo meu voto em 2004. Voto sem base popular, com pouca chance de vitória.
domingo, julho 15, 2007
Eu e o Romantismo
Acho que sempre quis ser identificado numa tribo. Talvez o fato de me reinventar muitas vezes, rompendo alguns destinos já bem traçados dos meus grupos anteriores, fez com que eu idealizasse as pessoas que se intitulavam punks, esportistas, comunistas, esquerdistas, hippies, diretoria e outros.
O mais próximo de um adjetivo que pudesse me completar talvez seja Romântico. Um Romântico até não muito romântico, mas ainda sim um Romântico. Numa viagem da Luísa ela achou essa definição e sempre que eu vejo grupos em ação, lembro-me dela.
Claro que as definições são limitadoras e que um indivíduo não é assim tão limitado como a própria definição. Mas existem categorias que acabam se encaixando tanto nos pensamentos e palavras, atos e omissões. Moderno, Romântico, não que não possa ser alguma coisa disso tudo, mas que talvez reaja de uma maneira muito mais Romântica.
Estou falando aqui daquele Romantismo da valorização do sentimento, das emoções, da interpretação subjetiva da realidade, que quando a realidade não o segue na sua interpretação subjetiva foge. E aí ele foge para uma sociedade ideal, para um mundo distante, para infância, para o amor ideal (graças a Deus eu fujo da fuga pela morte!).
Como não chamar Romântico alguém que foi a Buenos Aires e encontrou nesta cidade a mesma cidade que Gardel cantava? Ou que escuta Amália Rodrigues quando decide sofrer?
Acredito que o Serra é o nosso De Gaulle. Imagino o tipo-ideal de mulher brasileira como a Marina. Acho que o parlamento é formado por grandes políticos como o Gabeira, a Erundina, que ficam em segundo plano por poucos picaretas. Defendo o aborto como quem defende a modernidade. Vejo o mundo com olhos de Aurélia, e em sociedade tento ser Fernando Seixas. Quando perco o ônibus lembro de Cinco Minutos. Acredito até em social democracia como maior conquista de uma bourgeoise da qual me imagino filho e da qual não me sinto parte.
Neste cenário, como não tomar um drink em São Paulo com Maurice para esquecer destas contradições? Como não ir a Campinas para comemorar um aniversário com o Hugo? Como não conversar sobre cidades com o James? Oras. É fuga, é Romântica e me é comum!
Até na crítica eu me sinto representado. Luísa, Madame Bovary, Conselheiro Acácio, Carlos Eduardo da Maia. Todos eles me representam tão bem como Lucíola, Eurico, Eugênio, Simão Botelho.
Oxalá essa história de o indivíduo refazer por si só todos os passos da sua civilização seja verdadeiro e que eu chegue ainda antes dos 30 no Realismo, de maneira e me manter um pouco mais sereno e não odiar tanto a segunda-feira por lembrar que tenho que voltar a trabalhar.
quarta-feira, julho 11, 2007
Sindicalização, sim ou não?
Quatro vezes por ano eu tenho que fazer incríveis discursos por uma postura que até o momento, acredito eu, seja uma postura ideológica.
A questão é a seguinte: além da contribuição compulsória sindical que nos toma um dia dos nossos salários todo mês de março, o sindicato dos vidreiros cobra dos seus filiados uma contribuição mensal de alguns caraminguás (que não são lá tão caraminguás assim). Para que você não pague os tais caraminguás você deve entregar quatro cartas durante o ano denunciando a convenção coletiva do sindicato (caso contrário lhe tungam mais 1 dia do seu trabalho).
Na minha opinião, a questão é muito simples e de foro íntimo, no entanto... Se não fosse uma lei fascista baseada numa lei do Mussolini que obriga todos os trabalhadores a ser sindicalizado baseado numa distribuição de classes e lugares (por exemplo, Sindicato dos Vidreiros do Vale do Paraíba), todos estariam fora do sindicato e se sindicalizariam voluntariamente. No entanto, a lei subverte a voluntariedade do ato e obriga os que não querem, a escrever cartas ao sindicato sinalizando sua vontade de não ser sindicalizado.
Aí vem a palhaçada. Hoje e amanhã são os dias de entregarem as tais cartas no sindicato. Cria-se uma celeuma absurda em torno da ida ao sindicato. A fábrica, vestida em pele de cordeiro, estimula (em segredo, de uma maneira não muito discreta, diga-se de passagem) que os funcionários entreguem as malditas cartas. Grupos se reúnem para almoçarem fora e passar no sindicato. A vida floresce no escritório. Esquemas de carona se armam. A grande maioria entrega as cartas.
Como o mané aqui decidiu ser sindicalizado, diz a lenda que eu sou o único do escritório, tenho que defender a minha opinião sobre essa questão, lembrando que a campanha salarial começa exatamente agora, que nossa database é dezembro, e que, querendo ou não, pouco ou não, nosso dissídio é maior que a inflação todos os anos, que para mim é uma mostra de uma boa atuação sindical. Além do mais, como a entrega é um evento social, a não-entrega se torna um ato sui generis. Alegar que você é sindicalizado é quase que afirmar que você é um alcoólatra.
Essas discussões me desgastam. Meus incríveis colegas olham para mim como se eu fosse um idiota que está dando dinheiro pro sindicato. Os mais antigos me olham como se eu fosse subversivo. No dia das cartas almoço sozinho!
Enfim, sou sindicalizado, acho interessante um contraponto ao poder da empresa, acredito que este é um bom meio de negociação, e principalmente que o escritório é um lugar onde as máscaras são muito fortes. Pago, e ultimamente tenho orgulho de pagar.
segunda-feira, julho 02, 2007
Roadtrip com o Rei
Confesso que minha admiração pelo Roberto Carlos é um pouco démodé, afinal ele é um símbolo da geração dos meus pais. No entanto ele cantou uma das épocas mais intensas da nossa civilização, suas músicas estão relacionadas com a revolução sexual, as mulheres das canções do Roberto Carlos são modernas, liberadas; também cantou o divórcio e outras transformações mais como o movimento ecologista, o movimento hippie.
Ok, pode aparecer até um pouco reacionário por suas voltas às origens que volta e meia apareciam em seu disco, ou até pela religiosidade. Mas nos anos 70 sua religiosidade não era carola, e até as canções de regresso, como O Portão ou Debaixo dos caracóis dos seus cabelos são canções que tem um certo quê moderno, mesmo cantando o regresso.
Aliás, eu realmente não consigo pensar num outro cantor que consiga cantar músicas românticas que cante um amor real, que está acontecendo, sem se tornar baixaria (Wando, Amado Batista, por exemplo), mas que está num limite, um limite até sexy (pensei no Marvin Gaye e no Frank Sinatra, que também caminham por esse limiar). Mesmo suas canções de separação são canções de superação, uma superação não rancorosa nem tampouco brega no estilo “ela me deixou e agora eu canto esta canção”.
Fui para casa esse fim de semana ouvindo Roberto Carlos. Interessante isso, quando preciso pensar, o Roberto Carlos me ajuda! Fui ouvindo 1968 – O Inimitável, e voltei escutando o 1971.
É bobo eu sei, mas fiz uma lista com 10 músicas:
Além do Horizonte (1975)
A minha favorita. Amor leve, Romântico com R maiúsculo, a busca de um lugar idílico. Dá vontade de sumir e aproveitar a “vida sem frescura”. Me dá uma paz essa canção!
Seus Botões (1976)
A música de amorzinho mais bonita que eu já ouvi. Aquela história “nos lençóis macios, amantes se dão, travesseiros soltos, roupas pelo chão” é uma descrição interessante. Eu acho bem sexy, aliás.
As canções que você fez para mim (1968)
Uma canção de fim de caso com um argumento interessante, a batida é meio black, a voz dele ainda está meio rock, o que deixa a música bem interessante.
Fé (1978)
Música religiosa, mas não tão focada no catolicismo, nem em culpa nem em arrependimento. É engraçado, mas eu acho que ela define bem Fé. Pelo menos eu sempre lembro da música quando quero relembrar a minha.
Lady Laura (1978)
Talvez seja a mais brega das minhas 10 mais, o clichê está no fato desta busca à mãe, mas não deixa de ser Romântica pela busca da infância como um lugar idílico.
Cama e Mesa (1981)
Passeando no limite da cafonice (se é que já não está, no entanto limiares são percepções muito pessoais). Acho fantástica a relação de sexo e comida, e que a saciedade de uma pode ser substituída pela outra. Sem contar que tem algumas passagens bem amorzinho-gostoso. Mas eu acho que a graça da canção está nesse crescente de frases que culminam num refrão bem legal.
Não serve pra mim (1967 – Em Ritmo de Aventura)
Uma música bem rockzinho, guitarras, tem metais também! E a música é muito chiclete! Descobri essa canção pelo IRA! Mas acho que gostei mais na voz do Roberto Carlos. É meio fossa, mas eu gosto dela.
Não há dinheiro que pague (1968 – O Inimitável)
Meio black essa música! Acho interessante, o tema é romântico, o som é datado, mas é uma canção moderninha.
O Portão (1974)
É um pouquinho reacionária, mas é interessante a volta pra casa relatada.
Amada, Amante (1971)
Amorzinho liberado esse! Um amor sem preconceitos que faz suas próprias leis! O som é datado também, mas a letra é interessante.
Cafonice
Na verdade eu tenho uma teoria sobre a cafonice. Eu acho que cafonice são metáforas e rimas pobres e clichês. O tema não faz uma música cafona, afinal existem músicas maravilhosas sobre temas batidos que graças ao autor se tornam músicas interessantes. Sendo assim, existem algumas músicas do Roberto Carlos que são hiper cafonas porque caem no lugar comum, mas outras, as metáforas são bem interessantes, por isso eu absolvo o Roberto Carlos da condenação geral que a minha geração o olha. Mas, as músicas que eu gosto são todas dos anos 70, talvez o ápice da carreira, amadureceu, cantou os 30 anos das suas fãs e a partir daí deu-se a tragédia.
sexta-feira, junho 29, 2007
O divórcio eu não dou!
Não, não quero a metade de nada.
Dá-me toda a terra,
depõe todo o céu!
Os mares, os rios, os riachos nos montes
são meus! Não concordo com partilhas!
Não, vida, não me terás com meias caretas!
Deves-me tudo inteiro!
Só isso me contenta!
A metade da alegria eu não quero,
e nem da dor quero só a metade!
Mas quero a metade daquela almofada
onde, sob o rosto de leve apoiado,
estrela indefesa, estrela cadente,
na tua mão o anelzinho cintila...